Sunday, February 18, 2018

Turistas

É meio dia e quarenta e nove e eu me estico na cama com os pés de areia para fora. Um pós-adolescente argentino me fita do outro lado da piscina enquanto seca as pernas, sua mãe grita sobre o almuerzo listo e ele se seca mais lento. É o meio do dia e o sol racha amarelo-branco por toda parte, a areia vira espelho e o mar lente de aumento para cada raio - a pupila cerra para não cegar. Eu espero o sol baixar revezando entre rede, sofá e cama enquanto leio Sapiens e paro para pensar na vida. Olho o Paco roncando ao meu lado e lembro que somos todos animais, penso em Darwin e na evolução do Homo, na revolução cognitiva e mais tarde agrícola e industrial, assisto esse Leão da Rodésia enorme dormindo e penso nesse caminho todo que fez para chegar até aí, ele me olha de lado e volta a colar o rosto no chão. Meus amigos estão em maioria fora da cidade, as ondas vão bem e eu sinto gosto de ciclo encerrado. A rede vai balançando e eu vou pensando no presente e no passado. Vim, vi, e me venci aqui. Foram três vezes: dois, quatro e agora um mês e pouco. Na primeira me separei, na segunda me encontrei lá no fundo e por fim constato agora que acalmei essa fome de mundo. Encerro esse encontro com o peito pleno de tudo que descobri. Me atravessei, virei do avesso e desvendei segredo que nem eu sabia, agora to aqui na rede assistindo os vizinhos gringos e pensando que com todo esse ócio e tanta naturaleza fica pra lá de propício volta e meia bater essa onda psico-filosófica. O pós adolescente argentino se joga na piscina e a mãe ralha mais alto sobre o almuerzo, e a iguana se esconde apressada no ralo porque lá vai o Paco e tudo transcende menos o instinto.

Thursday, February 15, 2018

Reset

Bora se perder de vez para ver no que dá, donde fica, como é. Me perde que eu te perco, se perde de vez desse eu aí que você trouxe para mesa e traz outro, eu trago outra e a gente cozinha tudo de novo, aperta essa massa, assa a carne por fora e se deixa cru por dentro, sela esse medo e se faz ceia à mesa. Vamo parar por aqui, dar um basta nisso tudo que já foi e começar do começo, tudo de novo só com novo sem nada repetido. Tira a mão do bolso, descalça os pés, abre esse peito e vem cá, vamo lá, bora juntos. E se tudo pode ser diferente que seja, infinito enquanto dure, inteiro até o talo, que não sobre nada de fora, que não nos falte alento, que nos demos tudo que temos um pro outro sem freio de mão, de pé, de cuca, de peito. Que seja longo, que passe lento, que vibre lindo.