Saturday, July 28, 2012

Melancolia

Hoje a tal melancolia me assolou. Acordei e fiquei ali deitada com meus botões, tantos botões descosturados que trouxe na gaveta amarela do meu passado. Acordei e segurei cada um na palma da minha mão, sentindo a textura do antigo, temperatura resguardada a contragosto, contra toda dispersão desse presente de tanto vislumbre; deslumbre. E agora com esse deslumbramento assentado, pés mais fincados no chão, começo a palpar um certo entendimento ainda sutil da importância de tudo que ficou para trás.

Afinal o luto.

Assisti Na Estrada e a solidão do descobrir, do se jogar, reacendeu tantas velas apagadas pelo vento da novidade, desse Rio oceânico, desse mar que não canso de nadar. Afinal assumo a falta de tudo que havia esquecido, daquela Los Angeles de sonho e solidão, dos amigos-família que construí e escolhi tão seletamente, falta da grandiosidade Hollywoodiana e suas estruturas dinâmicas e perfeitamente funcionais de trabalho, falta dos omeletes do Le Pain, das Ales da Alehouse, dos vinhos do The Other Room, dos jantares caseiros geniais, sofisticados sem frufru e festas dançantes em casas incríveis de nem sempre conhecidos. Hoje senti falta do que foi tão difícil construir por lá e tão abruptamente abandonado, até hoje não tinha me tocado, tocado a tal ficha que persistia em não cair. Aqui distraída nesse Rio de sexo, suor e champanhe, cidade maravilhosa que eu não canso de me apaixonar a cada despertar da manhã, cada pedalada sem compromisso, a cada grão de areia que meu pé pisa, corre, afunda e se entrega a essa tal simplicidade carioca de saber aproveitar. Não me canso de olhar para tudo e cada coisa, cada qual, cada quem, de reaprender a andar nesse rebolado malandroso, arteiro e prazeroso.

Senti falta daqui, e como senti, mas hoje sei que sou sim da tal “third culture kids”, filhos de múltiplas culturas que nunca param de pertencer a uma e sentir saudades da outra, nesse sobreposto de identidades opostas e ainda assim congruentes. Hoje sou mais carioca e ainda americana, ainda com a mão suada num desejo imenso de me des-cobrir e aprender. Me jogo nesse novo ainda um pouco chocada pela velocidade dos movimentos, desse presente que me assolou quase sem prenúncio, mas jamais beirando medo do que está por vir.

Hoje acordei assustada e gratificada pela minha coragem de viver e não ter a vergonha de ser feliz. E mesmo na melancolia, como sou feliz...