Thursday, December 22, 2016

Ressaca

Quando você tá lá no fundo e os locais arregalam os olhinhos, bufando com um riso assustado que o mar tá grande, sobe logo a adrenalina. As ondas não vinham dando as caras essas últimas semanas e a cidade estava em polvorosa de aburrida, até quem nunca saiu passou a ir para festa por falta do que fazer. Ontem finalmente entrou o tal swell que veio mais para muralha quebra-coco e hoje acordei cedo com assovio na janela, "hay olas!" It turns out que era tudo cerrona de novo, umas paredes monstras de oceano verde e espuma branca. Buscamos de moto ondas possíveis, e frente a desistência alheia, acabei tomando coragem e entrando sozinha aqui na frente de casa. Quatro locais, dois argentinos e um italiano em uma cidade onde mais de cem surfistas esperam ter onda - o mar não estava para peixe. Entrei esperando não descer nenhuma, só para estar lá dentro com ondas grandes enfrentando o tal do cuidado e coragem que tatuei nas costelas. Entrei e vi o mar mover em montanhas, correntes quentes de um mundo marinho em constante movimento, eu mergulhava encosta adentro até o chão de areia e sentia corrente pentear o cabelo. Eventualmente tomei coragem e resolvi me jogar. No segundo wipe out meu madeirite bateu forte bem na minha têmpora e voltei à tona tonta e sem fôlego mas mesmo assim resolvi que ainda aguentava mais. A terceira onda foi mais gentil e me deu tempo de planar na sua curva, sentir o vento, ver a vista e até fazer meu spin, rolo, sei lá o nome desse meu vício em girar uma, duas, três vezes onda abaixo, mas foi só um mesmo e ela já veio fechando, forçando a saída pela culatra. Duas horas, cinco ondas, das quais quatro dropei parede verde só para ser arremessada abismo abaixo e massacrada espuma adentro. Hoje enfrentei medo controlando a respiração, tive calma, frieza e preparo mesmo assustada. Já estava me sentindo toda cheia de si, quando peguei o que seria minha última onda e, ao tentar voltar para o outside fui mastigada por um set gigante e infinito explodindo a poucos metros da minha cabeça sem nunca me deixar furar a onda antes da espuma quebrar. Na sexta onda que precisei baixar até o chão de areia para não ser engolida, já não tinha mais ar e enquanto assistia a próxima gigante por vir, minha cabeça começou a estourar de dor de tanto chacoalho e pressão. Considerei pela primeira vez em muito tempo que se o set não terminasse nos próximos segundos estava de fato tudo à beira de dar ruim. Aceitei então que não tinha como voltar para o line up e nadei com a corrente humildemente de volta para o raso fazendo uso do último fôlego que me sobrava - toquei meus pés no chão quando já perdia a esperança. Sai do mar com coração que nem tambor e olhei para ele mais uma vez consciente e impactada pela força da natureza. Fiquei ali quieta agradecendo o regalo e o recado bem dado.
Obrigada Yemanjá por me proteger e me trazer de volta para casa com um saldo só de um galo e uma enxaqueca de matar. Prometo ser menos ousada da próxima vez. 

Saturday, November 26, 2016

Irmãos

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Cresci com dois irmãos e uma cambada de amigos. Lembro do futebol sem blusa no recreio, do corre corre com o bang-bang entre mocinhos e bandidos, do marco polo e a explosão na piscina para escapar do amigo tubarão, lembro da gente fingindo que banco de madeira era helicóptero e escapando de vilão dentre céu azul e nuvens densas na sala lá do quinto andar. E teve a delinquência também, teve bastante, lembro dos copos de vidro jogados da janela só para ver eles estourarem no teto lá embaixo, e de separar briga de menino com mordida de deixar marca, e causar muita briga também com o Bruno e Fabio porque eu era pentelha para cacete e vez em quando eles perdiam a paciência. Eu implorava para brincar a brincadeira deles, para assistir os mesmos filmes, para me trancar junto no quarto e ouvir Jimmy Hendrix, Pink Floyd e Janis Joplin na virada para os doze anos. E tinha o repertório infinito dos Beatles, the Doors, Raúl Seixas, Novos Baianos e Doces Bárbaros que decorávamos tardes à fora. Tinha uma doce doideira em noites cantadas com nosso bando de adolescentes transviados, meus irmãos no violão, ou na bateria, ou no vocal, alguém no teclado, Sergey na percussão, muitos turnos de amigos e eu lá cantando junto. Lembro de me interessar por tudo que eles gostavam e de ficar revoltada quando era proibida de entrar no quarto fechado, eles se trancavam e saiam de olho puxado, vermelho para caramba, diziam que era um colírio e eu morria de curiosidade, ansiosa para experimentar também. Provei tudo primeiro com eles, músicas, filmes, amizades, madrugadas varadas, delícias gastronômicas improvisadas e macarronadas, festas, shows, drogas, rock & roll, e muita história linda para lembrar. 

Cresci com um pouco dessa identidade masculina, esse esquecimento com a alça do sutiã, com a maneira de sentar, com uma voracidade alimentícia de assustar, com o jeito de pensar em sexo, amor, amizade e uma maneira de encarar o mundo partindo de uma força explosiva de quem pode e precisa aguentar seja o que for. Sinto que como eles, preciso ser forte.


E desde pequena sempre procurei substituí-los em tantas amizades masculinas, em tantos amigos que faço pelo mundo e torno logo irmão de coração num movimento inconsciente de aproximação e cumplicidade. E olho para os meus irmãos, e amigos, e mentores, e homens que trouxe para perto e sinto essa enorme fascinação por uma preciosa caixinha de tesouros que vive por trás da força que tem um homem. Vejo um mundo surpreendente de amor e cuidado e ternura e entrega que, se cativado com delicadeza, se abre em todo um jardim de possibilidades lindas demais de compartilhar.
Acordei hoje feliz em ter meus irmãos de sangue e todos os que escolhi de coração, e saber que em todos meus mundos tenho esses grandes homens pra compartilhar curtição mas também sentimento e emoção. 


Me sinto sortuda por ser tão acolhida nos braços dos meus irmãos.

Thursday, November 24, 2016

Quando Menos é Mais

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Sai da casa de praia deixando umas lágrimas pela varanda mas animada com a mudança de ares. O bangalô, que nunca foi o que meu antigo ego sonhou, acaba que não podia caber melhor nos planos que nem eu sabia que tinha.

Do lado de cá da rua principal tudo é diferente, ouço mais pássaros do que ondas e de manhã acordo com grunhido de macaco e galo cocoricando. Minha casa não tem porta e o banheiro é uma casinha do lado de fora. O pessoal das casas do entorno diz que tem mosquito por aqui, mas nunca fui sangue do bom e me mantenho sem picada para coçar. Hoje à noite chega furacão e deve faltar luz na cidade, tô preparada com minha lanterna e duas velas carcomidas. Fui do ar para o ventilador, da cafeteira para o coador de pano, do pé direito alto para teto de madeira. Tudo é muito mais simples, a cozinha, as paredes, os espaços, os contratos. Tudo condiz com que eu vim me perguntar aqui: Com quanto eu posso viver? Do que eu preciso para ser feliz? 

Descobri que prefiro andar descalça, na chuva principalmente. Minhas unhas esqueceram o que é esmalte e não raro são vistas cheias de terra, aliás como todas as outras mãos do povoado. Gosto de acordar com a primeira luz e só durmo tarde se valer muito a pena - vez em quando mando o report do mar para o grupo e volto direto para cama, mesmo assim o dia já começa cedo. Banho, prefiro ao ar livre, a cama vive cheia de areia e no chão volta e meia passa aranha para lá e para cá, mas o importante mesmo é que não preciso vestir uma calça. Não vejo TV desde setembro apesar de sentir muita falta de assistir filme, não tinha internet pra isso e agora que tenho as vontades são outras. Entrei em um carro duas vezes desde que cheguei, mas de resto o transporte por aqui sempre inclui vento (poeira) na cara, seja bike, moto ou quadriciclo. Meu luxos são comer a comida caseira dos chefs amigos, acordar sem despertador, poder dizer sim para todos os encontros possíveis e silêncios também e ter tempo o bastante para não precisar ter pressa. E o cabelo virou palhoça de novo, o corpo vive massacrado pelo mar e a pele tostada mesmo cheia de protetor, mesmo assim faz tempo que não me sinto tão jovem, tão forte, tão viva.

Tuesday, November 22, 2016

Dois Amantes

Eram dois os amantes, faziam aniversário no mesmo dia, um ano atras do outro, e argentinos, um da cidade grande outro pequena. Tinham também o cabelo raspado e o sorriso tranquilo, frequência de quem sabe amar. Eram dois os amantes e eles sabiam, ficaram amigos depois de tantos esbarros no cafés da manhã às seis, dubbies da tarde e alguns jantares acidentais na minha casa. Coincidência demais tanta presença, tanto carinho, se deram conta e aceitaram. Outro dia tentei explicar, que não tem ciúme nem promessa, não tem plano nem cobrança, tem vontade de compartilhar manhã, tarde, tempo, amizade mais que tudo e às vezes a cama, mal não há. 
Escrevendo agora esse segundo parágrafo, três semanas depois do primeiro, nem tudo são flores. O castelo ruiu.

Friday, November 18, 2016

Amigos Para o Que Der e Vier

Hoje foi um dia difícil, daqueles em que se acorda triste e o choro vai ganhando momentun com o passar dos instantes. Acordei com peito apertado, despreparada para tanta mudança, mas não deu nem meia hora e veio amigo querido com banana, manga e maracujá, ursinhos gummy e hash, até do isqueiro lembrou, ontem foi tudo na base de vela. Já o outro traz um sorriso enorme e um abraço mais apertado ainda, daqueles que têm ouvido que escuta e cabeça que lembra, sabe conversar. E vieram mais dois também, um com mau-humor matinal mas veio, e o outro com a voz rouca de tanto aprontar e cheio de história boa para compartilhar. Me deram abraço, me fizeram carinho, me deixaram chorar, eu fiz vitamina e café e não consegui entrar com eles no mar. Fiquei comigo sozinha, cantando, pensando, me emocionando com o vento e o barulho das ondas e entendendo que isso tudo veio para me virar do avesso e me ensinar a implantar essa frequência, que é antes melhor ainda para mim mesma do que para os demais, essa paz no meu urbano, no meu foco, no meu difícil. Eu vim para aprender. Loco-movida.

Monday, November 14, 2016

A Chegada

Já vi que hoje não vou dormir tão cedo, a lua está cheia, o coração também, e a cabeça cheia de espaços preenchidos e pensamentos transbordantes. De repente o momento acontece, vem lá de longe, outro continente, voa cruzando mares e países e eu aqui com um mundo todo acontecendo que não parou, uma história que continua se transformando, se bifurcando, criando mil troncos e raízes.  
Eu já não sei mais, agora o momento se aproxima tão perto que tudo parece estranho, estrangeiro, como se tivesse sido tudo um sonho, uma fantasia, alucinação, uma criação da minha imaginação, romantismo puro e exagerado, perdido no espaço, e agora a verdade vem a cavalo e bate na cara sem pedir licença, chega de ônibus, carro, moto, não sei ainda, mas chega com hora e data marcada. E no peito muita coisa variou, dispersou, se expandiu para alguns lados, mas não se perdeu, se encontrou em diferentes frequências e algumas sintonias. E agora como comprimo tudo isso num só fecho de luz, um raio saído de um funil que se abrange, se expande, explode em amor e não tem limites nem cercas, não quero muro, quero voo, quero céu, quero amor, quero mar. Ah-mar...

Sunday, November 06, 2016

Destino

Já quis viver muito mais? Viver amor com tudo, com todo, com força e entrega e carinho e cuidado e coragem e respeito e ternura e todo afeto do mundo. Já quis viver um encontro para voar, para sonhar, para abrir todas porteiras e deixar vaca presa pular na grama úmida, amor de rolar na areia onda adentro e ver lua cheia pratear o mar e mergulhar nu nas piscinas rasas de pedras porosas e ver estrelas cadentes em noite limpa e inventar futuro que não importa se dar. Já quis viver amor do tamanho que cabe no peito, amor que inspira, involve e alimenta, que atravessa tormenta e corre montanha, que se joga mar à fundo e voa céu afora. Já sentiu essa vontade de viver tudo tanto com tudo, sem freio, nem pressa, nem plano, só sonho, sonho que vai se realizando e formando história sem formato, sem contrato, pedrinha por pedrinha se faz o caminho. Então corta todas as cercas, arames farpados, derruba portões e porteiras, joga fora as cortinas velhas, sacode a poeira, abre as janelas e deixa a brisa entrar, abre esse peito e mergulha mundo adentro, descobre o tamanho do seu tamanho no tamanho do que pode sentir, deixa vir, deixa estar, desata os amarras e solta os nós que lá vem surpresa. Mas calma, emana teu desejo e fica na tua que o destino vem sem pressa a cavalo.

Saturday, November 05, 2016

Terra de Homens Rústicos

O dia inteiro ouço motos passando. De manhã tem sempre três ou quatro estacionadas aqui na porta. Cada moto vem com um mundo, muitos mundos e pares de pernas, coxas e bundas, vem muito mais, tem muita coisa para cima, são mentes fortes por aqui, hombres rústicos com peitos cheios de sonho e ternura. Eles fazem fogo com lenha molhada, fazem de riacho magro represa com banheira, pescam no arpão e tocam violão. Cada um está no seu auge, seu melhor, como se o contato com tanta natureza trouxesse o eu mais dormido e forte de cada um. Nunca conheci tanta gente boa em um lugar só. Cada história um salto pro mundo, vasto mundo. O dia passa como as ondas do mar, num ir e vir de infinitos.

Saturday, October 29, 2016

O Menino e o Mar

O mar levou o menino. Ele que cresceu nessas águas, que conhecia cada pedra, cada canto, cada entrada e saída, se perdeu em um golpe do destino em meio a maré-baixa e passou a noite com o mar até encontrar seu pouso na praia onde sempre surfava. Foi Justo uma prancha, não a sua, mas uma prancha que veio em voo céu afora de encontro ao seu corpo. O menino afundou e não voltou mais.
Andava por aí com seus olhos puxados sempre brilhando, pele marrom-café da cor dos tubarões que dizem nadar por aqui, sorriso largo cheio de amor, e uma energia branca, limpa, sem o peso da maldade. Semana que vem ele faria dezessete. descansa em paz, menino bom.💫

Friday, October 28, 2016

O Que Vem Depois

Não te disse o bastante quanto fui feliz com você, preciso deixar marcado dentro do seu peito a sua força na minha vida, a importância do nosso encontro e dos tantos momentos incríveis vividos. Só guardo da gente o bom, só guardo de você amor. E foi lindo demais e ainda é e vai ser sempre te ter na minha vida. Nada diminui ou apaga o seu impacto em mim. Obrigada por existir, por cruzar meu caminho, por compartilhar tanto amor, por ser inteiro sempre e maravilhoso como ninguém. Te amo para sempre. Te desejo tudo que você pode sonhar e muito mais. Te guardo para com todo apreço no lugar dos afetos raros. Você é incrível e merece o mundo. Se cuida. E tô aqui sempre que você precisar. 

Monday, October 24, 2016

Desbravadores

Achei que ia ficar mais sozinha mas tá difícil não fazer amigos novos todo dia e mais ainda alimentar as amizades já feitas. Em cidade pequena todos os caminhos levam à encontros, uma passeada de bicicleta, uma ida ao mercado, um almoço por aí, uma tarde no mar, sempre acaba por virar esbarro que vira plano que vira tempo simples junto. Aqui nos encontramos para contemplar e conversar sem muito fru-fru. Imersos na simplicidade de tanto verde e azul, as horas passam assim, em meio ao barulho do mar, histórias contadas, muita risada e quase nenhuma grana gasta. A casa também não ajuda, é meu ponto de encontro comigo mas também com os outros, estacionada maravilhosamente no pico do pico, gera um tráfego constante de passagens para papear e deixar o tempo passar - a varanda tem sol ameno e brisa fresca, a cocina convida quem ama cozinhar, a casa toda tem uma energia solar, e tem as redes também, a churrasqueira, o bosque e seu passarinhos, as árvores dançando com o vento, as iguanas e agora Jasper e Million, dois cachorros com donos viajando, que mais adotaram a casa do que a mim - agora tenho cães de guarda, apesar de um ser um chihuahua. Ganhei o costume de ter sempre a ducha ao ar livre, uma toalha e um café para os amigos que vem direto do mar, tudo o que mais me conforta quando eu venho de lá. Aliás, sou puro conforto ultimamente, me conforto muito e a quem encontro tento também. 
E na medida que as amizades se aprofundam, todas histórias tem um ponto em comum, como um triângulo das Bermudas de viajantes de todos os cantos que querem se jogar em mais mundos do que os mundos do que já tinham antes e cada um busca com gana seu próprio formato. Terra de desbravadores. Queria querer ficar mais sozinha, mas tá sendo tudo tão bom que resolvi parar de querer e deixar ser. Mesmo porque seria um desperdício desencontrar.

Tuesday, October 18, 2016

Hippie

Chove muito desde a madrugada e ainda não sai de casa. Depois do banho na chuva com sabão debaixo da lua cheia ontem, resolvi fazer o inédito aqui e tomar um banho com xampu e tudo de manhã, mesmo sabendo que já já vou mergulhar no mar. Xampu digo o tal de "poo", porque inventei de experimentar cosméticos naturebas e ver no que dá. Então xampu agora é bicarbonato de sódio e condicionador vinagre de maçã diluídos em água, escovar os dentes termina com cúrcuma e óleo de coco para clarear, desodorante é limão em dias de chuva e bicarbonato com óleo de coco em dias de sol, hidratante para pele só óleo de coco mesmo, e hidratação capilar é banho de óleo de rícino com óleo de coco ou às vezes jojoba no cabelo e rosto. Cheiro a óleo de coco e limão. Daqui a pouco viro parte da terra.

Sunday, October 16, 2016

O Esquilo Maligno

A guerra continua, a guerra de um homem só. Na verdade de um esquilo solitário com um quê de psicopatia. Anteontem foi de uma coincidência tão absurda que beirou a ficção (ou a paranoia), quando vi reais traços perversos em um tão singelo roedor. Andando pelo bosque da casa com uma amiga, contava sobre a aparente hostilidade do pequeno animal silvestre e o último incidente do xixi aéreo e arremessos de amêndoa, foi quando começamos a ouvir a movimentação cabeça acima, olhamos para a copa das árvores já estupefatas com o suposto “stalkeamento” e rimos da própria paranoia quando vimos um pássaro preto brincando nos galhos, gargalhamos felizes, bocas escancaradas, abertas ao léu e veio então, como uma punição divina, o maldito jato grosso de mijo em céu azul perfeitamente mirado sobre as nossas cabeças – fechamos as bocas a tempo. Em choque, avistamos o demônio lá no alto já preparando seu segundo recurso de batalha, amêndoas, uma pequena mordida, assinatura do psicopata, e logo um tiro certeiro sobre a gente. Na terceira voltamos às pressas para a varanda coberta, indignadas com tal ousadia. Durante o dia o assunto voltava, ainda em choque com tal desarmonia de convívio. Dormi às oito e acordei às cinco com estampidos vindo de fora, soava como pedras jogadas no telhado da varanda do meu quarto, um estampido pesado e seco na telha de metal. Levantei receosa e abri uma pequena fresta da janela só para me deparar com uma amêndoa mordida rolando telha abaixo. Chucky descobriu onde eu durmo?

Saturday, October 15, 2016

Hay Caca Aquí

"hay caca aquí"💩, yes there is. The first time I stepped on this beach, I saw an American girl with a big dog walking past me, the dog stalled and took a massive shit a few feet away from where my sarong was laying while staring me straight into the eyes with a relieved smile. After it was all said and done, I asked her politely if the dog was hers and told her it had just pooped. She smiled and said "that's how they do it out here", reinforcing that it was a cultural thing. I looked at her puzzled and let her leave without further ado, while I was left with a mix of cultural shock and contempt, but also understanding that I didn't come here to fight for what I believe. I'm tired of fighting. So, si, niña linda, hay caca aquí. 

Monday, October 10, 2016

A Volta

Cheguei na cidade como se eu nunca tivesse saído, os reencontros foram casuais como uma ida ao mercado. O caranguejo continua dormindo na mesma quina do banheiro e o esquilo solitário aqui do bosque deu mais uma clássica mijada direto do alto do pochote sobre a minha cabeça, com direito à três arremessos de amêndoa na minha direção, depois me olhou com descaso - ele já foi mais hospitaleiro. Alimento fruta às iguanas e ração aos cachorros perdidos que aparecem pela tarde, não rego as plantas porque em algum momento chove todo dia. No mais, fiz amigos novos já na minha primeira entrada no mar, meninos locais, pura-vida buena-onda e agora entro na água em bando com eles. Faço um funcional na praia com uma pessoal astral bem cedinho, surfo algumas vezes por dia e dou minha corrida quando a maré permite. Cozinho minha comida ou como casados de pescado por aí nas minhas idas e vindas na bicicleta vermelha. A casa da praia tem sempre música tocando, cheiro de café e fumaça branca, no momento falta água, mas isso é passageiro. Tenho feito tratamentos cosméticos com óleos e frutas e jogado linhaça e chia em tudo que é comida. Daqui a pouco tô dando nome aos macacos.

Wednesday, October 05, 2016

Sozinha

Viajo sozinha por tempo indefinido para uma cidade pacata em um país remoto, fora de temporada, em época de chuva e poucas ondas. Viajo sozinha para uma casa grande e vazia entre praias e montanhas e muitos bichos do mato.
Não tenho data, projeto ou plano. 

Saturday, October 01, 2016

But Now I'm Free

Fiquei olhando para o relógio, no meu trabalho espremo cada minuto para caber mais tempo. Fiquei olhando para relógio de pulso dourado deitado na mesa e pensei que não vou levar ele comigo. Pensei quantas vezes olhei para ele ansiosa, contanto os minutos, exigindo mais segundos do tempo, cobrando pressa para dar conta da demanda, tempo é dinheiro. Aí a música no fundo toca, “but now I’m free”.

Friday, August 26, 2016

Medo

Não se engane, estou morrendo de medo. Mas uma vez, contra tudo e contra todos, me jogo no mundo. Sigo adelante regando coragem em busca de algo que mora em mim e que ainda não sei como acessar sem movimento externo. Sigo com medo mesmo por caminhos indefinidos sem plano a longo prazo. Estou aberta ao presente e para onde isso puder me levar. Não quero objetivo, quero jornada. Me jogo ao léu disposta à tudo, mudar país, mudar língua, mudar cultura, mudar o que for se mostrando necessário, mergulho e mudo junto, é para isso que eu vim. E sei que não é fácil de assistir, dá vontade de julgar, de oprimir ou até descreditar. A minha coragem põe em dúvida muita covardia alheia. Eu me movo mesmo assim, me movo forte pela certeza desse chamado em grito que ouço no peito, é hora de ir de novo, de mergulhar sem fronteiras e descobrir aos poucos para onde leva o caminho. É hora do extraordinário, de não ter controle, de não medir destino, de dar um passo de cada vez, sem pressa de  chegar. É chegada a hora, e eu vou com medo mesmo.
(voa com cuidado, ama com coragem, te libertas para o mar infinito)

Thursday, August 18, 2016

Insatisfeita, Incompleta e Faminta

Vivo uma relação de amor saudável com um homem dedicado e companheiro, moro em um apartamento bonito em um lugar legal e tenho uma carreira sólida construída com muita determinação e amor, me encontro à beira dos quarenta tendo conquistado todos os elementos convencionais para um adulto vivendo na nossa sociedade contemporânea, ainda assim me sinto insatisfeita, incompleta, faminta. Sinto uma angústia enorme dentro do meu peito, como se eu não coubesse nessa realidade, olho para minhas roupas no armário, os gastos específicos no extrato bancário, o ser cool da zona sul, e acho tudo uma bobagem dentro desse meu momento. Troco as cifras por moedas estrangeiras. Não consigo me imaginar aceitando o stress e os temas que me cercam, sento na mesa dos mesmos restaurantes e acho tudo um pouco exagerado, fora de contexto, não acho tanta graça nas festas e noitadas badaladas, acho meio chato ser pop, cool ou in. Acho também a cidade linda, a temperatura amena, as cores do dia mudando deslumbrantes, gosto da minha casa, de comer bem, de conforto, dos meus amigos, do meu trabalho e do meu amor, mas não é o bastante. Ouço o chamado. Quero ter filhos, quero formar família, quero exercer e amar muito meu trabalho, e sinto que para chegar à esse lugar preciso atravessar um deserto de tudo isso. Descobri nos dois meses fora um lado meu mais calmo, mais paciente, suave, generoso, doce, e um bando de coisa legal que me fez mais legal para mim e para os outros. Encontrei uma frequência de pensamento, de resposta, de troca que me permitiu paz na escuta ao outro e a mim mesma. Destrinchei cerne de conceitos muito importantes para mim que não consigo ainda, por inabilidade minha, manter de acordo com tudo que sinto aqui em meio ao urbano. Sinto fome de mundo sem certeza, sem meta e mais caminho, sem ego, sem fama, sem olho por olho e dente por dente, sinto vontade de viver por alguns meses sem objetivo distante, só no presente. Não procuro encontrar o nirvana, também não é assim, mas quero ter agora uma jornada individual por lados meus que nem eu conheço, viagem sem data de volta nem plano à longo prazo, viagem para mergulhar no que o universo me oferecer e ver sem expectativa aonde isso vai dar. Tenho medo sim, bastante até, posso até querer voltar quando chegar, mas me sinto preparada com todas as ferramentas para encarar o que não sei com destreza. Estou pronta. E peço perdão pela quebra de quórum, perdão à tudo e todos que esperavam de mim outra coisa. Sinto mais do que nunca que serei sempre um humano muito feliz, cheia de entusiasmo para vida, mas também extremamente descontente, sempre atormentada com minhas questões filosóficas sobre quem sou e o que eu vim fazer aqui, como quero viver essa meu curto tempo na terra, quantos mundos cabem em mim? Vivo em ciclos, mudo de cidades, países e mundos internos, conquistando metas a longo prazo com compromisso e amor em cada lugar que escolho, mas sinto claramente o início, meio e fim desses ciclos eventualmente e a necessidade de começar outros. Será que inteligência emocional é saber fechar os ciclos com gentileza quando eles se findam e não estendê-los até uma quebra traumática. To tentando chegar lá. Tenho fome de experiências diversas, de culturas outras, de pessoas que pensem, falem, sintam diferente de mim. Quero agora mais do que nunca ter liberdade de viver sem controle do futuro, em outras cultura, outra língua, outro céu e mar, para que antes de me entregar ao ciclo dos filhos eu possa mergulhar de peito aberto e cabeça livre nesse ciclone que gira em meu peito.

Wednesday, August 17, 2016

Tenistas e Coronéis

Sair do Leblon me privou das conversas acidentais com meu grupo de coroas favoritos, digo conversa deles porque eu fico só de ouvinte na mesa ao lado, disfarçando num jornal sem graça meu interesse pelo papo alheio. Um ano e meio passou e mais ainda para eles. O Décio continua popular e controverso, vestido de tenista mas agora sem a raquete, a voz evidentemente mais rouca, falhando, mas ainda performático, despejando sua gama extensa de palavrões enquanto conta suas aventuras joviais. O Coronel permanece quieto, se mantém recostando na cadeira, barriga e Rayban, fazendo raras incisões de sarcasmo e poderio. O Ronaldo apareceu empurrado por enfermeiro em uma cadeira de rodas, e sem a companhia de sua cadela pug, Juliana Paes, morreu de velhice eu ouvi, mas pelo menos ele parece ter passado a ser mais festejado do que zoado, deve ser medo de destino similar. Dr. Paulo trouxe a esposa Beth, eu nunca tinha visto uma mulher sentada na mesa deles, ela foi embora entre risos e enxotadas logo que cheguei na mesa ao lado e não deu cinco minutos o Dr. Paulo começou a falar do nível de "vagabundice" das passantes mais voluptuosas. Hoje eles não beberam café, só água tônica ou gasosa Perrier, mas falaram das tantas mesmas coisas, brigas do condomínio, gostosas do clube, problemas dos filhos, se zoaram sobre velhice e morte e gargalharam das piadas do Décio. Hoje sentei ao lado deles e pensei que o tempo passa sem parar de ser ingrato, será que eles também veem que eu mudei?

Saturday, July 30, 2016

Acomodados

Perdão à quem julga, à quem acha que sabe, perdão se a minha liberdade põe em risco a sua falsa segurança. É mais fácil caber em convenção aceitando destino semelhante aos demais. É mais fácil olhar para o outro e decupar através do próprio juízo as escolhas alheias do que encarar com coragem suas ânsias veladas. O que você sonha no silêncio do seu escuro? 
Vivemos em sociedade, eu sei, existem expectativas definidas sobre os formatos possíveis. Tem coragem de quebrar esses formatos, de buscar no escuro do peito, mesmo sob todo risco de rompimento com as certezas, respostas que tornam o percurso mais incerto, escolhas que quebram o silêncio do conforto e te jogam no risco do indefinido? 
Cada um tem suas respostas, alguns não perguntam muito, melhor não questionar o que ainda é suportável, melhor aguentar do que encarar o desalento do indefinido. Perdão. Não quero te incomodar. Mas vou continuar buscando o meu caminho mesmo que não se encaixe no seu conceito.

Friday, July 29, 2016

Coragem

Há tempos penso sobre coragem, essa força que gira vontade do avesso e move montanhas. Sinto sempre na minha história esse chamado da coragem, um impulso de mudança e a sensação de preparo para enfrentar não só os ímpetos,  mas o medo também. Na viagem senti diariamente essa relação entre coragem e cuidado no meu encontro com o mar, essa vontade de conquistar o que me assusta mas com o cuidado de saber onde pisar, a demanda constante de se jogar mas de estar também alerta, atenta, de ser consequente - acredito na verdade que isso permeia todos os encontros. Ontem tatuei esse chamado, e pedi para o universo que eu tenha coragem e cuidado para seguir meu caminho independente do medo que assola o peito e o entorno. 

Monday, July 25, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 58o dia (last day)

Sento aqui no Panamá na mesa de um hotel phyno tomando meu último desayuno antes da volta ao Brasil, meu corpo ainda dolorido das ondas, o cabelo uma palhoça branca de tanto mar, pele marrom, sorriso para lá de largo com dente quebrado e peito pulsante. Mudei de corpo, mudei de cara, mudei de pele. Achei que ia fazer uma viagem de experiências fotográficas e acabei fotografando pouco e experienciando mais. Vivi tantas coisas que pensei que não ficaria pronta para voltar, mas estou. Volto tranquila e curiosa com o que está por vir. Descobri aqui outros formatos, outras prioridades, outras vontades e mais do que nunca ficou claro que o meu caminho não é para ser trilhado em busca de sucesso, status, fama, dinheiro nem conforto, percebi que a maior riqueza para mim é sair da zona de conforto, viver histórias, trocar experiências, compartilhar momentos, conhecer pessoas e lugares, me jogar no mundo. Descobri com o mar que não tenho medo dos meus medos, eles são nada mais do que sinalizadores dos desafios a enfrentar, sem inconsequência, equilibrando coragem e cuidado ao mesmo tempo. Sei mais do que nunca que a minha fortuna são os mundos que encontro e compartilho e toda liberdade e amor que vivem em meu peito.
Amo trabalhar, mas não quero alimentar angústia, quero viver do que amo mas também entendendo que preciso de tempo e espaço para caminhar, para sentir e mais do que tudo para criar, que não posso me afundar em demandas da carreira e viver só esse lado guerreira sem direito a suavidade e liberdade. Quero leveza, calma, equilíbrio, quero tempo. Preciso encontrar outro jeito de me organizar.

Monday, July 18, 2016

Ben

Mostly under dark light, your hands would caress softly my mountains and valleys, fingers running slowly through my skin, just to grab tight to a harder curve. It was always warm, they walked miles through deserts on my neck, dunes on my breasts, oasis on my belly, stopping only to wander around my thighs, high tides. On the hips they would take longer, rolling slowly down my hills, naughtily spreading out my cheeks just to find rivers that ran into cascades. And there were your lips, soft and adherent, laughter and kisses, lost my myself into its details every time I dove in it. And that was just beginning, a whole body came with it, a playground, my piazza, trees and ocean too. I surfed your waves, I duck dived into your sea, I swam your currents and found myself a shore. And it wasn't just the warmth of your lips, the strength of your hands, nor the stars in your eyes, it was the texture of your skin against mine, the dance our bodies made when in contact, the tastes and smells, the sounds of your voice in my ears. Cum, sweat, tears, blood and love overflowing through our every touch, loving every minute. It all resonates on echoes within.  close my eyes and can still feel you right here, inside me.

Friday, July 15, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 47o dia

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Me mudei para um hostel perto da casa da praia e a rotina também cambiou. Novos ares, mais macacos e cachorros e agora tem os galos também. Meu bangalô é de madeira, tem uma rede na varanda e um bando de passarinho cantante. Sinto de novo a vontade de ficar sozinha, vontade de pequenos encontros e mais silêncio. Tanto som para ouvir, eu prefiro o das ondas. É bom quando o tempo passa. Ainda bem que eu fiquei mais para não querer ficar tanto. Tudo tem seu tempo.
Hoje eu fiz meu segundo salvamento aquático acidental, pela segunda vez um homem grande, panicado, sendo puxado pela corrente. Nunca bati tanto a perna. Consegui no sufoco uma bodyboard emprestada de uma menina e usei como boia salva-vida. Eu gritava em espanhol para ele bater a perna e ele mal conseguia se segurar à prancha. A corrente levando a gente para as pedras e eu lá puxando o strap da prancha vermelha, batendo o pé-de-pato que nem diabo foge da cruz enquanto ele me olhava assustado. Quando chegamos na parte mais rasa uma mulher nos ajudou. Nem sempre o mar é divertido.

Saturday, July 09, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 42o dia


Million, the little chihuahua with Napoleon complex, has drastically changed his personality since his friend and so called "owner", Danny, left to Peru for five months. Million stays by the shore in front of the house checking to see if Danny may come out of the water, then he comes over by the kitchen and stays quiet, ears low, longing eyes, just staring adrift, probably wondering if Danny is ever coming back. Anthony, the nine year old boy, has left too but only to Monteverde for a week with his family and I find myself missing him just like Million misses Danny. How can such simple daily exchanges have so much impact? I really didn't expect to miss Anthony this much, but I do. I think he might have gotten back today, I saw his family's car back in the garage, perhaps, he'll stop by later.
Aside from that, I accidentally stepped on my foot after running for five meters and now I have a swollen and black ankle. Not being enough, I decided to grab some waves with just one fin, since my left ankle is pretty chubby and can't afford to wear one. After struggling like a mother fucker on the line up to paddle down a wave just with half of my legs' strength, I finally picked the perfect one, green, curvy and smooth, checked that is was clear, started going down with a smile inside, and that's when I was hit by a board and its American surfer who got late into the wave and didn't see me. All good, now I have a swollen head to match my foot. After a longer wait and some precaution, I went down a crappy little one and left back to the sand thinking that I really need to change my ticket and extend my stay two more weeks. Pura vida.

Thursday, July 07, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 39o dia

Eu gosto de aperto no peito, fiquei mais certa agora que doeu e sei que tá tudo vivo aqui dentro. Não tenho medo de angústia nem tristeza, tudo de passagem, sofrer é revolucionar, potencial de mudança. Vim para sentir, de todos os lados, terremotos e furacões, tempestades e calmarias, aguento tudo, quero mais. Gosto de mudanças. Não sei bem o que guardo tão grande em peito tão pequeno, mas sinto uma fome enorme, uma sede, essa avidez de sentir mais. Quero sentir. Quero me jogar sem saber e desvelar segredos, quero descobrir mil mundos que moram em mim, e sair por aí, me jogar sem olhar para trás. Quero mais mundo.

Tuesday, July 05, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 37o dia

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De manhã fui para o outside com os meninos e a Madisun e exercitei minha paciência. Costumo entrar no mar com fome, não converso nem espero muito, pego uma atrás da outra até não aguentar mais, exausta, sem prancha para boiar. Os meninos me chamam para curtir com eles entre as séries mas minha ansiedade me empurra jacaré onda abaixo.

Hoje fiquei. Hoje boiei em fundo verde, água cristalina, mar calmo logo atrás do quebra-mar. Boiei e vi céu azul com nuvens esparsas, bebi respingos grossos e finos de chuva, correntes diversas arrastando meu corpo para lá e para cá. Fiquei e tomei meu tempo, conversei, conheci pessoas e ao invés de pegar oito ondas medianas, escolhi três ondas grandes, longas e lindas. Sai do mar com um sorriso largo.

Cada dia me sinto mais segura.

Saturday, July 02, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 36o dia

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Corri na areia a contragosto, buscando energia onde só morava angústia. Me deitei na praia em frente de casa e deixei a chuva se misturar às lágrimas. O céu preto como o buraco em meu peito, dando nó apertado que vira tornado desgovernado, fiquei ali buscando caminho para me dissipar. Deitei na areia e chorei essa ânsia de mundo que mora em meu peito, chorei meus sonhos mais íntimos, meu desejo de vida e de histórias. Fiquei ali comigo tentando medir o tamanho do meu desejo. Quero mudar. 

E em cada encontro me encontro mais, descubro essa pergunta insistente que ecoa em cada troca, não paro de me perguntar o que eu quero de mim. Não tenho resposta exata, mas quebro a cabeça tentando encontrar maneira de encaixar todos os mundos que moram em mim, meu amor, meu trabalho, meu lazer e meu voo, unir todas as peças em perfeita sintonia, descobrir um caminho em que a minha frequência encontra paz, espaço criativo, e silencia a angústia infinita que me assola quando penso em me aquietar.

Tenho tido dificuldade com contratos, sinto as amarras das minhas escolhas, olho para tudo que criei e me pergunto para onde eu quero ir. Para onde eu quero ir?

Eu quero mais mundo. Eu quero acreditar que posso encontrar um caminho em que vivo em um sistema que me oprime menos e me inspira mais. Que há outras maneiras de se viver e de trabalhar e de ter lazer e de amar.

E se liberdade para mim é viver do que amo sem me tornar um instrumento de objetivos, sem precisar vender tanto meu mais precioso bem que é o pouco tempo que temos. Dias que correm e não voltam mais, tempo que fica para trás em pequenas férias e longos períodos de estiagem, deserto cálido em terra batida. Eu quero mais.

Como chegar lá?

Friday, July 01, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 35o dia

Anthony, the nine year old Peruvian kid and his baby bother have been stopping by to hang out. Just as his uncle Danny, he looks like a happy little Hawaiian. Yesterday we talked about flying dreams and modern inventions, today he wanted to tell me about the movie he watched last night. We hung by the shore watching the waves while I held the baby over my shoulders for a while. We talked about iguanas' tails and its caves and his surfing experiences. Anthony has a easy feeling about things, he thinks before talking and speaks slowly, soft and gentle, looking me straight in the eyes. He often asks questions and comes up with elaborated conclusions. Everyday he baby-sits his baby brother for an hour running his stroller around and playing with the animals on the bosque. Million, the little chihuahua with a rothwailler ego and full on Napoleon complex, walks with them chest high, king of the jungle, but makes the cutest face ever when he sees food, just to eat like a maniac a second later and try to sneak up on you with vicious bites after it gets dark. The trio comes around quietly and stays for a while. Corey, the hairy baby with big brown eyes, sits in silent on his stroller looking at things, he never complains or makes any noises, one time I saw him smiling. 

Tuesday, June 28, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 32o dia

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Mathieu fixed my water housing and left to Nicaragua early this morning to meet his girl who's also traveling the world alone. The day we met he figured out the problem with the water housing in between dubbies and great conversation. I had been breaking my mind and whosever I met to fix it. He fixed it and left. We didn't have a chance to get to play with it. People leave all the time in this village of mostly foreigners, they arrive too, but the leavening part it's always bittersweet.
I have two more weeks and it doesn't seem enough. It's that wondering feeling that's itching my skin, putting my heart adrift.
Should I go somewhere else?

Monday, June 27, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 31o dia

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Choveu bastante e considerei brincar na lama, mal súbito de velha infância, aqui tem dessas coisas.
O fim de tarde veio sem onda, foi assim o dia todo, e na fissura de um mar aberto nos jogamos no outside de peito e pé de pato. Pro lado da montanha nuvem pesada, cinza escura, não demorou a descer, veio sem raio nem trovão, só água mesmo batendo pingo grosso em mar chapiscado, sons, tons, cores, meu olho emoldurando tudo em foto. Senti falta da câmera. Fiquei ali em meio a ondas grandes e chuva forte vendo os meninos curtindo, rindo, vendo as tantas curvas e sombras do mar, vendo pequenas montanhas que se formam e explodem em avalanches de espuma branca, vendo mil variações de luz em cada movimento, vendo tudo tanto, e eu ali pensando que nunca mais vou esquecer esse gosto na boca de mar e chuva.

Sunday, June 26, 2016

DIARIO DE VIAGEM - 30o dia

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Leo and mike got the first bus to nowhere and left. Dave got the same bus but destined to Florida. And then they left.
The day I met Dave things changed drastically without any try. Until then I had chosen a little loneliness for the mind and then it came Dave, with his unpretentious tenderness. Dave made me want to meet more people without realizing, and everyone I met through him has become part of my little family.
So life goes on and we stay, movemos adelante, no hurry or worries but with that sense that things come and go and some people you meet just stay in your heart.
So I'm sorry Dave, I know you're low profile, don't like much fuzz, and even less to be portrayed in pictures, but I couldn't help but trying to capture at least a tiny bit of the peace and greatness you give away, and I know no picture will ever capture even half, but I tried.
Much love in your path.
Adios amigos, hasta luego❤️

Saturday, June 25, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 29o dia

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Passei a noite estreitando meu relacionamento com um mosquito. Acordei seca de tanto sangue chupado, ele voando baixo, gordito que nem um cabrito bem mamado. Considerei matá-lo mas deixei ele em paz, cada um com seus fardos.
Levantei meio lenta, provavelmente fraca, coitada, depois de tão singela doação sanguínea.
Pela manhã o vento batia mais forte na praia, corria com pressa sob a areia. Fui entrando passo a passo na água, bem devagar, areia mexida no mar transparente formando reflexo de nuvem, espelho do céu. Entrei deixando a água subir molhando cada centímetro sem pressa. Fiquei ali submersa sentindo a corrente, pés ainda tocando o chão. Fiquei ali toda toda, achando que era uma boa hora para escrever poesia na mente. E de repente, não mais que de repente, senti o mar me sugar para o fundo como se fosse descer ralo abaixo, toda água sendo puxada da praia mar adentro, força monumental do que me parecia um mini tsunami, meu corpo lutando com esforço contra corrente sem a mínima chance de me segurar. Havia chegado a série do dia, e eu bem ali no coração da tormenta. Consciente da minha impotência, larguei o corpo na tentativa de guardar energia e deixei me levar. Eu de repente já lá no fundo, mar revolto, fúria de titãn. Lembra, não se desespere, lembra. Relaxei o corpo, olhei para os possíveis caminhos, vi três ondas grandes se juntando à beira de formar uma só a poucos metros da minha cabeça, me joguei junto adelante por baixo de toda sua força, me empurrando na sua inércia de movimento e em meio a muita espuma e explosão, comecei a voltar, precisei de mais três para chegar até algum chão. Foi puxado, literalmente.
Sai do mar de peito aberto, e rabo entre as pernas. Todo dia uma lição.

Thursday, June 23, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 28o dia


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O tempo passa rápido por aqui, dá um aperto pensar que não demora muito acaba. Nunca me senti em paz assim, não me lembro. Aqui da rede ouço os pássaros nas palmeiras e as ondas quebrando na areia, o mar subiu, o sol continua ameno.
Hoje não quero sair, vou ficar por aqui mesmo comigo e meus botões, muito agito tem sido, de repente me peço um certo silêncio. O esquilo desce sorrateiro o galho, outro dia deu um salto mortal e quase caiu na minha cabeça, tem coco também que volta e meia desce céu abaixo sem análise de risco, quando em vez ouço o vai e vem das motos checando o surf, surfistas em bando e sozinhos, mal fazem barulho, ficam só ali olhando o mar, o pico é quase dentro do meu bosque. Mudo de rede na medida que o sol muda de lugar, ouço macacos por perto com seu grunhido grave, uma família de cinco vive no entorno. Eu fico por aqui mesmo, sentindo a brisa, no balanço da rede e a calma que só encontro comigo.

DIÁRIO DE VIAGEM - 28a noite

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Gosto da cadência arrastada da risada do Dave, ele acaba de rir e sempre penso em pedir bis. Gosto do sorriso largo do Martin que enruga o rosto todo e sobra só o azul do olho, do charme da magreza francesa do Mathieu com seu bigode fino e olhos verdes, só falta a boina e o pincel. Gosto da doçura do rosto inteiro do Danny, e da piscina transparente que mora nos olhos do Ben. Gosto do olhar que penetra e te racha no meio da pequena Leo e do enigma nas poucas palavras do Tom. Vejo cada um em detalhe sem precisar prender muito o olhar, colcha de retalhos de pequenos retratos guardados na memória. Conviver é uma infinitude de afinidades e diferenças, cada dia um pedaço a mais se encaixa - ou desencaixa.
Hoje Il Principito nos brindou com um jantar improvisado para seis, comemos bem, falamos relativamente pouco, ficamos juntos sem precisar de muito, e mais uma noite se vai, mais um dia que não volta mais e fica, sem dúvida, para sempre.

Wednesday, June 22, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 27o dia

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 I realized today I've been back to dreaming in English, and thinking too it seems.
Today we added tree to our bunch and headed to Cabuya, Leo, our little Brooke Shields from Germany traveling Central America alone, Mike, a guy from her city she met a couple of weeks before, and Hayden, the tattooed Australian and his big SUV. We went over dry rivers and a small accident, a wry green forest and an open road of dirt leading to trails that lead to Cabuya.
Today I got into my first rock bottom break, thought was going to be worse but they were kindly smooth on the feet. All the boys were there and it looked easy enough from the outside. Well, I didn't really expect myself to go in but I did, I swam what showed to be easier than the beach break in Santa Teresa and I then found myself looking at them all there, easy faces, quiet, paddling slowly, seating back, watching the ocean pulsing, searching for the right time, the right wave.
I couldn't get any big waves, I almost dropped in on five but they all seemed they would close in and I could picture the rocks grinding at me on the bottom. I swam around for a while enjoying the moment, watching the boys in silent.
Right by the time I decided to leave a bit frustrated with my incompetence to paddle down the big ones, I finally realized I could get the middle set, a bit closer to the beach, a bit shallower but smaller waves, and even though I was already tired I made a point of going down two. I went down two waves on rock bottom.
It was a good day.

Tuesday, June 21, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 26o dia



Formei minha mini familia com os cinco surfistas que encontrei através do Dave from Florida, todos bem diversos dentre si: Martin "il principito" norueguês, nosso muleque piranha que se jogou no mundo cedo e por hora, agora aos seus 24 anos e lourice nórdica, parou nessa cidade, Ben, o italiano que vive mudando de continente de três em três meses, Matteo, o francês que já está viajando há quase um ano e meio sozinho pelo mundo e só tá começando, o próprio Dave que aparece menos porque surfa mais, e o Tom, um coroa norueguês para lá de maluco que não surfa mas volta e meia cola na gente e ainda estamos tentando decifrar, às vezes aparece o Danny, um peruano com cara de havaiano que é conhecido por ter o melhor restaurante de tacos da cidade e muitas muitas amigas...
A gente curte juntos entre sessões de surfe, dubbies e comida. Eles vão pro outside e dependendo do dia não consigo chegar lá, na fissura de mar eles entram em qualquer buraqueira.
Hoje o dia terminou sem surfe mas com a gente brincando dentro d'água, os meninos curiosos com meu madeirite. Mergulhamos, nadamos, tentaram descer algumas, mas sem pé de pato ficou difícil e por fim saíram todos da água e ficaram lá sentados na areia me assistindo pegar onda com meu brinquedo. A praia vazia, o mar revolto, só eu na água e eles ali sentados assistindo. Queria ter tirado uma foto desse momento, acho até que devo ter tirado com a minha mente para sempre.
Desci umas merrecas divertidas, eles cheering from the outside, achando tudo o máximo e eu ali pensando na doideira daquilo tudo. Eu que vim para cá para ficar sozinha, até quem sabe para aprender a surfar com prancha, termino meu dia performando jacaré onda abaixo, assistida pelo meu pequeno bando de surfbuddies, cada um na sua e todos juntos querendo aprender meu bodysurf.
Terminamos jogando frisbee e batendo uma bola para lá de ruim no por do sol que não veio mas que valeu mais a pena do que muito futebol de areia maneiro que já joguei.
O dia foi lindo. E cada vez mais, tenho achado ser feliz bem simples.

Thursday, June 16, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 19a tarde


Fui dar uma olhada nas ondas aqui na frente de casa e encontrei com o Dave from Flórida, surfista das antigas lá para os seus 50 anos que me lembra uma versão albina do Crocodilo Dundee, corpo de touro, cabelo branco até o ombro, olho azul quase de vidro, rosto enrugado do sol, pele cheia de sarda queimada e uma cara de gente boa até dizer chega. Em cidade pequena nenhum rosto é estranho.
Daí que passa um amigo de Dave a la Tarzan, barba e cabelo grande, peito de rei da selva e começamos a conversar sobre as ondas, Tarzan estava voltando do mar depois de uma hora e meia remando e as ondas fechando, não pegou nenhuma, estava cansado. Falavam que ia estar maior lá em cabuya, Dave falou que já ia com os amigos de quadriciclo, quando Tarzan respondeu que não tinha huevos pra enfrentar ondas tão grandes. Fiquei pensando nisso, eles também sentem medo. Aqueles homens enormes, preparados para gigantes e trovões, leões marítimos, sentem medo. Tarzan se foi e eu falei pro Dave da solidão de entrar sozinha no mar, respondeu dizendo como era bom olhar pra um amigo e dizer "we gonna die" para logo depois sair do perrengue rindo. Ele também pensa "we gonna die"...

Fiquei pensando nessa muralha viva, cheia de correntes e ondas surpresas, series longas, caldos mais longos ainda e esse desejo comovente de enfrentá-lo, de aprender incessantemente essa harmonia inconstante entre o medo e a conquista. 
Dave foi para Cabuya e eu fiquei mais segura por não ter medo sozinha, de saber que todos nós ali juntos e separados passamos por momentos de alerta e entrega o tempo inteiro, que o mar vai ensinando pequenas e grandes lições a cada braçada, cada mergulho, cada onda descida. Agora confortável com meu medo, me sinto mais preparada pra me jogar. (Calma, mãe, lembrando, perspectiva de semi-anã)

DIÁRIO DE VIAGEM - 19o dia

Tenho dormido com um caranguejo. Acredito ser sempre o mesmo, basta alguns segundos da porta do quarto aberta e ele volta para a mesma quina fria do banheiro, o ponho para fora antes de dormir mas na noite seguinte lá está ele no mesmo lugar, já é a quarta noite, daqui a pouco tá ganhando nome, diz o Pedro que já já eu to chamando bola de vôlei de Wilson. 
De fato passei a ter relação com as coisas, por aqui cada encontro deixa um rastro, seja com as iguanas comendo as cascas das frutas que separo para elas, com os dois cachorros perdidos que passam no fim da tarde, com o garoto local Danny e sua morey boogie ou com Silvio Berlusconi, o papagaio que vem tomar café comigo, todos são encontros que ficam. 
Não faço planos, os dias andam em aberto, malho cedo na areia num treino muito doido que descobri daqui, às vezes alongo, as vezes medito, às vezes corro, ou pego onda até dar vontade de fazer outra coisa, tem dias que tomo três cafés diferentes e almoço quando dá na telha, como peixes, frutas, sementes, grãos, óleo de coco, daqui a pouco cresce cabelo debaixo do braço (calma, não é para tanto). Vivo descalça ou de bike, sozinha para lá e para cá desvendando minhas coisinhas, quieta dentro d'Água com meu pé de pato em meio a mil surfistas.  Faço amigos queridos, nos encontramos, mas busco constantemente a solidão. Tenho gostado bastante de mim.

Wednesday, June 15, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 18o dia


Os meninos viajaram norte hoje cedo em busca de um swell que tarda em entrar, quase quis ir só por fome de estrada, mas envolvia dormir em barco pequeno e desempolguei antes de levar mais a sério a possibilidade. 
Fiquei sozinha com a casa de varanda para o mar, eu e a casa, as palmeiras, as iguanas e macacos, os esquilos, as corujas, os cachorros soltos e um milhão de caramujos. Na iminência da ausência faço novos amigos, a bicicleta vermelha com a cesta enferrujada me demanda constante calma e cuidado sob as crateras e poças de terra batida, nunca gostei de pedalada lenta, ultimamente ando adorando. Tem a rede colorida com vista para um céu de palmeiras e os livros velhos da estante deixados por antigos viajantes, tem também meu pé de pato havaiano e meu madeirite que me auxiliam no estreitamento da relação com o mar, sem eles aqui não teria passado do flerte. 
Ontem passei o dia com o oceano, dediquei a tarde a ele, entendi melhor as mudanças de cor sob o leito inconstante de verde e azul, os ciclos de tormenta e calmaria, senti mil vezes as séries passando sob a minha cabeça, eu sentada lá no fundo no chão de areia, brincando de prender o ar sem pressa, de sentir o resquício dos gigantes penteando meus cabelos com sua espuma enfurecida, eu sentada no chão, mão presa a areia, mundo marinho, conchas e peixes. 
Ontem peguei a maior onda da minha vida. Vi ela se formando enorme, verde que te quero ver, crescendo macia milimetricamente posicionada para meu corpo descer, ela me olhando dentro do olho e me chamando em sussurro. Respirei fundo no centésimo de segundo que tive para tomar coragem e fui preparada para ressaca abaixo, fui segurando o corpo firme contra sua força, e foi quando ela me mostrou com ternura sua curva mais íntima,  ela quebrando perfeita, meu braço direito para fora dela pressionando o madeirite contra seu côncavo, meu corpo sendo suavemente projetado metade para fora, eu ali de olho aberto vendo tudo, descendo alucinada o que para mim parecia um desfiladeiro macio de água salgada, eu ali planando em perfeita sintonia, dividida entre o dentro e o fora d'Água, meus dois mundos favoritos unidos em um só acontecimento, eu ali tão feliz, e assim suave como começou ela terminou. Peguei mais vinte. 
Namorei o mar até o sol se por, eu e ele lá, horas e horas em silêncio nos contando segredos, mostrando detalhes, formas e cores, o sol se pondo, meus dedos enrugando, e uma sensação de sintonia completa com esse planeta. 
(PS: calma mãe, elas eram enormes na perspectiva de uma semi-anã)

Sunday, June 12, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 16o dia (dia dos namorados)

Chove desde que as meninas foram embora, meu egocentrismo me faz acreditar que os dois eventos estão conectados.
Voltei a dormir depois do café na companhia de duas moscas e acordei suada. Lembrei do mar, do céu e me levei com pressa até a praia, me joguei de pé de pato nas marolas da beirada mas não deu em muito. Hoje o mar não estava para peixe.
A chuva voltou a cair, apesar de lá no horizonte o céu estar azul. Decidi mover minhas pernas rápido sob ondas rasas até cansar, mas me distrai com pedras semi-pirotécnicas e acabei esquecendo da chuva, da corrida, e me dediquei a elas. Catei, lavei, examinei, separei uma de mil, a praia vazia, só tinha eu. 
Voltei devagar, decupando a uma de mil  com o tato, punho cerrado, dedos devassando cada centímetro frio, quase afiada. 
Sentei com ela na areia molhada debaixo de chuva em frente de casa, nós duas ali olhando o mar, imaginando o que cada uma tinha passado (meu egocentrismo de novo falando). Nos alongamos, meditamos e quando eu estava quase indo embora, resolvemos ir juntas para casa. Amiga nova.
Essa vai comigo até a Gávea.😳❤️