Friday, June 06, 2014

Um Dia Pro Outro

O dia amanheceu anuviado, vento de lado em crista de onda, corrente puxando pro sul. Ainda era cedo às seis mas não sobrava azul, só cinza do peito para fora,  cinzas céu adentro. Hoje de manhã só vi rosto triste pela rua, velhos calados com suas enfermeiras, casais sem mão dada, criança birrenta dentre pedras portuguesas, atleta com frio demais para entrar na água. Hoje ninguém se jogou na manhã sem peso que engole, cada um afogado em solidão e pão na chapa, tristeza ecoando pelas esquinas de Copacabana, Ipanema, Leblon, orla inundada em angústia e mágoa.  E não ouvi passarinho nenhum, nem gaivota veio dançar com o ar, só uns pombinhos cagando baldes em cabeças cheias de vazio. Hoje de manhã o ar estava quente e o dia transbordando desamparo, jornal esvoaçava notícias ao léo, bicicleta sem roda parada no poste abandonada, nem o café quente calou o frio, quem se importa, o que importa, enquanto o sol não vem, melhor guardar dia para madrugada.

Enquanto isso, galáxia a fora,


Ontem a lua deitada grávida sussurrou para noite sonhos longos, estrelas cadentes rolando em suas bochechas, contou pros sete ventos histórias de noites escuras, longas demais, noites que insistiam em não amanhecer, seguravam o sol pela rédea, preso em armadilha pro dia, não haveria tarde, só noites em seu gradual do azul escurecendo universo adentro, buraco negro. Ontem a noite a lua amarela gritou pros quatro cantos em silêncio, falou com meteoros, galáxias siderais, anéis planetários segredos intergalácticos que só ela guardava dos dias em que esperava o sol descer para subir, e todo mundo ouviu em meio a universo estático, parado em suspenso por um, dois, milhões de segundos perdidos letra a letra desperdiçada boca a fora daquela lua agora cinzenta, em meio a uma única nuvem fina, quase cenográfica, quem botou você ai? Gritaram lá do fundo. E o dia amarrado, pulsava ansioso por vir a tona rosa, amarelo, laranja, rasgar o céu a fora, correr pro abraço, esbanjar verde e azul em cada mar, banhar as montanhas com luz, dar sombra de presente para árvore. Não era tarde, já vinha a tarde, mais tarde, era só questão de tempo.