Saturday, January 03, 2015

Ilha Deserta

Chegar em uma ilha deserta nem sempre é tão fácil, ainda mais quando a ilha nem é tão deserta assim. 

Doze horas depois de uma van, um ônibus, duas barcas com baldeações, um taxi, um barquinho praticamente jangada em meio a ondas de sumir avião caído, e a tal ilha se revela à nossa vista. Bagagem molhada, corpo ensopado e quem ainda estampa sorriso é herói, haja jornada.

Já na saída de casa vale deixar as expectativas por lá mesmo.  Em jornada longa, qualquer jornada aliás, só anda para frente quem se adapta - é outra gente, outra cultura, outro tempo - decifra-te ou te devora. 

Viajar a dois é uma aventura, mergulho um no outro e mais ainda em si próprio. Cada dia um desafio novo se apresenta e lá vem obstáculo. É na desavença que o amor se esconde, vem no cuidado redobrado com as palavras, no carinho mesmo em meio a frustrações e raivinhas menores, vem no abraço como limite pro desgaste, vem no silêncio. Viajar a dois é se encontrar mil vezes, se desencontrar algumas, se conhecer mais a fundo e se amar mesmo assim, mais ainda. 

Chegar numa ilha (semi) deserta é ter afinal atravessado o mar, é se atravessar e chegar ao lado oposto do nós mesmos, é sair da nossa mente pequena, nossa casinha, nosso bairrinho, nossas picuinhas trabalhistas, e se abrir ao mundo lá fora pulsando estrangeiro. 

Viajar é assim, a gente pensa que se joga no mundo mas é o mundo que se joga na gente.