Thursday, January 12, 2006

O Tal do Ciume...

Sempre gostei de uma torturinha, normalmente mais ativamente, porém as vezes dou uma desviada para a passividade. Ultimamente criei o péssimo hábito de futucar casa de marimbondo. Curiosa sempre fui, sempre quis procurar caixinhas antigas com as cartinhas de ex-namoradas, sempre imaginei entrar de gaiata no e-mail do namorado e ver tudo que tá rolando, sempre quis olhar as ultimas chamadas no telefone, mas a parte boa é que nunca olhei, quer dizer quase nunca né, mas nunca foi uma missão, sempre foi um desaviso da ocasião que me largou ali frente a frente com o terreno inimigo, e por ironia do destino, sozinha. Mesmo assim fiz boas escolhas, e na grande maioria das vezes, nao fui em frente, deixei o celular/e-mail/carteira quietinhos lá na deles.

Porém há duas semanas atrás tive um pequeno surto.

Começou numa noite em casa, sentada no sofá com meu “namorido”, em que lembrei de checar meu e-mail. Entrei no escritório desavisada e o e-mail do namo estava lá, arreganhado, todo sedutor querendo ser lido. Inicialmente nem pensei, botei o mouse no Xzinho vermelho e já estava à beira de fechar a página quando de relance notei um nome indesejado. Imediatamente senti um frio na barriga, fiquei ali parada com o tal do nome me encarando, todo desafiador, eu ainda batalhei, tentei dar uma de "tá olhando o que?" e virar as costas mas ele veio por trás e me cutucou. Ainda fiquei naquela "encaro ou nao encaro", meio que revivendo aquela sensação de estar para ser assaltada e nao saber se corro ou me faço de valente. Enfim, a curiosidade matou o gato, resolvi encarar e sai entrando, abri o e-mail sem pena já pronta para montar o “arm-lock", suando e a cada frase ficando mais confusa e tensa. O e-mail era curto, era da ex-namorada que o deixou para trás e agora com ciuminho da namorada nova (eu), tentava de alguma forma ser querida de novo, bom, na verdade essa foi minha interpretação.

Interpretção eh a raiz do ciúme, tudo depende da perspectiva escolhida. A maioria das mulheres que conheço tem uma imaginação pra lá de fértil, basta uns dois atrasos seguidos e algumas ligações “suspeitas” lá vão elas à criar fábulas de um caso secreto, dali tudo vira pista, qualquer atividade nao explicada se torna mais uma peça do quebra-cabeça, até que em algum momento a realidade vem à tona, e na maioria das vezes elas estão completamente erradas. Junto com a “quebrada de cara” vem uma vergonhinha da própria loucura.

A verdade é que o tal do e-mail nao dizia quase nada, num dia de sol poderia querer dizer nada mais do que um vínculo natural entre duas pessoas que um dia se gostaram, porém num dia de chuva poderia querer dizer que eles vinham se comunicando com planos secretos de talvez se verem, poderia dizer que eles mantinham contato amigável numa tentativa inconsciente (ou ateh consciente) de reencontro, e num dia de tempestade, poderia querer dizer até, que não só eles já vinham se vendo, como desenvolveram um código secreto de comunicação, no caso um dia eu virasse a neurótica que obviamente naquele momento me tornei.

O tal do e-mail veio de surpresa, a verdade é que eu estava no melhor da relação, morando junto lindamente, mas do que nunca segura e feliz. O e-mail foi minha auto-armadilha.

Fiquei quieta por um tempo, revoltada em não saber que eles vinham se falando; fiquei obcecada, neurótica, quis chorar; fiquei traída, insegura, triste pela cumplicidade dos dois; fiquei mais suada ainda e quis perguntar, brigar, terminar; quis futricar tudo, ver todos os e-mails dos ultimos 5 meses, quis procurar a tal da caixinhas de cartas antigas, quis invadir geral: telefone/carteira/gavetas/cabeca, quis saber tudo e quis tanto que me assustei com a minha própria neurose.

Quieta com minha mente pensei nos meus e-mails, na minha caixinha, no meu celular, e quanto mais pensava mas sem graça ficava. Pensei na motivação por trás dos tais e-mails, ligações, e até olhares, pensei na epífane que tive em torno dos meus 20 anos quando depois de um namorado neurótico entendi que não há como controlar vontade alheia. Pensei em tudo que naquele momento esqueci e violei.

Do ponto de vista monogâmico que escolhi para meus relacionamentos, sei a essa altura do campeonato, e sabemos todos (?), que ciúme saudável é natural, há sempre uma sensação de posse quando há um "contrato" de exclusividade e até os mais “não tô nem ai” tem momentos inseguros. Descobri há muito tempo que a minha insegurança nao determina as escolhas de namorado nenhum, e que controle só serve para desgastar. Mas mais que tudo isso, sei que o ser humano é parte flerte e puro flerte, que vontade “dá e passa”, que é natural (e espero que sempre seja) uma certa puladinha de muro inocente (pessoalmente, nao tô falando de sexo, beijo…), é saudavel desejar outros mesmo quando já temos um, é natural brincar de trocar e-mails “inocentes” sem plano nenhum de encontro, é natural esse testar do amor, essa brincadeira com o próprio gostar.

Sentada sozinha no escritório, num momento pós surto neurótico, surgiu em mim um amor adulto, pacífico, acolhedor, surgiu uma calma e uma profunda auto segurança. Após meus talvez nem 15 minutos de intenso sufoco, voltei para sala com uma cara engracada, de quem comeu e não contou, abracei o Chris com mais braço, mais abraço e deitada em seu colo esqueci do tal do ciúme.