Saturday, June 25, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 29o dia

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Passei a noite estreitando meu relacionamento com um mosquito. Acordei seca de tanto sangue chupado, ele voando baixo, gordito que nem um cabrito bem mamado. Considerei matá-lo mas deixei ele em paz, cada um com seus fardos.
Levantei meio lenta, provavelmente fraca, coitada, depois de tão singela doação sanguínea.
Pela manhã o vento batia mais forte na praia, corria com pressa sob a areia. Fui entrando passo a passo na água, bem devagar, areia mexida no mar transparente formando reflexo de nuvem, espelho do céu. Entrei deixando a água subir molhando cada centímetro sem pressa. Fiquei ali submersa sentindo a corrente, pés ainda tocando o chão. Fiquei ali toda toda, achando que era uma boa hora para escrever poesia na mente. E de repente, não mais que de repente, senti o mar me sugar para o fundo como se fosse descer ralo abaixo, toda água sendo puxada da praia mar adentro, força monumental do que me parecia um mini tsunami, meu corpo lutando com esforço contra corrente sem a mínima chance de me segurar. Havia chegado a série do dia, e eu bem ali no coração da tormenta. Consciente da minha impotência, larguei o corpo na tentativa de guardar energia e deixei me levar. Eu de repente já lá no fundo, mar revolto, fúria de titãn. Lembra, não se desespere, lembra. Relaxei o corpo, olhei para os possíveis caminhos, vi três ondas grandes se juntando à beira de formar uma só a poucos metros da minha cabeça, me joguei junto adelante por baixo de toda sua força, me empurrando na sua inércia de movimento e em meio a muita espuma e explosão, comecei a voltar, precisei de mais três para chegar até algum chão. Foi puxado, literalmente.
Sai do mar de peito aberto, e rabo entre as pernas. Todo dia uma lição.