Friday, February 06, 2015

SOBRE O SUCESSO (Uma História de Amor)



Já flertei com a fama, já brinquei de status, participei das festas mais glamorosas ouvindo orgias no quarto ao lado, sei quais são as alianças importantes e os contatos fundamentais, e tendo virado adulto em plena Hollywood, conheço bem os perigos do sucesso. 

Tive o carro da hora, a casa, o namorado dourado, o dinheiro que sobra e empilha, o trabalho que todo mundo acha o máximo - e mesmo assim me sentia sozinha. Você pode conquistar o mundo e nunca ter o bastante.

Lembro quando quis trocar meu carro simples demais para os vallets de LA e meu namorado rico e bem-sucedido me disse, “cuidado com o status, ele é perigoso”– não troquei, quer dizer, só um ano depois quando nos separamos, e descobri que o problema não era os vallets, muito menos o carro. Volta e meia lembro daquela frase.

Voltei pro Brasil em busca de algo que nem eu mesma sabia - achei que era temporário. Queria um pouco mais de calor, abraço apertado, nadar em mar verde, falar besteira com amigos antigos, beber um sakê no BG, ou um coco que não fosse de caixinha.

Achava que havia encontrado minha casa em Los Angeles, que nunca mais deixaria de viver fora, e como a gente acha um bando de coisa até viver o contrário do que achava e ver que estava tudo errado. Como eu podia ser mais feliz e nem sabia.

Vim para o Brasil e entrei na mesma roda, trabalho trabalho trabalho, jogo de alianças, egos e status, atire a primeira pedra quem não sabe do que eu tô falando.

Cheguei e quis crescer, queria ser dona do mundo, empolgada pela empolgação alheia, vi num mundo para lá de competitivo minha nova casa. Mas é um mundo difícil, feliz de quem tem garganta para descer num gole só, para mim não é raro descer rasgando goela abaixo. 

Não me entenda mal, amo muito meu trabalho, amo tanto quanto sempre amei ser atriz no palco e não fora dele. Minha vida sempre foi contar histórias. Amo decupar um texto, conceituar formatos, fazer parte de reuniões com uma equipe de mentes pensantes em prol de excelência, amo estar no set e trabalhar em conjunto curtindo cada minuto, e mais do que tudo, amo trabalhar com atores e diretores que admiro, acho mágico fazer parte desse processo criativo de uma história. E ponto final.

Digo isso por que acho que de resto é tudo uma baita besteira. Quando a demanda termina, me desamarro e vivo a minha história separada do todo, e ela não tem nada a ver com status.

Já em Los Angeles mentia sobre minhas férias, ninguém aturava saber da vida de uma mulher que viajava pelo menos quatro meses por ano sozinha para lugares remotos sem nenhum outro plano se não descobrir o que não sabia. No Brasil encontrei a mesma conjectura, quantos foram os colegas de trabalho me confidenciando na encolha que minhas fotos felizes al mare ou in love geravam inveja e energia negativa, “guarda para você”, me davam a dica embasada.

Comecei a me perguntar bastante que mundo é esse que eu tinha escolhido viver desse jeito.

E aí veio o Pedro. Não podia ter sido mais a contragosto. Todo o perfil colidia com tudo que eu tinha aprendido, afinal se apaixonar envolvia um pacote escrito a mão com uma lista infinita de qualidades e conquistas no qual ele não parecia se encaixar. Sim, sim, a tarde era dourada e o homem para lá de lindo, mas estava determinada a me proteger contra os males de um encontro “menor”, era hora de encontrar um parceiro para vida, e aquele garoto não parecia caber nos meus planos.

O Pedro veio de supetão. Já no primeiro encontro me desnorteei com sua série de defeitos discorridos em prosa enquanto o sol se punha, falou em risos sobre suas neuroses e limitações, me contou sem pudor seus medos antes até do primeiro beijo e não foi nada tímido quando tentou me abraçar pós mergulho. Não cedi. Eu sabia que não queria um encontro qualquer. Mas foi no segundo frio que eu não consegui esconder que veio abraço apertado demais, aquele que eu vim lá de longe para buscar no Brasil, ele me deu. E foi ali, já as onze horas da noite do dia seis de fevereiro, que sem perceber eu desabei em seus braços por segundos, minutos, horas que eu esqueci de contar e dali pro beijo foi um pulo, não demorou dois dias para eu entregar tudo. Lembro ainda sorrindo do meu pacto tácito de não beijá-lo de primeira no dia seguinte quando nos encontrássemos casualmente na praia, “não me exponho nem a pau,” e foi só ele chegar com aquele sorriso de orelha a orelha e olho apertado, puro brilho, que eu entreguei as rédeas e corri pro seu laço.

O Pedro veio quando eu menos esperava. Estava mergulhada em futuro quando ele me surpreendeu com seu jeito de estar aqui e agora e tudo foi mudando de forma. Bastava dar a mão que o dia clareava, ou fosse num dia estressado, uma onda juntos mar abaixo e eu mergulhava em beijos e gargalhadas. As noites a dois ficaram mais longas e os dias passando arrastado quando separados. E não dispersei, fui é mudando de foco. Ficou mais legal ser feliz em duo do que em festas badaladas, fui querendo brigar menos por tudo e amar mais, aos poucos fui secundarizando conquistar o mundo, olho por olho dente por dente, e querendo mais é viver um bem estar muito mais simples que eu havia esquecido. E fui descobrindo com o tempo que o jeito é fazer a mesma coisa de outra maneira.

O Pedro veio sem tentar mudar nada e mudou tudo. Com seu jeito de amar puro coração me apresentou a uma felicidade a dois que eu achava que já tinha conhecido mas não havia de fato vivido a longo prazo.

E se posso ser mais piegas ainda, e usar o terrível termo “amar é”: amar é saber que o caminho dele é dele e o meu é meu, que não temos que consertar nem salvar um ao outro, mas seguir de mãos dadas em busca da realização pessoal de cada um e esse é o nosso caminho junto. Que não existe um pacote, ou nenhum quesito em especial que gere felicidade se não um grande encontro real entre duas pessoas que estão de fato abertas a se conectar, crescer, amar sem nenhum outro grande motivo se não se fazerem felizes.

Hoje completando um ano de um encontro tão lindo, sei mais do que nunca que sucesso não tem nada a ver com ter ou alcançar algo. Sucesso é ser feliz.  Afinal, "fundamental é mesmo amor, é impossível ser feliz sozinho..."
            “Segue o teu destino,
          Rega as tuas plantas,
             Ama as tuas rosas.
             O resto é a sombra
             De árvores alheias.”

             Fernando Pessoa