Tuesday, March 14, 2017

Minotauro

Eu vi nos seus olhos, lá no fundo de um mar de verde, ilha negra de pupila, ponto preto em céu azul. Eu voei sob as nuvens cinzas e brancas que planam lentas dentre tanta cor que mora lá dentro. Eu te olhei e te vi em cada sorriso largo que escapa dos seus lábios, lagos e desfiladeiros de alegria esparramada nas curvas do contorno dos seus olhos quando você ri. Eu escorreguei em tobogãs nos arcos das suas sobrancelhas negras e nadei no oceano castanho do teu cabelo, eu rolei nas dunas íngrimes das suas mechas, mergulhei nos nuances do seu cada olhar e no jeito enfático que você mexe a cabeça quando afirma algo com suas certezas. Eu flutuei milhas distantes no teu cheiro e me perdi em tantas pintas e manchas, eu corri montanhas, escalei suas costas, desvendei trilhas e túneis no seu peito e descobri mundos secretos plenos do ouro mais lindo. Eu olhei e te vi por trás das suas cortinas, vi o cerne do núcleo do que mora lá dentro e era doce como um beijo longo. Eu te vi lá dentro e me rendi aos seus braços e abraços tantos, mornos, quentes, inteiros entrelaços. Eu te vi homem minotauro, forte como um touro, te ouvi sólido com voz que vibra e ecoa nos cantos mais requintados dos  meus recantos.  Você desliza suas mãos pelos meus caminhos sem pressa, desvenda esquinas e becos, penetra meus segredos mais íntimos e derrete na minha boca. Você dança nas minhas coxas, surfa meu bumbum e joga pique e pega no meu corpo todo e inteiro, milímetro por milimetro, destrinchando barreiras, atravessando rios em jangadas de lambidas e amor ao pé do ouvido. E era só para te dizer isso, que eu te olho e te vejo lá dentro, vejo ternura, transborde de afeto, te vejo gigante, pura doçura.