Monday, January 16, 2006

De Gente Boa o Inferno Tah Cheio

Eu olhando nos olhos da amizade, oh primatinha para ser dificil...


Primeiro foi Dianinha Caçadora, 6 dias grudadas no Havai, paraiso perfeito para uma viagem que quase nao acontecia, e de repente lá eramos duas, sentadas nas areias de Pipeline, amigas como sempre, íntimas como se 3 anos nem houvessem passado, fumando nosso baseadinho e contando estórias que nem boi durmiria se ouvisse.

Quatro dias depois, Manu pula de trás da cortina e lá vem ela, cabelos longos, toda morena, toda linda, toda Manu. Naquele abração primeiro, depois de tantos anos sem se ver ao vivo, guardada ela como imagem sólida no pensamento e muita voz no telefone, letrinhas no MSN, Manu me abraça e uma estranha sensação de casa, de pátria me assola. Jogada alí em nosso abraço apertado, reconheço o cheiro de Manu como reconheço a textura das palmas de minha mãe.

Dois encontros que, nem se eu rezasse, eu teria fé o bastante para pedir. Mas Deus, que de quando em vez ouve até as preces mais silenciosas, me mandou minhas amigas de presente de natal, mandou nelas as sete ondinhas dos desejos de ano novo e hoje me bateu que eu tenho que sair do trabalho e botar umas flores no mar para agradecer toda essa simpatia.

Ultimamente os desencontros vem fazendo mais parte da minha vida do que a tal da arte do encontro, e já cansada as vezes padeço calada com minha solidão norte-americana. Hoje, ainda transbordando com os pequenos encontros a mim proporcionados nesse início de ano, flutuo nessa alegria e também na memória da vida no Brasil, memória das amizades sólidas que lá deixei e dos encontros furtivos do dia a dia, que hoje ganham mais valor do que nunca. Sento aqui com meu machismo, besta com a estupidez da achologia de que só homem não dá valor ao que tem...papinho furado que só, sou eu mulher e hoje, vivendo tão longe, aprendi a verdadeiramente valorizar minha família e ainda mais meus amigos.

Tenho vida atual, tenho um namorado realmente maravilhoso, tenho nossa casita linda, tenho emprego que paga as contas e um estilo de vida que nao posso reclamar, mas com meus três melhores amigos nessa America contados nos dedos, e cativados com todo o carinho e zelo que amizade merece, vivo a me perguntar onde mora o círculo das grandes amizades.

Conheci tantas pessoas desde que cheguei e diferentes grupos que faço parte, criei amizades íntimas, algumas não tão sinceras que morreram como brotaram, outras que perduram belas; criei tantos "amiguitos", daqueles de ir para festa/praia/jantares; criei confidentes e queridos, mas a verdade é que nao conheci mais do que três pessoas que quero levar para vida, há sempre uma escassez de afinidade profunda com as pessoas que conheci.

Não basta ser gente boa para ser amigo, meu pai sabiamente diz que "de gente boa o inferno tá cheio". Para ser irmão tem que ser mais que bom coração, tem que haver uma afinidade de interesses, um ponto de encontro nos estilos e humor por mais diferentes que cada um seja, e mais do que tudo, nao há para mim intensa amizade sem profunda admiração pelo outro. Acho que desde que cheguei aqui, nao conheci mais do que as tais três pessoas que admiro.

No início me enchi de conhecidos e com o tempo, a cada dia me tornei mais seletiva. Não preciso de amizade raza fantasiada de melhor amiga, só para tapar buraco. Meu namo vive dizendo que eu devia dar mais oportunidade para as pessoas que conheco...ele ainda nao me entendeu, nao entendeu do que sou feita, nao entendeu que nao quero amizade Hollywood, nem espero tirar leite de pedra. A gente sempre sabe quem é colega e quem tem aquele algo mais que combina com nosso jeito particular de encarar esse mundo. Não trago para casa mas amiguinhos, tenho as ruas para encontrá-los, nao me confidencio com colegas, e nao considero amigo para vida se não tiver liberdade e afinidade para trocar reflexão, pensamento, questão e não só fofoca divertida. Foi mal, mas sem cultura, sem reflexão, sem interesse por algo mais que o dia a dia, nao tem graça que desperte em mim amizade.

Tô procurando nos lugares errados.