Tuesday, June 28, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 32o dia

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Mathieu fixed my water housing and left to Nicaragua early this morning to meet his girl who's also traveling the world alone. The day we met he figured out the problem with the water housing in between dubbies and great conversation. I had been breaking my mind and whosever I met to fix it. He fixed it and left. We didn't have a chance to get to play with it. People leave all the time in this village of mostly foreigners, they arrive too, but the leavening part it's always bittersweet.
I have two more weeks and it doesn't seem enough. It's that wondering feeling that's itching my skin, putting my heart adrift.
Should I go somewhere else?

Monday, June 27, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 31o dia

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Choveu bastante e considerei brincar na lama, mal súbito de velha infância, aqui tem dessas coisas.
O fim de tarde veio sem onda, foi assim o dia todo, e na fissura de um mar aberto nos jogamos no outside de peito e pé de pato. Pro lado da montanha nuvem pesada, cinza escura, não demorou a descer, veio sem raio nem trovão, só água mesmo batendo pingo grosso em mar chapiscado, sons, tons, cores, meu olho emoldurando tudo em foto. Senti falta da câmera. Fiquei ali em meio a ondas grandes e chuva forte vendo os meninos curtindo, rindo, vendo as tantas curvas e sombras do mar, vendo pequenas montanhas que se formam e explodem em avalanches de espuma branca, vendo mil variações de luz em cada movimento, vendo tudo tanto, e eu ali pensando que nunca mais vou esquecer esse gosto na boca de mar e chuva.

Sunday, June 26, 2016

DIARIO DE VIAGEM - 30o dia

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Leo and mike got the first bus to nowhere and left. Dave got the same bus but destined to Florida. And then they left.
The day I met Dave things changed drastically without any try. Until then I had chosen a little loneliness for the mind and then it came Dave, with his unpretentious tenderness. Dave made me want to meet more people without realizing, and everyone I met through him has become part of my little family.
So life goes on and we stay, movemos adelante, no hurry or worries but with that sense that things come and go and some people you meet just stay in your heart.
So I'm sorry Dave, I know you're low profile, don't like much fuzz, and even less to be portrayed in pictures, but I couldn't help but trying to capture at least a tiny bit of the peace and greatness you give away, and I know no picture will ever capture even half, but I tried.
Much love in your path.
Adios amigos, hasta luego❤️

Saturday, June 25, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 29o dia

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Passei a noite estreitando meu relacionamento com um mosquito. Acordei seca de tanto sangue chupado, ele voando baixo, gordito que nem um cabrito bem mamado. Considerei matá-lo mas deixei ele em paz, cada um com seus fardos.
Levantei meio lenta, provavelmente fraca, coitada, depois de tão singela doação sanguínea.
Pela manhã o vento batia mais forte na praia, corria com pressa sob a areia. Fui entrando passo a passo na água, bem devagar, areia mexida no mar transparente formando reflexo de nuvem, espelho do céu. Entrei deixando a água subir molhando cada centímetro sem pressa. Fiquei ali submersa sentindo a corrente, pés ainda tocando o chão. Fiquei ali toda toda, achando que era uma boa hora para escrever poesia na mente. E de repente, não mais que de repente, senti o mar me sugar para o fundo como se fosse descer ralo abaixo, toda água sendo puxada da praia mar adentro, força monumental do que me parecia um mini tsunami, meu corpo lutando com esforço contra corrente sem a mínima chance de me segurar. Havia chegado a série do dia, e eu bem ali no coração da tormenta. Consciente da minha impotência, larguei o corpo na tentativa de guardar energia e deixei me levar. Eu de repente já lá no fundo, mar revolto, fúria de titãn. Lembra, não se desespere, lembra. Relaxei o corpo, olhei para os possíveis caminhos, vi três ondas grandes se juntando à beira de formar uma só a poucos metros da minha cabeça, me joguei junto adelante por baixo de toda sua força, me empurrando na sua inércia de movimento e em meio a muita espuma e explosão, comecei a voltar, precisei de mais três para chegar até algum chão. Foi puxado, literalmente.
Sai do mar de peito aberto, e rabo entre as pernas. Todo dia uma lição.

Thursday, June 23, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 28o dia


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O tempo passa rápido por aqui, dá um aperto pensar que não demora muito acaba. Nunca me senti em paz assim, não me lembro. Aqui da rede ouço os pássaros nas palmeiras e as ondas quebrando na areia, o mar subiu, o sol continua ameno.
Hoje não quero sair, vou ficar por aqui mesmo comigo e meus botões, muito agito tem sido, de repente me peço um certo silêncio. O esquilo desce sorrateiro o galho, outro dia deu um salto mortal e quase caiu na minha cabeça, tem coco também que volta e meia desce céu abaixo sem análise de risco, quando em vez ouço o vai e vem das motos checando o surf, surfistas em bando e sozinhos, mal fazem barulho, ficam só ali olhando o mar, o pico é quase dentro do meu bosque. Mudo de rede na medida que o sol muda de lugar, ouço macacos por perto com seu grunhido grave, uma família de cinco vive no entorno. Eu fico por aqui mesmo, sentindo a brisa, no balanço da rede e a calma que só encontro comigo.

DIÁRIO DE VIAGEM - 28a noite

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Gosto da cadência arrastada da risada do Dave, ele acaba de rir e sempre penso em pedir bis. Gosto do sorriso largo do Martin que enruga o rosto todo e sobra só o azul do olho, do charme da magreza francesa do Mathieu com seu bigode fino e olhos verdes, só falta a boina e o pincel. Gosto da doçura do rosto inteiro do Danny, e da piscina transparente que mora nos olhos do Ben. Gosto do olhar que penetra e te racha no meio da pequena Leo e do enigma nas poucas palavras do Tom. Vejo cada um em detalhe sem precisar prender muito o olhar, colcha de retalhos de pequenos retratos guardados na memória. Conviver é uma infinitude de afinidades e diferenças, cada dia um pedaço a mais se encaixa - ou desencaixa.
Hoje Il Principito nos brindou com um jantar improvisado para seis, comemos bem, falamos relativamente pouco, ficamos juntos sem precisar de muito, e mais uma noite se vai, mais um dia que não volta mais e fica, sem dúvida, para sempre.

Wednesday, June 22, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 27o dia

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 I realized today I've been back to dreaming in English, and thinking too it seems.
Today we added tree to our bunch and headed to Cabuya, Leo, our little Brooke Shields from Germany traveling Central America alone, Mike, a guy from her city she met a couple of weeks before, and Hayden, the tattooed Australian and his big SUV. We went over dry rivers and a small accident, a wry green forest and an open road of dirt leading to trails that lead to Cabuya.
Today I got into my first rock bottom break, thought was going to be worse but they were kindly smooth on the feet. All the boys were there and it looked easy enough from the outside. Well, I didn't really expect myself to go in but I did, I swam what showed to be easier than the beach break in Santa Teresa and I then found myself looking at them all there, easy faces, quiet, paddling slowly, seating back, watching the ocean pulsing, searching for the right time, the right wave.
I couldn't get any big waves, I almost dropped in on five but they all seemed they would close in and I could picture the rocks grinding at me on the bottom. I swam around for a while enjoying the moment, watching the boys in silent.
Right by the time I decided to leave a bit frustrated with my incompetence to paddle down the big ones, I finally realized I could get the middle set, a bit closer to the beach, a bit shallower but smaller waves, and even though I was already tired I made a point of going down two. I went down two waves on rock bottom.
It was a good day.

Tuesday, June 21, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 26o dia



Formei minha mini familia com os cinco surfistas que encontrei através do Dave from Florida, todos bem diversos dentre si: Martin "il principito" norueguês, nosso muleque piranha que se jogou no mundo cedo e por hora, agora aos seus 24 anos e lourice nórdica, parou nessa cidade, Ben, o italiano que vive mudando de continente de três em três meses, Matteo, o francês que já está viajando há quase um ano e meio sozinho pelo mundo e só tá começando, o próprio Dave que aparece menos porque surfa mais, e o Tom, um coroa norueguês para lá de maluco que não surfa mas volta e meia cola na gente e ainda estamos tentando decifrar, às vezes aparece o Danny, um peruano com cara de havaiano que é conhecido por ter o melhor restaurante de tacos da cidade e muitas muitas amigas...
A gente curte juntos entre sessões de surfe, dubbies e comida. Eles vão pro outside e dependendo do dia não consigo chegar lá, na fissura de mar eles entram em qualquer buraqueira.
Hoje o dia terminou sem surfe mas com a gente brincando dentro d'água, os meninos curiosos com meu madeirite. Mergulhamos, nadamos, tentaram descer algumas, mas sem pé de pato ficou difícil e por fim saíram todos da água e ficaram lá sentados na areia me assistindo pegar onda com meu brinquedo. A praia vazia, o mar revolto, só eu na água e eles ali sentados assistindo. Queria ter tirado uma foto desse momento, acho até que devo ter tirado com a minha mente para sempre.
Desci umas merrecas divertidas, eles cheering from the outside, achando tudo o máximo e eu ali pensando na doideira daquilo tudo. Eu que vim para cá para ficar sozinha, até quem sabe para aprender a surfar com prancha, termino meu dia performando jacaré onda abaixo, assistida pelo meu pequeno bando de surfbuddies, cada um na sua e todos juntos querendo aprender meu bodysurf.
Terminamos jogando frisbee e batendo uma bola para lá de ruim no por do sol que não veio mas que valeu mais a pena do que muito futebol de areia maneiro que já joguei.
O dia foi lindo. E cada vez mais, tenho achado ser feliz bem simples.

Thursday, June 16, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 19a tarde


Fui dar uma olhada nas ondas aqui na frente de casa e encontrei com o Dave from Flórida, surfista das antigas lá para os seus 50 anos que me lembra uma versão albina do Crocodilo Dundee, corpo de touro, cabelo branco até o ombro, olho azul quase de vidro, rosto enrugado do sol, pele cheia de sarda queimada e uma cara de gente boa até dizer chega. Em cidade pequena nenhum rosto é estranho.
Daí que passa um amigo de Dave a la Tarzan, barba e cabelo grande, peito de rei da selva e começamos a conversar sobre as ondas, Tarzan estava voltando do mar depois de uma hora e meia remando e as ondas fechando, não pegou nenhuma, estava cansado. Falavam que ia estar maior lá em cabuya, Dave falou que já ia com os amigos de quadriciclo, quando Tarzan respondeu que não tinha huevos pra enfrentar ondas tão grandes. Fiquei pensando nisso, eles também sentem medo. Aqueles homens enormes, preparados para gigantes e trovões, leões marítimos, sentem medo. Tarzan se foi e eu falei pro Dave da solidão de entrar sozinha no mar, respondeu dizendo como era bom olhar pra um amigo e dizer "we gonna die" para logo depois sair do perrengue rindo. Ele também pensa "we gonna die"...

Fiquei pensando nessa muralha viva, cheia de correntes e ondas surpresas, series longas, caldos mais longos ainda e esse desejo comovente de enfrentá-lo, de aprender incessantemente essa harmonia inconstante entre o medo e a conquista. 
Dave foi para Cabuya e eu fiquei mais segura por não ter medo sozinha, de saber que todos nós ali juntos e separados passamos por momentos de alerta e entrega o tempo inteiro, que o mar vai ensinando pequenas e grandes lições a cada braçada, cada mergulho, cada onda descida. Agora confortável com meu medo, me sinto mais preparada pra me jogar. (Calma, mãe, lembrando, perspectiva de semi-anã)

DIÁRIO DE VIAGEM - 19o dia

Tenho dormido com um caranguejo. Acredito ser sempre o mesmo, basta alguns segundos da porta do quarto aberta e ele volta para a mesma quina fria do banheiro, o ponho para fora antes de dormir mas na noite seguinte lá está ele no mesmo lugar, já é a quarta noite, daqui a pouco tá ganhando nome, diz o Pedro que já já eu to chamando bola de vôlei de Wilson. 
De fato passei a ter relação com as coisas, por aqui cada encontro deixa um rastro, seja com as iguanas comendo as cascas das frutas que separo para elas, com os dois cachorros perdidos que passam no fim da tarde, com o garoto local Danny e sua morey boogie ou com Silvio Berlusconi, o papagaio que vem tomar café comigo, todos são encontros que ficam. 
Não faço planos, os dias andam em aberto, malho cedo na areia num treino muito doido que descobri daqui, às vezes alongo, as vezes medito, às vezes corro, ou pego onda até dar vontade de fazer outra coisa, tem dias que tomo três cafés diferentes e almoço quando dá na telha, como peixes, frutas, sementes, grãos, óleo de coco, daqui a pouco cresce cabelo debaixo do braço (calma, não é para tanto). Vivo descalça ou de bike, sozinha para lá e para cá desvendando minhas coisinhas, quieta dentro d'Água com meu pé de pato em meio a mil surfistas.  Faço amigos queridos, nos encontramos, mas busco constantemente a solidão. Tenho gostado bastante de mim.

Wednesday, June 15, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 18o dia


Os meninos viajaram norte hoje cedo em busca de um swell que tarda em entrar, quase quis ir só por fome de estrada, mas envolvia dormir em barco pequeno e desempolguei antes de levar mais a sério a possibilidade. 
Fiquei sozinha com a casa de varanda para o mar, eu e a casa, as palmeiras, as iguanas e macacos, os esquilos, as corujas, os cachorros soltos e um milhão de caramujos. Na iminência da ausência faço novos amigos, a bicicleta vermelha com a cesta enferrujada me demanda constante calma e cuidado sob as crateras e poças de terra batida, nunca gostei de pedalada lenta, ultimamente ando adorando. Tem a rede colorida com vista para um céu de palmeiras e os livros velhos da estante deixados por antigos viajantes, tem também meu pé de pato havaiano e meu madeirite que me auxiliam no estreitamento da relação com o mar, sem eles aqui não teria passado do flerte. 
Ontem passei o dia com o oceano, dediquei a tarde a ele, entendi melhor as mudanças de cor sob o leito inconstante de verde e azul, os ciclos de tormenta e calmaria, senti mil vezes as séries passando sob a minha cabeça, eu sentada lá no fundo no chão de areia, brincando de prender o ar sem pressa, de sentir o resquício dos gigantes penteando meus cabelos com sua espuma enfurecida, eu sentada no chão, mão presa a areia, mundo marinho, conchas e peixes. 
Ontem peguei a maior onda da minha vida. Vi ela se formando enorme, verde que te quero ver, crescendo macia milimetricamente posicionada para meu corpo descer, ela me olhando dentro do olho e me chamando em sussurro. Respirei fundo no centésimo de segundo que tive para tomar coragem e fui preparada para ressaca abaixo, fui segurando o corpo firme contra sua força, e foi quando ela me mostrou com ternura sua curva mais íntima,  ela quebrando perfeita, meu braço direito para fora dela pressionando o madeirite contra seu côncavo, meu corpo sendo suavemente projetado metade para fora, eu ali de olho aberto vendo tudo, descendo alucinada o que para mim parecia um desfiladeiro macio de água salgada, eu ali planando em perfeita sintonia, dividida entre o dentro e o fora d'Água, meus dois mundos favoritos unidos em um só acontecimento, eu ali tão feliz, e assim suave como começou ela terminou. Peguei mais vinte. 
Namorei o mar até o sol se por, eu e ele lá, horas e horas em silêncio nos contando segredos, mostrando detalhes, formas e cores, o sol se pondo, meus dedos enrugando, e uma sensação de sintonia completa com esse planeta. 
(PS: calma mãe, elas eram enormes na perspectiva de uma semi-anã)

Sunday, June 12, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 16o dia (dia dos namorados)

Chove desde que as meninas foram embora, meu egocentrismo me faz acreditar que os dois eventos estão conectados.
Voltei a dormir depois do café na companhia de duas moscas e acordei suada. Lembrei do mar, do céu e me levei com pressa até a praia, me joguei de pé de pato nas marolas da beirada mas não deu em muito. Hoje o mar não estava para peixe.
A chuva voltou a cair, apesar de lá no horizonte o céu estar azul. Decidi mover minhas pernas rápido sob ondas rasas até cansar, mas me distrai com pedras semi-pirotécnicas e acabei esquecendo da chuva, da corrida, e me dediquei a elas. Catei, lavei, examinei, separei uma de mil, a praia vazia, só tinha eu. 
Voltei devagar, decupando a uma de mil  com o tato, punho cerrado, dedos devassando cada centímetro frio, quase afiada. 
Sentei com ela na areia molhada debaixo de chuva em frente de casa, nós duas ali olhando o mar, imaginando o que cada uma tinha passado (meu egocentrismo de novo falando). Nos alongamos, meditamos e quando eu estava quase indo embora, resolvemos ir juntas para casa. Amiga nova.
Essa vai comigo até a Gávea.😳❤️

DIÁRIO DE VIAGEM - 16a noite

A mudança de casa me trouxe dois amigos novos. Música folk se mistura com o som das ondas e da colher de pau em panela no fogo. Da janela da cozinha todos os tons parecem graduais de azul e verde. Spanish por favor, around here they speak English. As ondas quebram ali na frente enquanto o céu vai roseando. Dois ventiladores dançam com o vento para lá e para cá, eu gosto do som. Eles gostam de chia, linhaça e meditação. Pela manhã fazem duas horas de técnicas avançadas de respiração no estúdio de yoga vazio em cima da casa. Ouço baixinho o som da cítara saindo da caixa de som lá em cima. Espero ansiosa um convite. 
Faca na tábua, pingo de chuva, cebola que grita enquanto frita, água caindo da torneira pesada. Tommy cozinha o jantar enquanto Pol empunha o violão sem tocar, imitando comicamente seus pais filipinos. Pol é um showman zen, Tommy é mais quieto, e eu surpreendentemente falo pouco ultimamente. 

Saturday, June 11, 2016

Diário de Viagem - 15º dia

Hoje o mar acordou do avesso, maré alta logo cedo desafiando o comodismo das semelhanças, meu peito com ele embrulhou e transbordou sentimento de todas as cores. Noa se foi e com ela um bando de mundo, eles se foram e outras portas se abriram. Bateu uma tal de angústia, tristeza também, cortinas de fumaça para o medo que mora por trás da coragem, tormenta de emoções avessas, contrárias mas congruentes. 
Hoje eu mudo de casa. Eles se foram e o mundo se abre. 
Às vezes me dá um enorme aperto no peito, ainda estou tentando entender, deve ser dor do osso quando cresce, ferida que coça em processo de cura, será? 
Começo a me deparar com sensações primárias, vontades simples, desejo do anti-complexo. A viagem segue e eu sigo junto, corro e paro, nado, caminho. Vasto mundo. Vim para isso, para me encontrar com o que mora em meu peito, quiçá gasto meio diñero e fico mais tempo.


Friday, June 10, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 14º dia (meu aniversário)

E se meu peito for feito de terra batida, cerne gradual de tantos verdes, nenhuma folha é igual. E se for também feito de mar que me entrelaça em suas correntes, assolada de céu, mergulhada em brisa amarela de fim de tarde, dormindo com a chegada das estrelas, sorriso para lua de prata, luz do luar. E se cada tronco, cada pedra, cada concha for nada mais do que extensão do meu peito transbordante de ondas e estrelas do mar. E se o ar me cai melhor ali no fundo, submersa, entornada de azul e cor, desvendando mistérios aquáticos, mil léguas submarinas. E se sou na verdade isso tudo, corpo que voa em braçadas largas, teto de nuvem, raio roxo de sol tardio, já descansado, pronto para assentar qualquer nó no peito. E se o grunhido dos macacos, o canto de cada pássaro, aquele branco e azul anil que posou em meio a café e mel hoje cedo, posou ali ressabiado, me encarou dentro do olho, disse tudo em silêncio sem nem tentar, sorriu duas vezes, bicou o pão, e se jogou em céu vasto. Eu ali debruçada em maré baixa, noites quentes, ventos febris, manhãs demasiadas tempranas, dias arrastados na música lenta do balanço do mar, e eu ali, repleta de mim. Ah mar.