Friday, June 28, 2013

Retorno


Te senti tão distante que voei para longe, apertei o botão vermelho e me ejetei. Tão longe que quis que voltasse sem que te buscasse, que viesse vindo por saudades mesmo, sem alarde de covarde. Te senti tão por onde lugares que nem sei e nem importa saber, só sabia que nao era por aqui, nem sinal de vir. Nao te vi nem ouvi por mil léguas submarinas, me afoguei em espera que nao alcança nem descansa, e perdida à deriva me entreguei à canto das sereias do desencanto, resolvi nao querer mais te querer. Agarrada à ponta de rocha submersa descansei, ressequei em mar salgado sem terra à vista, abracei pedra vulcânica e corri de baixo d'água, mergulho livre, desbravando corais, correntezas colossais, atravessei caverna de tubarões martelo e confabulei, me avisaram que mar é vasto e haja pedras no caminho, mas estrelas do mar tão para extinguir, não esquece da que mora em teu peito. Subi em cavalo marinho e galopamos oceanos, me deixou à margem de estrela cadente e num trote eu escalei. Atravessamos céu aberto, galáxias e universos que tinha esquecido de ver, dei salto pra meteoro vasto, só nós dois naquele abraço, desvendando anéis de saturno e côncavos lunares, me deparei com o mais claro do meu escuro e respirei. Não precisava mais esperar, tinha me achado. De peito limpo ao meu leito retornei.

Thursday, June 27, 2013

A Arte do Desencontro

Mas também pera lá, na tentativa de acolher a diferença do outro, há também de se velar pelo o que é mais importante para si, o acolhimento, o zelo, o tato, se não fica tudo no vácuo, vazio, silêncio que ecoa mar em concha, eco que não se ouve em lugar nenhum se não dentro do próprio desejo desnutrido, não regado, e aí, deixa para lá...

(de milho em milho a galinha enche o saco)

Sunday, June 09, 2013

Paraquedas

Dizia que paixão era palavra pesada demais, alegórica, flerte com o fantástico, disse que é bom de amar, isso sabe, “ama muitas mulheres” falou chegando num posto de gasolina numa meia noite carioca, horário de abóbora, mas eu falava de paixão mesmo, vontade de mais histórias, mais memórias, mais encontro, encanto em meio a gozo e risada, e não digo feitiço, aí não vale, não conta, castelo de areia, atalho pra lugar nenhum, não falo de começar já do topo, sem tropeçar em pedrinha nem escalar pedregulho, sem achar as frestas certas pro tamanho do dedo, falo de encanto arrastado, de conhecer cada pinta primeiro, de saber a cor do castanho do teu olho de cor, de entender o calor abafado que seu corpo sopra, de ter te querido tanto com tudo antes de poder entender a fundo teu profundo. Te conheço aos poucos muito, ritmo ralentado, intervalos longos e doses homeopáticas cavalares de pele, de língua, suor, chuva que escorreu do seu rosto em curva cinza cheia de esquinas em que a gente não entrou em nenhuma, seguimos reto, em frente, para frente, seguimos, enquanto pingo grosso escorria da sua mão e pingava na minha assim de longe, sem encostar por que mão ainda é ruim de dar, mas dá outras coisas vai, sabe que ele dá, dá assim sem jeito, meio travado, contrariado, dizendo que não sabe fazer o que mais sabe, que não sabe tocar, conversar, interagir e para mim parece que sabe tanto, tudo. Pediu desculpas hoje a tarde e eu ri assim comigo, ri pensando na peça pregada, na realidade que nos foi apresentada, momento turbilhão, olho de furacão aí e eu aqui em maré baixa, vendo de longe seu tudo tão difícil e querendo chegar junto. Deixa que vento sopra e maré leva tudo pro seu devido lugar.

Tuesday, June 04, 2013

Ah Dois

Quando sua boca crava com força seus dentes na minha nuca deixando cicatriz de ímpeto inconsequente e sua mão imprime em vermelho seus dedos em meu quadril depois que bofetada não premeditada estala minha nádega na medida exata e treme tudo em mim que ainda se resguardava.
Quando seu cheiro entranha da ponta do meu nariz ao meu cabelo, todo meu diâmetro invadido sem parâmetro, cada molécula sua cavando terreno em minha pele, plantando ferormônio malandro que me enlaça em sua dança no decorrer arrastado do que vem depois da gente.
Quando sua língua quente lambe meus dentes, brinca com os cantos, corre mini montanhas e pequeninos vales sem pressa, me devassa frente e avesso e mergulhado dentre minhas pernas,
afogado em curvas e coxas, perdido na vastidão de cada detalhe, nada milhas em centímetros.
Quando teu corpo, devagar, entra todo delicadeza, e adentra de abrupto com firmeza o cerne do mais íntimo, e de repente, de relance, seu riso alcança meu olho bem ali em meio a gozo, extasiada, entrego as rédeas mais que antes e o tempo se desintegra em partículas meteóricas, pairando suspenso em universo paralelo à tudo o que não diz respeito à nós dois a dois.