Wednesday, May 30, 2012

*Nota de pé de página – o inverso do avesso

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Ao se desmitificar a grandiosidade da entrega absoluta, amor heroico, ideal, fantasia utópica, frágil em sua ausência de raiz, vulnerável à abrupta desconstrução de personagem e consequente processo químico de desapaixonamento agudo, e todas aquelas ideias que de sua boca saíram, que estremeceram minha defesa nobre da inocência de quem acredita em mergulhar desfiladeiro a baixo (cair, quebrar a cabeça, levantar em pirueta), aquele sonho do amor que cria sem barreira, sem bobeira, sem fronteira e tantas outras rimas idiotas que eu podia encaixar ao tal do infinito enquanto dure – que não dura, nem sacia... então, a verdade é que sim, você estava certo, aprendi amor imperativo, egoísta em sua liberdade autoritária, desejo infinito de fábula que deixa tudo menos aquém, que demanda o mais sublime e majestoso desejo, que se perde em tanto castelo de areia, tantas marés. Mas eu falo a sua língua, entendo sua cada palavra e concordo que entrega sem medida não se sustenta, que há de haver outro, outros tantos jeitos de construir versus só curtir.


Só que nessa busca empírica de evolução, de desconstrução da repetição, mora a armadilha de um movimento oposto-extremo ao grande encontro, em que se idealiza o desencontro como quebra de formato, e assim repete-se a desmedida. Ao mergulhar nas sacações mirabolantes do conceitual, o desejo se afasta do afeto e se perde à deriva em mar de ideias e não de tato, olfato e os tais sentidos que formam contato. Mesmo porque construção se faz no encontro, no compartilhado, no se conhecer.

Monday, May 14, 2012

Maldito

Te adoro mais em cada frase - cabeça atormentada, raios e trovões. Te vejo sinapses eletrizantes, batida de pé sincopada, corpo em sua melodia inconstante. Você questiona tudo, repensa o já ultra-pensado, examina a fundo e cerra os dentes, curioso com o selado. E atravessa o mundo com olho gigante, lupa fixada em cada detalhe de sua tremenda escuridão. Você sofre, você mergulha em profundezas as vezes tão rasas, tão defasadas de real demanda, mas para ti é difícil fugir dessas suas pequenas armadilhas cerebrais, essa fertilidade exacerbada de pensamentos insólitos e questões-embrião muitas vezes te beira a loucura. Você é louco desvairado mergulhado em razão, e o teu saber é o que te enlouquece, estremece cada pérola achada no teu fundo – vez em quando umas se perdem pela areia, enquanto outras brilham mais quando achadas do que quando pertencidas. Você reage a tudo que te toca, aí da sua toca, vive a examinar, a olhar o revéis. Desconstrói para possuir, para fazer do que já foi re-ser, recosturado, retalhado de passado, presente roupa a se ajustar. Você desconfia do que vem pronto, recria o já consumado, readapta o mundo para fazê-lo seu, menos você no mundo, mais o mundo em você. Você transpira, respira milhões de partículas livres de censura, ambições antigas e desejos novos. Você me pira, ainda que precocemente e a passos engatinhados, te acho em meu peito todo à vontade, andando sem receio minhas estradas mais desertas. Mas você se vende pura solidão, faz do teu peito côncavo no teu plexo, centro desértico de paixão romântica - e já vou te avisando, sou puro romance, ainda aprendendo o tal do amor, mas paixão, coração, é comigo mesmo, e haja pernas para escapar de teia para lá de tão boa. Sossega essa solidão leão, e se joga para o abraço, que meus braços são mais doces do que tua angústia. Digo isso só por hoje, porque o amanhã é pura consequência, e deixo pro peito na sequência essa vontade do que está por vir.