Monday, March 13, 2017

Fila de Banco

Eu aqui jogando meu sudoku na fila infinita da caixa econômica, tive a sorte de fazer amizade, à contragosto, com Dona Zélia, uma faxineira cearense sessentona para lá de retada. Eu tentava me concentrar quando ela chamou minha atenção para o ódio que tem de mulé que vem para o banco com marido, "dá vontade de dá logo uma facada. Sai para lá jaburu, me deixa" disse ela, "odeio homi me perseguindo para lá e para cá. Credo! Minha patroa aqui do Leblon, toda bem cuidada, fica dando mole prum mané de vinte cinco que tá lá só mamando nas tetas, sabe quantos anos ela tem, tem sessenta, toda linda e pagando despesa de garotão, onde já se viu?" 
"Não é fácil, não" respondi, "mas sabe como é, Dona Zélia, cada encontro tem suas moedas de troca."
"Ih, minha filha, essa moeda aí só dá prejuízo, prefiro no rotativo!" 
Ela espera na fila ressabiada, comentando todos os pormenores de quem chega e sai com pérola atras de pérola, até que ela manda, "eu quero é sentar o cu na cadeirinha daquela caixa alí ó, sapatão. Adoro sapatão! Resolvem tudo com a marra do homi mas a compreensão da mulé." E com essa a sapatão a chamou com um olhar enviezado e um sorriso meia-boca. Tem dia que eu adoro fila.