Sunday, May 05, 2013

A Parede


Onze e quarenta e oito e os minutos não cessavam, se arrastavam em segundos, sessenta deles, compassados. Onze e quarenta e nove e mais um baseado, calcinha desfiada renda rosa choque, buraco pequeno escapando da encruzilhada da costura, e a medalha de ouro no peito.

Onze e cinquenta e uma moeda corria entre seus dedos com destreza, circundava o entorno e parava no fim. 

Ele nunca parava no fim, parava muito antes, nem chegava ao meio. Ele de calça na cama, meia colorida listrada, copo de água gelada no chão. 

Ele acende um cigarro, e ressabiado, vai para janela.

Onze e cinquenta e um e baseado apertado. Ela olha pro céu nublado e procura estrela. 

Ela vai para janela.

Ele sopra fumaça.

Ela acende.

Ele olha pro lado.

Ela para frente.

Ele a vê, perfil prata de lua.

Ela lambe o indicador e o polegar e circunda o beck com saliva.

Ele olha com cuidado, quer ver os dois olhos virados para ele.

Ela olha pro lado. Leva um susto, mas não esconde o baseado. 

Ela ri.

Ele ri.

Eles se olham por mil segundos em um só. 

Eles ficam parados.

Ela olha para frente rindo, olha para ele rápido, faz oi com a cabeça e mergulha de volta no quarto.

Ele espera três, cinco, dez segundos. Ele amassa a bituca com força no cinzeiro de vidro, bebe o copo inteiro d’água e volta para cama.

Ela no quarto ainda taquicardiaca.

Ele sozinho na cama ainda em seu prateado.

Ela dormiu mal.

Ele dormiu bem. Homem tende.

De manhã ela pulou da cama e olhou pela janela, se debruçou para ver por dentro, mas cortina fechada não deixava rastro.

Foi no domingo, ela entrou e virou pro espelho – quem será que tava ali hoje, se preparou – foi quando a grade do elevador já em movimento voltou atrás e deixou a porta abrir de novo.  

Ele entrou e levou susto.

Nela subiu foi frio na espinha, gota de suor escorreu da mão.

Os dois se olharam. 

Sorriram. 

Abaixaram a cabeça. 

Se olharam. 

Sorriram. 

Abaixaram a cabeça. 

Os dois sorriram olhando para baixo sem levantar a cabeça, e a grade se abriu de supetão, era o terceiro andar, uma porta dois destinos.

Duas portas. 

Cada um para sua. 

Ela na frente. 

Ele ao lado.

Naquele instante antes da chave virar, os dois se olharam e o ar sumiu. 

Ela entrou e fechou a porta.

Deixa para lá.