Um frasco pequeno de vidro duplo
Espesso
E ainda assim delicado
Uma garrafinha colorida
Transparente
Feita de múltiplas camadas de diferentes espessuras
Basta olhar com atenção que o conteúdo se revela
Ainda assim, a imensidão se contém no pequeno espaço que lhe cabe
Mera película do universo comprimido parede a dentro
Transbordado palavras fraseadas gargalo à fora
Não se aperta com força
Não se coloca em prateleira
Não se completa com outro líquido
Não se esvazia
Ela é inteira
Mesmo às vezes despedaçada
Só quebra quando acaba
Uma garrafa cheia de mensagens escritas
E tantas outras secretas embutidas no silêncio ruidoso de seu turbilhão
Se perde para se encontrar
Afunda e emerge mais cheia
Uma garrafa que não nada sozinha
Conversa com marés
Se assola de céu
Mergulha nos ventos
É tomada por chuvas
Se entrelaça com o todo em sua dança com o gradual das tantas cores dos dias
Cada olhar a lê conforme sua lente
Seu teor só ela sabe
Só ela transmuta seu invisível impalpável
Em novo de novo
Uma garrafa auto reciclável
Segue seu baile
Reluz brilho por mares distantes
Atravessa tormentas e plenitudes
Aporta em certas costas
Se abstendo de olhares foscos e solos secos
Uma garrafa
Aberta pra leitura
Fechada pro consumo