Wednesday, July 25, 2018

Recomeço

Dividida entre a vontade de começar de novo e a falta de vontade de qualquer coisa. Entre o ímpeto e a paralisia. Entre o ontem e o hoje porque amanhã peço que seja outro, diferente, outro dia, outro começo. Entre o amor e o desapego. Entre ir e deixar para trás. E bate uma tristeza danada, uma vontade de chorar, uma falta que faz o que tanta angústia trazia. Esse desencontro constante dentro de um encontro que meio que nunca começou por uma parte, ele ali, travado, cerceado em cimento enquanto meu rio corria, lhe atravessava tão pouco molhando suas margens. E o rio tentou, mas passou desperdiçado e aqui eu desaguo, não seco, perder a ternura jamais. E tem dia que um vazio rasga o peito ao meio, vai cortando com um pequeno alicate ao longo do dia até rachar por inteiro o torso, torço para ficar para trás mas a coisa volta, assombra os sonhos, vem em memória perdida e um bando de sensor que acha resquício por onde anda, tato, olfato, escuta, você vive aparecendo por aqui. Mas vai embora logo, por favor, você que me trouxe tanta dor e aperto, você que tanto rasurou o que mais importava, eu te importando pro peito e você sem exportar nada, guardando tudo a sete chaves num poço de desconçolo. Que cansaço, fico exausta só de lembrar, de ressentir essa memória amarga de me sentir invisível. Chega.