Sunday, April 20, 2008

O Quarteto Feliz

As duas se ajeitam em seus assentos de couro no carro com os braçinhos cruzados para fora de suas respectivas janelas, vidradas no clube do bolinha rolando do lado de fora.

Elas assistem estupefatas os meninos no playground.

Os meninos se conhecem desde sempre
Ali, bem em frente aos olhos delas, se forma aquela alma masculina de conversa de homem
Eles falam de esporte
Eles sacaneam todo mundo e um ao outro
Eles falam grosso
Eles riem mais alto

Os quatro encostados contra a parede contam estórias
Parodiam memórias
Imitam os colegas de trabalho
 
Os quatro homens ali se divertindo sem preocupações maiores
Se permitem por um fragmento do tempo serem de novo meninos
Com sua fanfarra e juventude
Com suas risadas enormes que geram furacão de felicidade que contagia qualquer passante

Os quatro gargalham alto que chegam a contorcer o corpo de graça

Os quatro meninos estão felizes
Por aquele momento
Eles deixam o cabelo grisalho na pasta do trabalho
E voltam à arquibancada de cimento do recreio
Toda uma névoa do passado os entorna e revigora 

Os meninos tem no olhar o sorriso da primeira bicicleta

Enquanto a novata ri por fora da superfície desses homens meninos
A amiga, já acostumada
entende só pelo o tom o que é contado,
E ri para si vendo o profundo mais belo dos meninos homens



Friday, April 11, 2008

A Árvore


Um tronco de árvore dividido ao meio
Tronco fundado em raiz que corre quilometro debaixo da terra debaixo dos dedinhos longos da menina de cachinhos dourados
Ela molha as florzinhas rosas e amarelas que brotam aos pés do tronco
Ela sopra as pétalas com desejos suicida que elas se despetalem ao vento
Ela sopra cheia de vontades avessas
As flores resistem

A árvore cresce soberana
Majestade de suas bifurcações

A árvore mora em floresta encantada por gigantes que dançam com o vento balançando seus longos cepos e cantando em sinfonia com a brisa
Milhares de raios de sol desenham labirintos de luz entre as folhas e galhos
Milhares de raios de sol desenham labirintos de sombras entre as folhas e galhos
Luz e escuridão

Frio
Cérebro rasga ao meio e vira do avesso
Caos
Corpo suspenso e mar infértil
Esperando ralo, válvula de escape, buraco
Qualquer saída dessa esquina de mundo

Menina, ela precisa atravessar
Precisa tomar caminho construído com pedras tão pequeninas que podem ser confundidas com areia
Menina semeia desejos em gestos largos
Joga os braços para o alto brincando com o universo

Chega de pedregulho
Dá descanso para menina
Deixa ela voar com endereço
Deixa ela em paz por um soluço de tempo

A menina sonha sonhos de astronauta
Escada pro céu
Degrau por degrau
Ela corre em passos largos e para exausta nas curvas mais abertas
Ela se joga no chão e se espreguiça inteira
Invadida pelo abismo em seu peito
Seus braços e pernas arranham o solo de algodão e concreto
Ela levanta e corre em cima de nuvem preta de chuva

Ela chove
Ela despenca lá do alto e freia em susto
A menina se estabiliza na superfície suspensa à beira de desfiladeiro
Buraco negro cantando seu nome
Ela flutua

Menina forte que morre de medo
E as vezes esquece de ser Amazona e vira passarinho no ninho sozinho
Ela fecha a porta e encara o rosto no espelho
“Será que eu sou feliz?”

Menina chora calada no banheiro
Ela se tranca no quadrado frio e sentada na privada bege chora quietinha
Ela lambe lágrima salgada com gosto de esperança e ri oceano
Faz graça de si própria
Chora mais um pouquinho

A menina se sente tão sozinha que chega a abrir o sutiã achando que é ele que causa aquele aperto no peito
Né não
É o peito mesmo

A árvore não para de crescer
Se finca lá, seja vento, chuva, sol
Se alimenta de luz e terra com seus milhões de galinhos que se multiplicam em milhões de vertentes
Milhões de possibilidades
A árvore
A terra
Os galhos
As folhas
Raiz

A árvore transborda sua seiva quase mel entre cada curvinha de seu corpo gigante
Sangue de tronco pingando amarelo-ouro em folhas secas
Folhas secas que já foram brotinhos e adultas verdíssimas banhadas de fotossíntese
Folhas que se nutriram dos galhos, do sol, do ar, da terra
E depois caíram, secaram, desintegraram, viraram poeira
A árvore e seus ciclos
A menina e suas estações

A menina canta alto sozinha e gargalha ao vento
Ela quer abraçar o mundo
Ela quer abraçar mas mais do que tudo ser abraçada
A menina quer amar

A menina corre montanha e conquista o mundo quando chega lá em cima
Ela salta em passos enormes suando fantasmas e monstros secretos
E o dia amanhece e escurece e a noite invade o céu de estrela e a lua encara a menina de frente
Ela encara de volta

A menina corre na areia quente queimada de sol e respira partículas de vida
Ela respira fundo e sente arrepio do pé a cabeça
Ela se joga no mar de peito aberto cheio de desejo
Menina, mulher, criança, velhinha com anseio de compartilhar
A menina quer amar

Outro dia ela se pegou rezando no escuro debaixo da coberta de olho fechado e tomou susto quando viu que tava a rezar
Justo ela
Pensou um pouquinho e aceitou ritual
Gostou de virar desejo em prece e resolveu dar mais uma rezadinha, por que não?

E as vezes no banho debaixo de água quase fervente
Ela pensa na vida toda em flashes e filmetes
Ela deixa a água correr sobre o rosto
E enxurrada de memória explode em bolhas de sabão
O corpo dormente desiste de brigar com o mundo por aquele instante
O corpo não mais resiste e se entrega a água corrente

Nossa, ela vem pensando é demais
A cabeça vive a mil
Transbordando perguntas e conclusões
E quando se joga cansada no colchão
O corpo dorme mas a cabeça explode de questão
Ela fica lá, horas e horas calada no escuro
Fritando em deserto sem miragem
Rolando de um lado pro outro
Procurando conforto
A menina abraça travesseiro para tentar tapar buraco

De noite a menina fica mais vazia
Seu corpo não cabe em sua pele
Ela abre a porta de casa e quebra a casca daquele ovo gigante que ela é
Ela senta em sua cama e descama sua pele de cobra e fica ali
Crua, nua, se encarando assustada

A menina está cansada de brigar
De batalhar
De obstáculo
Chega, tá na hora de lhe dar umas férias
A menina quer poder ler o futuro
Só aquele futuro próximo que tanto cabe
Futuro assombrado por milhões de janelas a se abrir

A menina voa entre mil galáxias dentro de sua cabecinha cheia de cachinhos louros
A menina abre as asas querendo engolir universo

Ah vai, deixa a menina quieta
Deixa ela brotar, enraizar
Deixa a menina criar caminho
Deixa ela ser
Deixa ela estar

***

If I Leave I'll live

Tuesday, April 08, 2008

My Disney Princess Half

(Continuing "My Predator Half")

I've been punished for my honesty, punished for my rawness. I've been potentially banned from the lover's seat and thrown at the fuck buddy bench since opening up about my sexuality. I've been looked down as a desensitized woman with horny porn fetishes that sees men as naked shadows haunting legs around town. I've been mistaken for a cold stoned heart hunter that dismisses love.

What the hell??? I never meant that.

I do appreciate men as much as they appreciate women. And lets be honest here, a part of being single is the sudden ability to notice people around your world that you usually wouldn't take the time of the day to analyze. It's all so new; it feels almost like an anthropological study of a strange tribe. There is this undeniably open slot in my heart standing by to be fulfilled, and until I find the guy - and take my time to make sure it's right - I feel completely free to explore my perversions through observation.

I'm far from undressing every man I look at. Sometimes, whenever they forget the pressure to prove their masculinity, I catch myself intrigued and somehow infatuated by their vulnerability, that's when I watch them. That does not make me want to jump on their faces either to be fucked by them; it just makes me appreciate their manhood. Contrarily to what it may seems, I do not think about a cock when I look at a guy I like, it's actually the opposite. As my dear Manu says, my clit is on my brain; I see the charm, the wisdom, the personality first, the rest is all playfulness.

It's a double standard. It's ok for men to be ferocious and voracious; It's ok to want to eat women alive and to make open remarks about every skirt that passes by; It's ok to masturbate, to watch porn, to talk about sex disregarding true feelings, it's okay to be dirty; yet, we women can see through it and invest in them, knowing there is a much softer layer underneath the Macho Shell, no matter how thick they let it get. But for women...You are either the girlfriend material type or the depraved fuck, either the prey or the predator. Either or.

I truly believe I'm both.
I'm all in one.

Aren't we all?

My perversions don't take away my romanticism. My erotic fantasies don't overpower my yearn for love. My obscenity is fueled by intimacy and complicity. My sexuality comes along with the need for the right person to share it with.

It might be that I'm just unusually comfortable with my sexuality, but I'm as human as any other man and woman. I feel as lonely, or sad, or excited or melancholic or cheerful, or in love as anyone else. Ultimately, we all want the same things.

Love and happiness.

I want to be loved as much as any Christian girl would. I want to be two and one alone as much as any virgin with marriage dreams would. I want to be cared for and watched over, to be caressed and looked with tenderness as much as any Disney Princess would. I want to be the apple of his eye. I want to love and be loved and cry and laugh together. Tenderness and voracity, hunger and fulfillment, perversion and love, they all walking together.

I may be a liberal queen with family dreams, I just don't allow myself to fall under our society pressure to follow their format - I'm figuring out my own.

I don't look for strict definitions to my being. I don't fit in any specific profile. I'm good and bad, angel and devil, amoral and ethical, perverted and loving, I'm all of it. I don't have the need to restrict my margins, either to hide my perspective of this Human, All-Too-Human world. I accept my paradoxes and contradictions with a soul free of judgment. I welcome my humanity and the complexity of it disregarding acceptance.

Still, I want to be loved.

Saturday, April 05, 2008

Tolerance

But, isn't finding the right person about how compatible you are with their imperfections?

The Elevator

When I walk in the hall he’s already standing there. At first, he dismissively glances at me, but it seems that his eyes are immediately drawn back. He quickly stares, he notices that I noticed. Our eyes meet and quickly run separate ways.

Then there is the mirror. It takes a second until we realize we are both checking each other out through the mirror. A smirk. I don’t know where to put my hands; I don’t know how to keep still. I push the button knowing that he has already done it, our eyes play hide and seek.

The door opens. He holds back motioning for me to get in first.
“thank you”, “it’s a pleasure”, “lobby?” “yes”

I’m looking away sensing his presence. I can smell him, I hear his breath. He puts his hands in his pockets, he is looking at me. Is he a hotel guest? Is he alone? Where is he heading? How does it feel to be in his arms?

Our eyes keep meeting back and forth, grasping details.

I notice his clothes first
Tailor quality silk black suit
Turquoise button shirt underneath
Purple tie with thin yellow stripes
Shiny black dress shoes
Breitling Watch

He’s tall. He looks fit. Strong but soft hands, carefully messed up hair. Dark complexions. Blue eyes, sterling blue. Thick bottom lips. He opens a smile, he’s sizing me up. His head slightly turns to the side, as it to look into it better. He notices I'm observing him and turns his head away. The elevator stops. I sigh. We both motion to get out and our shoulders touch softly bouncing each other back. The door opens.

We touched, it reminisces. Our eyes rest in each other.

Two people stare at us trying to get into the elevator. We step back to opposite sides. Our observed voracity flows through the air openly, you could feel it. The four of us stand in a silence that could crash thin glass.

I look at him, he looks back, I look down. I get shy, very shy. It hits me how timid I can get when facing strangers that I’m attracted to, I simply tend to shut down and scare myself away.

He’s now openly watching me. I glance and his eyes linger for more. I motion to search for something in my purse. I feel silly for faking it, I stop. I lean against the wall and look up. He’s staring right into my eyes. I’m trying hard to escape from his hypnosis. What if he could be The One for me?

The door opens, the couple leaves first. We stand motionless for a split second, our eyes meet one last time. I wonder.

I walk away in large steps pretending purpose. I’m actually just a scared cat.

He says something to me from far. I don’t look back.