Sunday, October 15, 2023

Abraço

Abre os braços bem largos, expande o peito além do limite, rasga o cerne ao meio e deixa caber mais. Deixa as extremidades se esticarem pro mundo e abraça o céu, as estrelas, a porra toda. Respira fundo o entorno, absorve o que te comove e anda junto. Sabe aquele lugar que sorri dentro da gente e pulsa por inteiro a abundância do sentir? É um botão que a gente aperta num canto de si e que desperta o que dorme lento nos dias anuviados da mente. Uma lente. Um jeito de olhar para tudo e qualquer coisa e deixar que os sentidos toquem o mundo com dedos de pétala. Tudo são flores, mais ainda os espinhos que apontam o contraponto das escolhas desalinhadas com o que pode ser bom. Qual o sentido das coisas se não nos tocar? Se transforma com o ar como o vento voa em correntes quentes e frias, as marés altas e baixas e suas correntezas indicando o sentido dos caminhos. Não nada contra. Não se afoga. Não se afoba. De sempre só o hoje. De eterno só o agora. De tudo só a vazio que a gente vai preenchendo com a gente que a gente cria em si e no encontro com o outro. E se o outro não é só alguém, é tudo, as plantas, as águas, as coisas, a temperatura e textura do dia, noite, madrugadas à dentro peito à fora; se nos relacionamos com tudo e todos o tempo todo e o silêncio é só a ausência de voz humana externa, porque a interna quase nunca para, nem dormindo, nem sonhando; se o silêncio é só o barulho ruidoso dos detalhes invisíveis que quase nunca prestamos atenção, o pequeno ronco do infinito que mora em cada segundo, cada escolha, onde fica a paz se não na habilidade do encontro com o sublime? A solidão é barulhenta, a gente que escolhe a música numaa dança com os movimentos internos.  Em que frequência você toca?