Monday, August 27, 2018

Desafeto

O beijo era macio algodão mas tinha muito não 
A transa era loca mas poca
Abraço quase ia mas parava antes do aperto
Dava a mão sem fazer muita questão
Concha, meu artigo favorito, tinha rarefeito

E segredo doce contado em sussurro 
Olho no olho tão perto até virar três, quatro
Noite varada em transa longa e música lenta  
Aquela história de se olhar lá no fundo e falar como é bom, lindo e maravilhoso viver esse amor
Tinha isso não

Aliás de meu amor nunca me chamou 
Nem de linda tinha o hábito 
Dançava agarrado só se bêbado
E o sorriso ao me ver, via não 

No fim já não perguntava mais como foi meu dia
Não dava presente de aniversário que o diga rosa de namorados 
Nem me olhava daquele jeito assim com detalhe 
Pulava da cama com pressa mesmo em domingo e evitava conversa
Corria do contato, do desejo, do afeto que fosse

E dizia sentir um grande amor 
Eu confiava
Mas onde ficava o amor, guardado aonde, para quando? 

Procurei em tudo que é canto 
Tentei de tudo
Esperei mais do que podia
Chegou não 
Liberei meu coração 


Thursday, August 16, 2018

Venho Sendo

Nem sempre acordo disposta. Cada dia faço o que posso. Volta e meia me deparo com minha própria cara e me assusto. Sofro com minhas questões, a tal da retenção de líquido - o que eu como reflete no meu rosto no dia seguinte, e dependendo do que for, shoyo, carboidrato, sal... desgosto total, mas tudo bem, trabalhamos com o que temos. Acordo feliz a não ser que algo grave aconteça mas nem sempre disposta. Tantas vezes me movo à contragosto, sei que preciso de mim para me mover para frente. Me aviso logo cedo que preciso sair por aí e o dia vai raiando e a urgência crescendo e vou fazendo um movimento avesso de criar o momento, me visto, top, legging/short, maiô, pé de pato, neoprene, vou fazendo os braços me vestirem pronta para toda e qualquer ocasião e, por um desgosto para com o planejado, saio por aí deixando ao gosto o que der na telha. Acaba que pedalo quando acho que vou nadar no mar, surfo quando saio para pedalar, corro na areia quando acho que quero mais é surfar, não tenho compromisso se não com a liberdade do desejo. Não marco tempo. Não sei até aonde vou ou fui, não tenho metas. Quero só começar o dia bem seja com o que eu puder me dar. Sei da diferença entre os cento e oitenta graus de céu azul versus as paredes brancas do meu apartamento, sei do barulho do vento no mar versus a vista da janela, e assim me jogo cedo no mundo nesse cada um dia que não volta nunca mais. E eu não volto nunca mais. Então que eu seja, e seja muito, muitas coisas. Venho sendo.