Thursday, August 18, 2016

Insatisfeita, Incompleta e Faminta

Vivo uma relação de amor saudável com um homem dedicado e companheiro, moro em um apartamento bonito em um lugar legal e tenho uma carreira sólida construída com muita determinação e amor, me encontro à beira dos quarenta tendo conquistado todos os elementos convencionais para um adulto vivendo na nossa sociedade contemporânea, ainda assim me sinto insatisfeita, incompleta, faminta. Sinto uma angústia enorme dentro do meu peito, como se eu não coubesse nessa realidade, olho para minhas roupas no armário, os gastos específicos no extrato bancário, o ser cool da zona sul, e acho tudo uma bobagem dentro desse meu momento. Troco as cifras por moedas estrangeiras. Não consigo me imaginar aceitando o stress e os temas que me cercam, sento na mesa dos mesmos restaurantes e acho tudo um pouco exagerado, fora de contexto, não acho tanta graça nas festas e noitadas badaladas, acho meio chato ser pop, cool ou in. Acho também a cidade linda, a temperatura amena, as cores do dia mudando deslumbrantes, gosto da minha casa, de comer bem, de conforto, dos meus amigos, do meu trabalho e do meu amor, mas não é o bastante. Ouço o chamado. Quero ter filhos, quero formar família, quero exercer e amar muito meu trabalho, e sinto que para chegar à esse lugar preciso atravessar um deserto de tudo isso. Descobri nos dois meses fora um lado meu mais calmo, mais paciente, suave, generoso, doce, e um bando de coisa legal que me fez mais legal para mim e para os outros. Encontrei uma frequência de pensamento, de resposta, de troca que me permitiu paz na escuta ao outro e a mim mesma. Destrinchei cerne de conceitos muito importantes para mim que não consigo ainda, por inabilidade minha, manter de acordo com tudo que sinto aqui em meio ao urbano. Sinto fome de mundo sem certeza, sem meta e mais caminho, sem ego, sem fama, sem olho por olho e dente por dente, sinto vontade de viver por alguns meses sem objetivo distante, só no presente. Não procuro encontrar o nirvana, também não é assim, mas quero ter agora uma jornada individual por lados meus que nem eu conheço, viagem sem data de volta nem plano à longo prazo, viagem para mergulhar no que o universo me oferecer e ver sem expectativa aonde isso vai dar. Tenho medo sim, bastante até, posso até querer voltar quando chegar, mas me sinto preparada com todas as ferramentas para encarar o que não sei com destreza. Estou pronta. E peço perdão pela quebra de quórum, perdão à tudo e todos que esperavam de mim outra coisa. Sinto mais do que nunca que serei sempre um humano muito feliz, cheia de entusiasmo para vida, mas também extremamente descontente, sempre atormentada com minhas questões filosóficas sobre quem sou e o que eu vim fazer aqui, como quero viver essa meu curto tempo na terra, quantos mundos cabem em mim? Vivo em ciclos, mudo de cidades, países e mundos internos, conquistando metas a longo prazo com compromisso e amor em cada lugar que escolho, mas sinto claramente o início, meio e fim desses ciclos eventualmente e a necessidade de começar outros. Será que inteligência emocional é saber fechar os ciclos com gentileza quando eles se findam e não estendê-los até uma quebra traumática. To tentando chegar lá. Tenho fome de experiências diversas, de culturas outras, de pessoas que pensem, falem, sintam diferente de mim. Quero agora mais do que nunca ter liberdade de viver sem controle do futuro, em outras cultura, outra língua, outro céu e mar, para que antes de me entregar ao ciclo dos filhos eu possa mergulhar de peito aberto e cabeça livre nesse ciclone que gira em meu peito.