Monday, August 14, 2023

Espanhol x2

Transbordava dois amores. Tomada por dois furacões em colapso, rodopiava com o rufar dos tambores internos, espalhada na vastidão do sentir, do transbordar o que vai além da escolha. Não ocupavam o mesmo espaço, habitavam diferentes cantos. Era paralelo. Mexiam com coisas distintas dentro dela. Entre a fúria do orgasmo e do sonho, do agora e do possível para depois, do que ia além. Se fosse pelo racional, sabia qual escolher, mas a química gritava pros dois lados. Se compartia em desejos inversos e tão semelhantes. No entanto não havia cabo de guerra, divisão, apenas duas paixões a atravessando como as listras de uma zebra, entrecortada por polos opostos. Um o avesso do outro e ainda assim com a língua em comum. Talvez a culpa fosse do espanhol.

 

De um lado o que estava ali e não estava, o sólido que escorre entre os dedos, arenoso, difícil de juntar na mão. Um homem gigante como um tronco, potente como um cavalo, volátil como um menino. Um sexo selvagem. Um encontro orgástico e cheio de poesia. Arriscado, indeciso, perigoso. Do outro lado um homem enorme por dentro e grande por fora, louco e maduro, sério e divertido, entusiasmado. Um sexo doce e cheio de sonho. De um lado o aqui complicado, do outro o mundo lá longe simples. Mas o longe é sempre mais simples do que o real. 

 

O de lá não conheço os defeitos. Os daqui eu já conheço alguns. E os meus?

 

Deixa o Santiago ir embora. Empurra ele para longe do peito. Armadilha do caminho, repetição. Já morei nesse lugar. Já conheço esse homem. Esse pacote da salvação. Do carregar nas cotas e jogar para frente o outro enquanto ralento meu passo, saio do trilho e me perco no outro ao invés de me encontrar mais ainda em mim. Acalma esse coração, essa fome do mesmo, quantos meninos eu preciso para saciar minha fome adolescente do bonito. Da conquista. Da revanche. Da vingança do meu ego de menina feia. Vira adulta. Busca outro belo no outro. Me deixar ser comovida pelo que me transforma e não por como transformo o outro. Corre. Dá um salto largo e pula o muro para terreno fértil. Quero voar ou quero afundar?