Wednesday, February 08, 2017

Egos

Saindo de uma preparação de elenco agora, pedi um isqueiro para um grupo de três pessoas na porta de um estúdio, um deles me perguntou se eu era atriz e eu falei que era assistente de direção, ele deu um grito e falou muito feliz "não acredito que um assistente de direção está falando comigo", eu surpresa respondi "como assim, qual a diferença entre a gente?" Ele disse "ué, você é uma assistente de direção e eu um figurante e você está me olhando no olho e sendo gentil", eu respondi que não via as coisas assim, éramos ali dois humanos em uma situação corriqueira, que meu nome era Chica e perguntando o dele, fiz a devida apresentação de beijinho e abraço e deixei ele abrindo meu maior sorriso enquanto ele ainda comentava animado com os amigos a excitação da nossa interação. Saí dali pensando muito no abismo humano que o poderio gera sob as relações profissionais. Saí pensando em uma cultura de status e cargos hierárquicos que eu não consigo jamais compreender por esse ângulo, se não somente pela logística de uma operação organizacional que precisa de líderes e não tiranos.
Eu particularmente amo muito a figuração, tenho zelo e apego pela dedicação e amor que eles trazem todo dia ao set, ainda mais se respeitados e olhados com atenção, sei o quão são capazes de se entregar e se concentrar, e isso se estende à toda equipe.
Espero ansiosa por um dia que isso não acontecerá mais nesse meio, que não só os assistentes mas todo e qualquer cargo tiver a humildade de entender que todos choramos, amamos, cagamos, e nada nos separa nem de outros humanos, nem dos animais, nem da natureza. Um mundo em que de fato entendemos que somos todos um só, e que a gentileza e humildade permeiem todas as relações, especialmente as hierárquicas. Mesmo porque nada como uma troca sincera de carinho, mesmo que furtivo, para criar em meio a nossa batalha diária um momento de amor.