Sunday, August 27, 2023

PIXELS

Se soltou do abraço e atravessou o céu um bando. Desenhou um triângulo entre três continentes com sua rota pelas nuvens. Ela, lá no primeiro ponto do desenho, voando alto sem sair do lugar. Ainda assim pulsavam juntos um tambor que só bate dentro do peito. Dançavam um baile entre corpos longínquos, juntos mesmo de longe. Bastava fechar os olhos, mesmo de olhos abertos, para se abraçarem no escuro das memórias que se reinventam em retratos de um possível futuro. Lembrar era imaginar lembranças novas ainda nem se quer vividas e que, quiçá, jamais serão. Ainda assim, valia a pena sonhar. No fundo, era inevitável. Foi o que sobrou daquele breve grande enlace, a química que move mares internos sem painel de controle, apenas dois barcos que adentram o mar sem jamais precipitar que podem vir a desejar um porto em comum. E quem controla pensamento se não o afeto dos desejos?

 

Te vejo navegar por terras distantes. Assisto curiosa fragmentos de você por ondas de satélite que saem de mim até o céu, chegando em você, e vice versa – amor pixelado até o próximo abraço. Quando te penso ouço a frequência das ondas da nossa música tocando ao fundo em uma rádio que só nós ouvimos, músicas que ainda nem escutamos. Há sem dúvida uma longa distância, mas nem tanto entre os pensamentos.