Thursday, November 24, 2016

Quando Menos é Mais

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Sai da casa de praia deixando umas lágrimas pela varanda mas animada com a mudança de ares. O bangalô, que nunca foi o que meu antigo ego sonhou, acaba que não podia caber melhor nos planos que nem eu sabia que tinha.

Do lado de cá da rua principal tudo é diferente, ouço mais pássaros do que ondas e de manhã acordo com grunhido de macaco e galo cocoricando. Minha casa não tem porta e o banheiro é uma casinha do lado de fora. O pessoal das casas do entorno diz que tem mosquito por aqui, mas nunca fui sangue do bom e me mantenho sem picada para coçar. Hoje à noite chega furacão e deve faltar luz na cidade, tô preparada com minha lanterna e duas velas carcomidas. Fui do ar para o ventilador, da cafeteira para o coador de pano, do pé direito alto para teto de madeira. Tudo é muito mais simples, a cozinha, as paredes, os espaços, os contratos. Tudo condiz com que eu vim me perguntar aqui: Com quanto eu posso viver? Do que eu preciso para ser feliz? 

Descobri que prefiro andar descalça, na chuva principalmente. Minhas unhas esqueceram o que é esmalte e não raro são vistas cheias de terra, aliás como todas as outras mãos do povoado. Gosto de acordar com a primeira luz e só durmo tarde se valer muito a pena - vez em quando mando o report do mar para o grupo e volto direto para cama, mesmo assim o dia já começa cedo. Banho, prefiro ao ar livre, a cama vive cheia de areia e no chão volta e meia passa aranha para lá e para cá, mas o importante mesmo é que não preciso vestir uma calça. Não vejo TV desde setembro apesar de sentir muita falta de assistir filme, não tinha internet pra isso e agora que tenho as vontades são outras. Entrei em um carro duas vezes desde que cheguei, mas de resto o transporte por aqui sempre inclui vento (poeira) na cara, seja bike, moto ou quadriciclo. Meu luxos são comer a comida caseira dos chefs amigos, acordar sem despertador, poder dizer sim para todos os encontros possíveis e silêncios também e ter tempo o bastante para não precisar ter pressa. E o cabelo virou palhoça de novo, o corpo vive massacrado pelo mar e a pele tostada mesmo cheia de protetor, mesmo assim faz tempo que não me sinto tão jovem, tão forte, tão viva.