Monday, October 23, 2017

A Estrela, a Nuvem, e o Raio Roxo

Era uma vez, em uma terra bem distante, uma estrela cadente que se distraiu de sua rota, adentrou a atmosfera e entalou em uma nuvem negra céu da terra à dentro. Pelo canto do olho a menina lá embaixo viu o finzinho do cair da estrela e ainda virou à tempo de ver ela entalando - nunca tinha visto isso antes. A menina olhou fixo para a luz que saía de dentro da nuvem e pensou lá no bem fundo do peito o desejo mais importante do mundo. Fechou a boca e os olhos bem fechados, e falou para dentro um pedido tão grande, mas tão grande que chegava a ser simples, falou palavra por palavra bem devagarinho para que nenhuma escapulisse desavisada, “eu - quero - muito - ser...” e esperou a estrela escorregar da nuvem no colo de relva e barro que cobriam o solo, para só então dizer a última palavra. A menina abriu um olho só, esperando ela cair, mas só a pontinha das duas pernas da estrela espiavam a terra por baixo da nuvem negra. A estrela pendurada pelo braço, louca para escorregar de volta em sua rota, brilhava em seu pulsar, enquanto a nuvem negra a apertava firme como mão de bebê aperta dedo dado. A estrela se esgueirava em um rebolado lento mão de nuvem à fora, mas a nuvem negra insistente, apertava mais ainda, enquanto a menina segurava o fim do pedido na ponta da língua. Ela pensou em desejar que a estrela caísse, mas lembrou que se desejasse duas coisas, a estrela podia se confundir e achou melhor esperar quietinha mesmo. A estrela se sacolejava em um molejo quase tonto mas nada de conseguir escapar do aperto de nuvem. A estrela pulsava, pulsava até que tomou todo o ar que tinha e fez tanto esforço para se espremer nuvem negra abaixo que um brilho agudo saiu de seu peito e cintilou a noite escura. Foi aí que um raio roxo viu tudo lá da nuvem cinza, a que ficava mais alto ainda do que a nuvem negra, e sem pensar duas vezes relinchou toda sua força rumo à estrela. O raio roxo cortou o céu em tantos com seus troncos e galhos elétricos, guardando o mais gentil para tocar levemente a ponta do cucuruco da estrela cadente - tocou tão suavemente mas com energia tamanha que a estrela cadente levou um choque de força extrema e se impulsionou, escapulindo em um sopro só nuvem negra abaixo. A menina, agora com os olhos bem abertos, viu tudo sem um piscar de olho. Ela olhou atenta para o brilho mais forte que jamais tinha visto daquela estrela quente e cadente que agora cintilava olhando dentro do olho dela e da sua boca escapuliu, “Feliz. Eu quero muito é ser feliz.”