Wednesday, March 29, 2006

LA move

(Escrito em setembro de 2005)

What is it to be lonely? Lonely not on the sad sense of feeling left behind or helpless, but lonely as an unique individual that comes into this world alone by birth and will inevitably end alone, six feet under the surface of the same earth. Alone in the sense of no matter the family we come out to have or the friendships we get to make, we’ll always have the last word on every decision we take. Regardless of what anyone else thinks or wants, I'm the only one that can move my own legs.

Sitting in my lonely throne, facing all the major steps I'm currently taking, I wonder how many times I’ve felt this devastating but also comfortable loneliness. All the anticipation and expectations I can have towards anything that involves someone else it’s actually not scary, once I’ve got to understand that if it doesn’t work I’d still have everything I come into the situation with: myself. I’ll never be lost or lonely because I do have myself to rely on; anything else is just a temporary add on to my environment. As harsh as this may sound, it’s actually just a realization of the independence that being an adult provides.

Family may not always be the ideal foundation as one expect and they may not be there for you every time you “need”; friends may disappoint you, die or just grow apart, same with relationships; even dogs, the ultimate “best friend”, have a fifth of the life span of a human; regardless how many promises and contracts one can make, nothing is permanent but one to itself.

Everything in life is transient, from the people we love to the things we prioritize, and that doesn’t make people any less special, however, that just make more acceptable the changes that life may present without warning, and all the surprises that may tremble my certainties and wills. No matter how much I can plan the next step and believe that I have everything figured out, if at some point the whole structure falls apart, I’ll still never be alone; worst scenario, I get to become stronger as an individual. People and things don’t fill the hole, they can’t complete anyone else but themselves; if there is a hole, is actually my own incompetence of fulfilling my life with my strength, drive and mind.

I'm not looking for a life preserver in the storm; I'm never relying on a “comfort zone”; I'm not relieved with all the things (I think) I know. I don’t see people as the solution for my insecurities and shortcomings, not even a solution for my emotional and material necessities. People are to be enjoyed, to be inspiring, to be refreshing; people are to be intriguing, to be studied, to be loved; people are to be observed, understood or just an endless enigma, but people are definitely not to be my tacit solution.

So here I am living life fully, taking risks, getting truly involved; here I am not knowing, not expecting, not resting on shallow certainties; here I am not paralyzed either scared with all the uncertain steps I’ve got to take and the transience of all the “permanent” things. NOTHING will ever stop me trying to improve it, to make unexpected decisions that may require a whole new plan. It’s not time, either life, that decide where I go and who I am.

I'm never lonely because I’ll always have myself.

Caminhantes

(Escrito em maio de 2005)


Sigo meu caminho, cheia de terceiras intencoes, mais desejos do que necessidades e sem aviso esbarro em outro caminhante, outros.
Quanto mais vivo mais entendo que somos sozinhos, que encontrarei tantos pelo caminho, que me apaixonarei, que me vincularei, que vou amar amando e tambem sem ser amada, que certos amigos irao e virao em relampago, outros ficaram de vez, mas sempre mantendo seus proprios desvios. Vidas sao paralelas!
Nao existe juncao, existe uniao. Me uno aos que me identifico, mas de tempo em tempo o circulo se recicla, e mesmo os que ficam mudam de proximidade.
A vida desmembra a ilusao da certeza. Planos existem para serem mudados e por mais que eu tente andar na linha do conhecido, acabo em tropecos, me deparando com a flexibilidade do futuro.
Nao ha posse, nao ha dependencia, nao existem nos atados entre caminhantes, todo encontro inclui em algum ambito, desencontros, eh de solidao que somos formados.
Posse eh uma palavra burra.
Saber nao torna mais facil, e sim mais adaptavel as mudancas no caminho.
Continuo aprendendo a deixar o outro ir, talvez ateh para nao mais voltar, sem duvida bem mais dificl para mim do que deixar vir, deixar entrar.
Ninguem percorre o mesmo caminho, e por mais que promessas sinceras sejam feitas...acima de tudo, promessas de futuro nao deviam ser feitas.
Promessa inclui supostamente cumprimento da mesma, e a realidade eh que nao ha certeza que a sustente.
Promessa eh uma palavra raza.
Deixa estar, deixa ser, deixa ir e segue, segue sozinho com outros caminhantes no peito, mas com o entendimento da solidao maior que eh nascer no mundo. Ateh gemeos nascem separados. Amor existe para ser vivido voluntariamente e nao para ser cobrado.

Tuesday, March 28, 2006

Work in progress

Todo dia a caminho do mercadinho passava pelo barco suspenso na garagem de madeira. Sabia que o lago subia quando a neve se rendia ao sol e vivia imaginando o dia que o lago tivesse tão alto que chegasse a encostar na passarela do pier. O barquinho era seu porto seguro, mesmo nunca tendo parado para ver de perto, olhava de longe quando de passagem e sentia aquela certeza no peito que tudo estava em seu lugar. Quando pensava no verão por vir se enchia de insegurança sabendo que um dia o barquinho estaria perdido na água e não mais em seu posto seguro.

O barquinho era só o pequeno ponto em foco do retrato maior, ele era tão persistente em seu olhar que Sophia as vezes esquecia de perceber a imensidão do lago, as montanhas com cobertura de neve e o céu que insitia em gritar azul mesmo quando o inverno congelava as bordas do lago.

Quando contrariada saia de casa, se prendia a imagem do barquinho e lá ia ela dirigindo entre os desfiladeiros escorregadios, sabendo que se chegasse ao barquinho não havia mais perigo de se perder em si mesma. Gostava de olhar o lago da varanda de casa, em suas pausas do teclado se permitia calar até a mente e ficar ali a olhar as margens verdes do lago que gradualmente ficavam mais e mais azuis até virarem de um negro tão profundo que parecia mais abismo.

Escolhera o exílio em terra de ninguém. Antes não pertencer no despertencido.

Haviam quase três meses que se mudara para o time share, cedo chegaria ao seu prazo de validade e teria que voltar a cidade. À noite, quando à beira de desligar seu corpo de sua insônia, ouvia o repetido tic tac do relógio da lareira ecoando pela casa e pensava nos segundos desperdiçados. Volta e meia pensava nisso, na vida passando a cada segundo, e em todos os minutos negligenciados. Foi assim que em um de seus devaneios resolveu fugir da cidade grande, correndo dos segundos apressados se jogou nas montanhas, esperando que talvez daquela neve toda saisse algum coelho, ou quem sabe até alguma boa idéia para o livro.

Terça-Feira havia ligado para Keith, e não sabia ainda se essa havia sido mais uma de suas "boas" idéias. Quando achava que havia superado seu tempo de "fogo de palha" se descobria mais uma vez cutucando cobra com vara curta. Era para ter sido reclusão, mas depois de três meses já não aguentava mais só os próprios pensamentos, precisava ver um corpo vivo e mais do que tudo, conhecido. Ele devia chegar em Reno no Sábado de manhã, e para ela dirigir uma hora até o aeroporto era um sacrifício assombroso.

Desenvolvera um certo medo do escuro, mais do que do escuro, medo da mata que cercava a casa. Olhava da janela embaçada do segundo andar as árvores secas e achava estranho a ausência de cercas. Pensava em ursos, coiotes, mas o maior terror era pensar em pessoas estranhas. O trauma insistia em morar nela mesmo depois de mais de ano. Criara vários recursos anti-pânico e sabia que a ida para as montanhas requerera tanta bravura que se surpreendera com si própria, mas mesmo assim volta e meia se perdia em lembranças um tanto desafortunadas.

Só três pessoas tinham o número da casa, as quais deixou bem claro que só a ligassem em caso de emergência. Tentava ao máximo não pensar na cidade, nos amigos, em Paul e tudo que deixara para trás. Agora, à beira de seu aniversário de 33 anos, Sophia finalmente entendera que era hora de mudar, de deixar os fantasmas para trás e começar tudo de novo.

Tanta coisa havia acontecido desde o incidente. Lembrava-se do momento exato depois que ele partiu e de todas as sensações que sentira; lembrava-se de se sentir rasgada por dentro e incapaz de manter a sua história com Paul; lembrava-se do medo profundo que a invadiu misturado como uma insegurança insólita que não conhecera até então; lembrava-se de não querer conversar nem compatilhar com ninguém o que acontecera, porém mais que tudo, lembrava-se tão vividamente de querer simplesmente se desligar de todas suas tomadas e deixar a água levar o resto.

Quando acordou no extenso sofá se descobriu tão encolhida que seus braços e ombros eram pura caimbra, espremeu os olhos e a testa tentando limpar as memórias, e lembrou-se de Billy Holiday cantando Stormy Weather, lembrou-se do CD que havia feito para inspirar Joana.

As duas sentadas na cama, chapadas comendo passinhas, rindo até a morte da estória com Mauro e o final de semana em Angra. Tão novinho e tão safado, cheio de labia e jeitinho de carioca, tão ingênuo em seu suburbanismo, sem noção da maldade das duas. Riam e falavam do pau perfeito que ele tinha e de todos os pelinhos lourinhos de seu corpito marombado. Mauro tinha uma certa pitada de Deus grego em suas perfeições, os olhos negros como pérolas gigantes, os cílios longos encurvados, o corpo olímpico de atleta. Mauro era querido pelas duas, e certamente por qualquer um que o conhece-se, tinha um sorriso tão maroto que as duas gargalhavam só de lembrar. Sophia o levara para a praia particular da casa do condomínio e os dois numa taração desenfreada, se comeram no quiosque de palha enquanto os pescadores olhavam do pier. Sophia sempre gostou de ser doidinha e selvagem, enquanto Joana só veio a descobrir sua perversidade mais tarde com Rodrigo.

Foi numa tarde durante a aula de ginástica que Sophia notou Joana no reflexo do espelho, ela tinha a mania de ficar fixada com beleza e Joana fez com que ela esquecesse a aula. Ela vestia uma calça rendada branca transparente bem grudada ao corpo encima de um colã também branco da O'neill, os cabelos encaracolados estavam presos num um rabo displiscente e Joana estava tão morena de praia que chegava a brilhar, Sophia em seus agachamentos tentava imaginar que tipo de personalidade aquela menina/mulher tinha, e como sempre chegava a conclusão de que ela só podia ser burra uma vez que era tão deslumbrante.

Demoraram pelo menos duas semanas até que as duas se esbarraram em uma noite de amigas em comum. Dali para frente foi fácil se aproximar e mais e mais as duas viraram o grude básico que meninas sempre adoram criar: Iam para praia, academia, festas, cinema, tudo juntas e não demorou até que as duas fossem sempre associadas uma a outra. Com o passar dos meses, Sophia foi gradualmente se desapontando com a alienação de Joana. Apesar de todo divertimento e graça que as duas tinham juntas, Sophia sempre achava que faltava cultura, leitura, arte, curiosidade em Joana. Sophia era assim, um posso de arrogância positiva, e não era à toa que chamava o grupo de amigas em comum com Joana de "party friends". Joana era inicialmente para ser só mais uma, mais havia uma ternura em Joana que despertava Sophia, Joana era de fato interessada em Sophia e suas questões, sabia ouvir, perguntava mais, tentava entender, mas sempre acabava a conversa achando que tudo sobre Sophia parecia profundo demais para sua cabecinha Zona Sul. Sophia sabia disso e não demorou até que ela começasse a se afastar.

Foi numa tarde na casa dos irmãos, cercada de música, poesia, e conversa boa que Sophia perdeu a paciência. Viu o nome de Joana no celular e ficou na dúvida se atendia, pensou , repensou e "fuck it", atendeu. Não deu nem tempo de respirar, Joana falava sem parar do gatinho de sábado e que Rodrigo ligou no domingo e que o gatinho da semana anterior ainda insistia, e que a praia estava bombando e blablabla... sem perceber, Sophia já com o celular longe do ouvido entendeu que se não dissesse nada naquele exato momento, ela certamente não atenderia nem a próxima, nem nunhuma outra ligação de Joana.

- Jo, para! Para de falar, eu não aguento mais. Isso é tudo que a gente tem para conversar? isso é tudo que a gente é? Duas cocotas superficias? Talvez isso seja tudo que você seja mas eu tô pulando fora. Tô aqui cercada de amigos artísticos, interessantes, inteligentes, criando poesia, cantando cartola e quando você apareceu no bina me toquei de há quanto tempo venho me afastando da sua alienação. Foi mal, acho você querida e tudo, tenho mó amor por você mas na boa, tô legal de cocotagem, boa viagem!

E desligou sem pena. Sophia era assim, toda definitiva, uma vez que se tocara de algo não costumava voltar atrás, sabia que Joana devia estar devastada ou putérrima do outro lado, mas a verdade é que realmente estava de saco cheio e não achava que havia outra maneira melhor de se afastar se não sendo sincera. Sophia detestava ter pena dos outros e nunca alimentara arrependimento, então seguiu seu dia com seus "amigos artísticos" e esqueceu das mágoas e "besteiras".

Joana ligou uma semana mais tarde, dizendo que precisava encontrar. Sophia, apesar de relutante, chegou ao Shopping da Gávea quinze minutos antes da hora que combinaram, entrou em duas ou três lojas distraida sem conseguir concentrar em nada se não a conversa por vir, estava preparada para o pior, Joana dramatizando tudo e falando o quanto Sophia era egoísta e insensível e toda a novela que estava por começar. Quando começou a se arrepender de ter aparecido, viu Joana driblando as cadeiras do Batata Inglesa, toda gazela em seu andar bailarina. Imediatamente perdeu os pensamentos e se encheu de saudades e ternura. Assumiu que sentia falta da parceria mas que mantinha as coisas que dissera, Joana bebendo o mate pelo canudinho veio com um discurso total surpresa para Sophia:

- Ai cara, tu é foda Fi! te falar que quando você desligou fiquei tão revoltada e perdida que não sabia nem o que pensar, chorei, gritei, liguei para Pedrita, que aliás so falou merda, e voltei ao limbo que eu estava, mas enquanto a semana passava fui me tocando doo mundinho que eu resolvi viver, fui me tocando das pessoas que eu tenho a minha volta e tudo que eu costumo priorizar, fui tentando ouvir mais e mais tudo que você falou no telefone e os motivos pelos quais amo tanto você. Cara, é foda falar isso, mas na real você tem razão, e por mais que não seja facínho facínho como eu queria que pudesse ser, a verdade é que eu quero mudar, cansei das amigas, das baladas, da maromba, dos gatunos babaquinhas e toda essa besteira que eu sou, quer dizer, não é que eu esteja cansaaada, isso tudo é muito legal se eu tiver um outro lado também, entende? Eu quero ser mais, eu quero começar a ler, ouvir música boa, ver filme que me afeta, sei lá...eu quero virar adulto de certa forma, quer dizer, não adulto exatamente porque tem muito adulto idiota, eu quero ter algo mais a oferecer, entende? É óbvio que você entende, era exatamente disso que você estava falando, mas eu não sei por onde começar...Me ajuda?

Estava um frio fora do normal, mesmo com o sistema de aquecimento central. Enquanto ligava a lareira olhava para o céu cheio de estrelinhas através do imensa janela para varanda, e contemplava o reflexo prateado da lua nas águas escuras do lago. Billie Holiday já não cantava mais e percebeu que estava com fome.

Descobrira sua habilidade com comida desde que havia se mudado de país, com a ausência de empregada aliás descobrira um bando de coisa: Detesteva limpar mas era compulsiva, inicialmente ia deixando juntar juntar juntar, até que um dia olhava uma manchinha na pia e se ela ousasse limpar já sabia que não iria parar até que a casa toda estivesse um brinco, limpava chão, escovava a banheira (o que mais odiava), aspirava os tapetes, limpava os ladrilhos do banheiro, ficava tão obececada que chegava a suar. Tinha horror a laundry, ô chatura que era lavar roupa, mas prefiria lavar toda semana do que não ter roupa na hora que queria; não era boa com lixo, detestava fechar o saco e leva-lo para fora e se pensasse bem, tinha que reconhecer que não era a mais animada para tarefas de casa em geral, mas sabia o prazer que sentia quando encontrava tudo limpo e em seu lugar.

Com comida era diferente, começava sempre de uma idéia solta: "molho madeira"! Dali procurava 4 ou 5 receitas na internet como guia, as adaptava ao próprio gosto e sem planejar ia criando os acompanhamentos. Devia seu talento de certa forma ao breve "casamento" com Alex e todos os truques de Chef que ele a ensinou. Adorava caramelizar cebola e quase todos seus pratos tinham cebola ou alho como base.

Cozinhar lhe dava uma certa paz, quieta com os ingredientes, cortando o coentro, lavando os tomates cereja, marinando o filé de Alaskan Halibut, ia limpando a mente, fluindo em seu pequeno objetivo da noite.
(CONTINUA)

I BELONG (amizade e tudo na vida)!

Esse final de semana, cercada de amigos, de contato, de abraço, de sorriso, de pessoas que me identifico, voltei a sentir a sensação de pertencer, de fazer parte! Vinha me sabendo despertencida desde que cheguei em LA, sem grupo, sem roda, sem identificação com nada nem ninguém. Andava assim, procurando meu lugar nesse mundo, mas tava era danado de achar.

Cada vez que me mudo, que recomeço, tropeço num mundo estranho, e fico ali tentando me convencer que pertenço, que não preciso de nada se não de mim mesma, ô mentira...

Esse sábado passado, em meio a um grupo despirocado de brasileiros queridos, redescobri minha força, meu caráter, me redescobri. Reencontrei a mulher guardada na gaveta dos fundos, a mulher que sei que sou, a pessoa que me orgulho de ser e naquele segundo decidi que chega: imediatamente perdi peso, o cabelo cresceu, as unhas se pintaram, o corpo emagreceu, um bando de livros foram e estão sendo lidos, o namorado se reapaixonou ainda mais, a comida ficou mais gostosa e a casa mais organizada, nossa...

PARA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!!!

PS: Mais do que nunca: Rio, tô chegando!!!

Friday, March 24, 2006

Sindrome de Tieta

Andava insegura ultimamente, tensa com a aquela estória de voltar à pátria depois de tantos anos depois de tudo que passou e mais ainda, de o quanto mudou. Ficava meio incerta com a exposição a crítica alheia. Não esquecia as referências de sua amiga à sindrome de Tieta. A verdade é que a pessoa que partiu sem saber 3 anos atrás não existia mais.

Pensava em suas melhores amigas, seu pai, seus irmãos e uma sensação de estrangeiro invadia; pensava em todas as expectativas dos que não a viam há tanto tempo e as vezes chegava a pensar que não queria mais ir não; Pensava em não dar na vista se se assustasse com o envelhecimento físico do pai, em não transparecer que se sentia sozinha e insegura no seu mundo novo e que o tal do sucesso ainda estava para lá de longe de ser alcançado.

Queria muito caber no mundo que cada um achava que ela vivia, queria muito ser a pessoa que merecia, mas a verdade é que os tais dos últimos 3 anos foram inicialmente feitos de inconsequência e mais tarde, como consequência, muito sufoco. Vivia de rotina e solidão, sabia que o caminho que escolhera era construído com pedrugulhos, e essa fora de certa forma o motivo da escolha de mudar pr o mundo à fora.

As vezes, quando uma certa melancolia batia na porta dos fundos, alimentava lembranças saudosistas da bolha em que antes vivia, de seu mundo perfeito que deixara para trás. Lembrava-se das grandes e lindas amigas, da faculdade caríssima, do carro do ano, das roupinhas de marca, das noitadas absurdas com grandes amigos, de tudo que seu mundo havia lhe proporcionado, e que por ter sempre sido assim, nunca percebera o valor. Lembrava-se de suas certezas: formada aos 24, carreira perfeita aos 26, filhos com 28, rica aos 30 e poucos, sempre soubera que esse era seu futuro, e certamente teria sido se não tivesse decidido mudar tudo.

A decisão de mudança veio em etapas, dos 15 dias fora resolveu que seis meses fariam mais sentido, queria "dominar a língua"; de paixão em paixão fazia cada vez mais sentido ficar. Em torno do segundo ano se viu solteira, sozinha, sem vínculos e resolveu que essa era deixa para correr atrás das próprias conquistas, para deixar para traz a segurança do berço e infrentar os gringos de cara dura, resolveu suceder sem saber como, mas mais do que tudo, resolveu alcançar tudo que antes tivera tão inato agora através de suas próprias mãos e haja doze trabalhos de Hércules no caminho.

Faziam agora mais de três anos de luta, de uma batalha com si própria e com as certezas sobre si mesma. Três anos de estranhamento, de choque cultural, de adaptação com tudo, três anos de procura por seu lugar numa terra tão desconhecida para ela, de procura pelas amizades certas e um baita de um fechamento à amizades erradas; três anos se conhecendo e se desafiando tanto que as vezes esquecia de que estava cansada.

Pensava em voltar, mas logo se tolhia, cortava os bracinhos da plantinha a crescer na tentiva de fazê-la mais forte. Se olhava no espelho e falava alto que só voltava com terreno conquistado, que sua cruzada era imprescindível e que seria inaceitável voltar por cansaço e sem os tais botões dourados na lapela.

Agora, dez dias antes da visita começara a ter pesadelos, não vinha dormindo direito desde que comprara a passagem, acordava em torno das 3, 4 da manhã e não voltava a dormir por horas, olhava para o namorado ao lado em seu sono quase infantil de tão pacífico e se sentia mais tensa ainda com a ignorância alheia, a essa altura do campeonato como é que alguém podia dormir tão bem? Era só ela que se assombrava com seus próprios dramas a ponto de gerar insônia?

Não tinha saída, o jeito era aproveitar as 24 horas de cada dia até que as fatídicas 18 horas de vôo chegassem, e dali em diante o futuro tava mais para cenas do próximo capítulo...

Thursday, March 02, 2006

Viciosinho Basico

Parei de beber que nem parei de chupar dedo, num espasmo! No segundo próximo, já nem lembrava mais que precisara de decisão...

A Verdade é que bebida nunca foi meu forte, do gosto à rebordosa, sempre prefiri uma ervinha natural, e ultimamente até dessa posso dizer que reinvindiquei, se comparada a força imensa do antigo hábito agora desadiquirido.

Numa retrospectiva, lembro agora de quando comecei com essa estória de decisões definitivas.

A primeira foi em torno dos meus 4 anos de idade. Atravessando o rio de Itaúnas lá da ponte com meu prezado pai Ed Mort, notei do alto da minha vista panorâmica, que as crianças nativas nadavam sem as tais das duas bóias fofoluchas. Intrigada que só, soltei a pergunta infantil de maior recorrência: "porquê?'. Ed explicou que elas aprenderam a nadar sem bóia. Indignada, porém mais do que tudo desafiada pela sagacidade alheia, em um ato drámatico bem Chicaniano, arranquei as bóias vermelhas de meus bracinhos e as joguei lá de cima da ponte mesmo sem arrependimento, cheia da minha bravura infatil. Naquele mesmo dia meu pai me ensinou a nadar sem as tais. É importante ressaltar que não foi um aprendizado mágico, se quer prazeroso, e sim uma forçação de barra que Ed sabe muito bem impor, a famosa técnica do "vou te soltar e você nada em minha direção, mas se preocupa não que eu to 'bem pertinho'", óbvio que o bem pertinho ficava a cada braçada mais distante, Ed sorrateiro ia dando passos maiores para trás e acabava que minha revolta se transformava, sem escolha, em busca pela minha sobrevivência, e lá ia eu contrariada e puta da vida reclamando a cada braçada até aos prantos encontrar os braços fraternos. Em torno dos sete, comecei a competir.

Depois vieram os tais dos dois dedos. Desde que me dei por gente, adquiri o hábito de chupar o "fura-bolo", e não satisfeita com a minha fixação oral e a "boca pequenininha" que deus me deu, tambêm o "cata-piolho". Chupava-os diariamente sozinha ou em público, sem sombra de culpa. Uma noite, durante meu sétimo ano de vida, enquanto deitada no sofá da sala a contemplar meu vício, me deparei com a idéia de que não cabia mais a uma mulher tão madura quanto eu mesma me considerava, andar por aí com um dedo na boca, quem diria então dois...essa foi a última vez que usei os tais dedos para um fim tão infantil. Passei a mascar chiclete.

Com os anos foi a vez do cigarro. Em algumas fases da vida, resolvi por diferentes motivos que tinha sentido fumar o tal do Marlboro, de um dia para o outro passava a comprar maço, arranjar motivo para fumar e achar legal fazer parte do clube. Fumava por meses, até ano inteiro cheguei a fumar, mas do mesmo jeito que começara eu também dava de concluir o mal-hálito, quero dizer, o mal-hábito com decisão aguda, e da noite para o dia esquecia que um dia havia fumado. Agora fumo bagulho.

Na mesma onda parei de beber depois de 3 anos de um Estados Unidos para lá de alcoólico. Transo bastante para compensar.

Entendi então, a medida que venho me conhecendo mais e mais, que não sou uma mulher de vícios patológicos apesar da minha personalidade compulsiva, porém, esse mesmo entendimento pode acabar por me pregar a pior das armadilhas: Presa a falsas certezas, achando que sou senhora soberana de meus hábitos, me convenço capaz, que seja a droga que for eu não hei de me viciar, e num reverso da fortuna, quem sabe amanhã você não esbarra numa rua escura comigo magrinha e viciada na droga-da-hora que eu me achava super-herói demais para me viciar...