Monday, December 12, 2022

Sobre o Amor

    Com uns treze anos me apaixonei por bob marley, eu soltava o verbo com suas letras políticas e uma de amor ecoava junto, bastava cantar  “I’m willing and able, so I throw my cards on your table” e a frase ficava girando na minha mente. Eu entendia as palavras, mas minha tradução ainda não alcançava o tamanho do sentido. Alguns amores mais tarde, seu significado foi se alinhando e desde então eu carrego comigo esse conceito de estar disposto e hábil para se jogar na mesa, para se colocar integralmente num encontro como base do relacionamento. Vai mais ou menos assim, se sinto terreno fértil não me disfarço, não me escondo, não me mascaro, me apresento do jeito que sou - ponho as cartas na mesa. E sei que não sou fácil: não acredito em para sempre, em metade da laranja e defendo ainda que não existe futuro, sei da estranheza que isso causa, mas de fato é como penso. Para minha defesa, acredito no hoje, no que podemos construir  com a nossa história a cada dia, acredito em se ouvir hoje, em se entender e transformar desentendimentos em entendimentos hoje. Acredito em pedir desculpas, em abrir as sombras, em buscar crescimento no feedback do outro e terminar abraçados porque não se deixa problema mal resolvido pro dia seguinte. Acredito em cada um viver sua individualidade, ter seu mundo próprio e se encontrar no meio, alimentar o terreno do à dois com todo carinho e respeito sem destituir o nosso direito do à um. Acredito em se abrir, em se expor, em se deixar ser vulnerável e ver o que se dará no outro. Nossa, mas isso assusta… e que assuste mesmo o quanto antes os que não se identificam com o modo. Não me abato com a indisponibilidade do outro, entendo que naquele solo não cresço e sigo. Acho bonito quem tem a visão romântica do amor eterno, mas sei que amor não é o bastante. Amor incondicional então, vixi, não creio mesmo, fazer o outro feliz demanda saúde e isso implica em várias condições favoráveis. De gente boa o inferno tá cheio, ser legal não é o bastante. Se não houver afinidade e saúde no modo o encontro vira desencontro. 

    Amar é estar disposto e hábil a se entregar, mas também a não se perder de si.