Sunday, June 09, 2013

Paraquedas

Dizia que paixão era palavra pesada demais, alegórica, flerte com o fantástico, disse que é bom de amar, isso sabe, “ama muitas mulheres” falou chegando num posto de gasolina numa meia noite carioca, horário de abóbora, mas eu falava de paixão mesmo, vontade de mais histórias, mais memórias, mais encontro, encanto em meio a gozo e risada, e não digo feitiço, aí não vale, não conta, castelo de areia, atalho pra lugar nenhum, não falo de começar já do topo, sem tropeçar em pedrinha nem escalar pedregulho, sem achar as frestas certas pro tamanho do dedo, falo de encanto arrastado, de conhecer cada pinta primeiro, de saber a cor do castanho do teu olho de cor, de entender o calor abafado que seu corpo sopra, de ter te querido tanto com tudo antes de poder entender a fundo teu profundo. Te conheço aos poucos muito, ritmo ralentado, intervalos longos e doses homeopáticas cavalares de pele, de língua, suor, chuva que escorreu do seu rosto em curva cinza cheia de esquinas em que a gente não entrou em nenhuma, seguimos reto, em frente, para frente, seguimos, enquanto pingo grosso escorria da sua mão e pingava na minha assim de longe, sem encostar por que mão ainda é ruim de dar, mas dá outras coisas vai, sabe que ele dá, dá assim sem jeito, meio travado, contrariado, dizendo que não sabe fazer o que mais sabe, que não sabe tocar, conversar, interagir e para mim parece que sabe tanto, tudo. Pediu desculpas hoje a tarde e eu ri assim comigo, ri pensando na peça pregada, na realidade que nos foi apresentada, momento turbilhão, olho de furacão aí e eu aqui em maré baixa, vendo de longe seu tudo tão difícil e querendo chegar junto. Deixa que vento sopra e maré leva tudo pro seu devido lugar.