Friday, June 10, 2016

DIÁRIO DE VIAGEM - 14º dia (meu aniversário)

E se meu peito for feito de terra batida, cerne gradual de tantos verdes, nenhuma folha é igual. E se for também feito de mar que me entrelaça em suas correntes, assolada de céu, mergulhada em brisa amarela de fim de tarde, dormindo com a chegada das estrelas, sorriso para lua de prata, luz do luar. E se cada tronco, cada pedra, cada concha for nada mais do que extensão do meu peito transbordante de ondas e estrelas do mar. E se o ar me cai melhor ali no fundo, submersa, entornada de azul e cor, desvendando mistérios aquáticos, mil léguas submarinas. E se sou na verdade isso tudo, corpo que voa em braçadas largas, teto de nuvem, raio roxo de sol tardio, já descansado, pronto para assentar qualquer nó no peito. E se o grunhido dos macacos, o canto de cada pássaro, aquele branco e azul anil que posou em meio a café e mel hoje cedo, posou ali ressabiado, me encarou dentro do olho, disse tudo em silêncio sem nem tentar, sorriu duas vezes, bicou o pão, e se jogou em céu vasto. Eu ali debruçada em maré baixa, noites quentes, ventos febris, manhãs demasiadas tempranas, dias arrastados na música lenta do balanço do mar, e eu ali, repleta de mim. Ah mar.