Saturday, July 30, 2016

Acomodados

Perdão à quem julga, à quem acha que sabe, perdão se a minha liberdade põe em risco a sua falsa segurança. É mais fácil caber em convenção aceitando destino semelhante aos demais. É mais fácil olhar para o outro e decupar através do próprio juízo as escolhas alheias do que encarar com coragem suas ânsias veladas. O que você sonha no silêncio do seu escuro? 
Vivemos em sociedade, eu sei, existem expectativas definidas sobre os formatos possíveis. Tem coragem de quebrar esses formatos, de buscar no escuro do peito, mesmo sob todo risco de rompimento com as certezas, respostas que tornam o percurso mais incerto, escolhas que quebram o silêncio do conforto e te jogam no risco do indefinido? 
Cada um tem suas respostas, alguns não perguntam muito, melhor não questionar o que ainda é suportável, melhor aguentar do que encarar o desalento do indefinido. Perdão. Não quero te incomodar. Mas vou continuar buscando o meu caminho mesmo que não se encaixe no seu conceito.

Friday, July 29, 2016

Coragem

Há tempos penso sobre coragem, essa força que gira vontade do avesso e move montanhas. Sinto sempre na minha história esse chamado da coragem, um impulso de mudança e a sensação de preparo para enfrentar não só os ímpetos,  mas o medo também. Na viagem senti diariamente essa relação entre coragem e cuidado no meu encontro com o mar, essa vontade de conquistar o que me assusta mas com o cuidado de saber onde pisar, a demanda constante de se jogar mas de estar também alerta, atenta, de ser consequente - acredito na verdade que isso permeia todos os encontros. Ontem tatuei esse chamado, e pedi para o universo que eu tenha coragem e cuidado para seguir meu caminho independente do medo que assola o peito e o entorno. 

Monday, July 25, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 58o dia (last day)

Sento aqui no Panamá na mesa de um hotel phyno tomando meu último desayuno antes da volta ao Brasil, meu corpo ainda dolorido das ondas, o cabelo uma palhoça branca de tanto mar, pele marrom, sorriso para lá de largo com dente quebrado e peito pulsante. Mudei de corpo, mudei de cara, mudei de pele. Achei que ia fazer uma viagem de experiências fotográficas e acabei fotografando pouco e experienciando mais. Vivi tantas coisas que pensei que não ficaria pronta para voltar, mas estou. Volto tranquila e curiosa com o que está por vir. Descobri aqui outros formatos, outras prioridades, outras vontades e mais do que nunca ficou claro que o meu caminho não é para ser trilhado em busca de sucesso, status, fama, dinheiro nem conforto, percebi que a maior riqueza para mim é sair da zona de conforto, viver histórias, trocar experiências, compartilhar momentos, conhecer pessoas e lugares, me jogar no mundo. Descobri com o mar que não tenho medo dos meus medos, eles são nada mais do que sinalizadores dos desafios a enfrentar, sem inconsequência, equilibrando coragem e cuidado ao mesmo tempo. Sei mais do que nunca que a minha fortuna são os mundos que encontro e compartilho e toda liberdade e amor que vivem em meu peito.
Amo trabalhar, mas não quero alimentar angústia, quero viver do que amo mas também entendendo que preciso de tempo e espaço para caminhar, para sentir e mais do que tudo para criar, que não posso me afundar em demandas da carreira e viver só esse lado guerreira sem direito a suavidade e liberdade. Quero leveza, calma, equilíbrio, quero tempo. Preciso encontrar outro jeito de me organizar.

Monday, July 18, 2016

Ben

Mostly under dark light, your hands would caress softly my mountains and valleys, fingers running slowly through my skin, just to grab tight to a harder curve. It was always warm, they walked miles through deserts on my neck, dunes on my breasts, oasis on my belly, stopping only to wander around my thighs, high tides. On the hips they would take longer, rolling slowly down my hills, naughtily spreading out my cheeks just to find rivers that ran into cascades. And there were your lips, soft and adherent, laughter and kisses, lost my myself into its details every time I dove in it. And that was just beginning, a whole body came with it, a playground, my piazza, trees and ocean too. I surfed your waves, I duck dived into your sea, I swam your currents and found myself a shore. And it wasn't just the warmth of your lips, the strength of your hands, nor the stars in your eyes, it was the texture of your skin against mine, the dance our bodies made when in contact, the tastes and smells, the sounds of your voice in my ears. Cum, sweat, tears, blood and love overflowing through our every touch, loving every minute. It all resonates on echoes within.  close my eyes and can still feel you right here, inside me.

Friday, July 15, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 47o dia

Image may contain: ocean, sky, cloud, water, outdoor and nature
Me mudei para um hostel perto da casa da praia e a rotina também cambiou. Novos ares, mais macacos e cachorros e agora tem os galos também. Meu bangalô é de madeira, tem uma rede na varanda e um bando de passarinho cantante. Sinto de novo a vontade de ficar sozinha, vontade de pequenos encontros e mais silêncio. Tanto som para ouvir, eu prefiro o das ondas. É bom quando o tempo passa. Ainda bem que eu fiquei mais para não querer ficar tanto. Tudo tem seu tempo.
Hoje eu fiz meu segundo salvamento aquático acidental, pela segunda vez um homem grande, panicado, sendo puxado pela corrente. Nunca bati tanto a perna. Consegui no sufoco uma bodyboard emprestada de uma menina e usei como boia salva-vida. Eu gritava em espanhol para ele bater a perna e ele mal conseguia se segurar à prancha. A corrente levando a gente para as pedras e eu lá puxando o strap da prancha vermelha, batendo o pé-de-pato que nem diabo foge da cruz enquanto ele me olhava assustado. Quando chegamos na parte mais rasa uma mulher nos ajudou. Nem sempre o mar é divertido.

Saturday, July 09, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 42o dia


Million, the little chihuahua with Napoleon complex, has drastically changed his personality since his friend and so called "owner", Danny, left to Peru for five months. Million stays by the shore in front of the house checking to see if Danny may come out of the water, then he comes over by the kitchen and stays quiet, ears low, longing eyes, just staring adrift, probably wondering if Danny is ever coming back. Anthony, the nine year old boy, has left too but only to Monteverde for a week with his family and I find myself missing him just like Million misses Danny. How can such simple daily exchanges have so much impact? I really didn't expect to miss Anthony this much, but I do. I think he might have gotten back today, I saw his family's car back in the garage, perhaps, he'll stop by later.
Aside from that, I accidentally stepped on my foot after running for five meters and now I have a swollen and black ankle. Not being enough, I decided to grab some waves with just one fin, since my left ankle is pretty chubby and can't afford to wear one. After struggling like a mother fucker on the line up to paddle down a wave just with half of my legs' strength, I finally picked the perfect one, green, curvy and smooth, checked that is was clear, started going down with a smile inside, and that's when I was hit by a board and its American surfer who got late into the wave and didn't see me. All good, now I have a swollen head to match my foot. After a longer wait and some precaution, I went down a crappy little one and left back to the sand thinking that I really need to change my ticket and extend my stay two more weeks. Pura vida.

Thursday, July 07, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 39o dia

Eu gosto de aperto no peito, fiquei mais certa agora que doeu e sei que tá tudo vivo aqui dentro. Não tenho medo de angústia nem tristeza, tudo de passagem, sofrer é revolucionar, potencial de mudança. Vim para sentir, de todos os lados, terremotos e furacões, tempestades e calmarias, aguento tudo, quero mais. Gosto de mudanças. Não sei bem o que guardo tão grande em peito tão pequeno, mas sinto uma fome enorme, uma sede, essa avidez de sentir mais. Quero sentir. Quero me jogar sem saber e desvelar segredos, quero descobrir mil mundos que moram em mim, e sair por aí, me jogar sem olhar para trás. Quero mais mundo.

Tuesday, July 05, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 37o dia

Image may contain: ocean, sky, cloud, outdoor, water and nature
De manhã fui para o outside com os meninos e a Madisun e exercitei minha paciência. Costumo entrar no mar com fome, não converso nem espero muito, pego uma atrás da outra até não aguentar mais, exausta, sem prancha para boiar. Os meninos me chamam para curtir com eles entre as séries mas minha ansiedade me empurra jacaré onda abaixo.

Hoje fiquei. Hoje boiei em fundo verde, água cristalina, mar calmo logo atrás do quebra-mar. Boiei e vi céu azul com nuvens esparsas, bebi respingos grossos e finos de chuva, correntes diversas arrastando meu corpo para lá e para cá. Fiquei e tomei meu tempo, conversei, conheci pessoas e ao invés de pegar oito ondas medianas, escolhi três ondas grandes, longas e lindas. Sai do mar com um sorriso largo.

Cada dia me sinto mais segura.

Saturday, July 02, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 36o dia

Image may contain: sky, cloud, ocean, beach, twilight, outdoor, nature and water
Corri na areia a contragosto, buscando energia onde só morava angústia. Me deitei na praia em frente de casa e deixei a chuva se misturar às lágrimas. O céu preto como o buraco em meu peito, dando nó apertado que vira tornado desgovernado, fiquei ali buscando caminho para me dissipar. Deitei na areia e chorei essa ânsia de mundo que mora em meu peito, chorei meus sonhos mais íntimos, meu desejo de vida e de histórias. Fiquei ali comigo tentando medir o tamanho do meu desejo. Quero mudar. 

E em cada encontro me encontro mais, descubro essa pergunta insistente que ecoa em cada troca, não paro de me perguntar o que eu quero de mim. Não tenho resposta exata, mas quebro a cabeça tentando encontrar maneira de encaixar todos os mundos que moram em mim, meu amor, meu trabalho, meu lazer e meu voo, unir todas as peças em perfeita sintonia, descobrir um caminho em que a minha frequência encontra paz, espaço criativo, e silencia a angústia infinita que me assola quando penso em me aquietar.

Tenho tido dificuldade com contratos, sinto as amarras das minhas escolhas, olho para tudo que criei e me pergunto para onde eu quero ir. Para onde eu quero ir?

Eu quero mais mundo. Eu quero acreditar que posso encontrar um caminho em que vivo em um sistema que me oprime menos e me inspira mais. Que há outras maneiras de se viver e de trabalhar e de ter lazer e de amar.

E se liberdade para mim é viver do que amo sem me tornar um instrumento de objetivos, sem precisar vender tanto meu mais precioso bem que é o pouco tempo que temos. Dias que correm e não voltam mais, tempo que fica para trás em pequenas férias e longos períodos de estiagem, deserto cálido em terra batida. Eu quero mais.

Como chegar lá?

Friday, July 01, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 35o dia

Anthony, the nine year old Peruvian kid and his baby bother have been stopping by to hang out. Just as his uncle Danny, he looks like a happy little Hawaiian. Yesterday we talked about flying dreams and modern inventions, today he wanted to tell me about the movie he watched last night. We hung by the shore watching the waves while I held the baby over my shoulders for a while. We talked about iguanas' tails and its caves and his surfing experiences. Anthony has a easy feeling about things, he thinks before talking and speaks slowly, soft and gentle, looking me straight in the eyes. He often asks questions and comes up with elaborated conclusions. Everyday he baby-sits his baby brother for an hour running his stroller around and playing with the animals on the bosque. Million, the little chihuahua with a rothwailler ego and full on Napoleon complex, walks with them chest high, king of the jungle, but makes the cutest face ever when he sees food, just to eat like a maniac a second later and try to sneak up on you with vicious bites after it gets dark. The trio comes around quietly and stays for a while. Corey, the hairy baby with big brown eyes, sits in silent on his stroller looking at things, he never complains or makes any noises, one time I saw him smiling.