Tuesday, November 05, 2024

Para Sempre

Vejo o para sempre no teu olhar. Achei que tinha deixado na primeira infância, na mochila de sonhos que pesou nas minhas costas quando fui esquecida na escola. Foi mais tarde, na faculdade, depois no primeiro casamento, e nos tantos desencontros que foram esvaziando o torpor juvenil do final feliz. Mas em teus braços reviro novos jeitos de amar. Esparramada em seu corpo, desvendamos taras, brincadeiras eróticas, recito pornografias entornadas junto. Temos inventado rituais de cópula. Nariz, dente, umbigo, orelha, a curva do joelho, tudo vibra, tudo pulsa. Eu jorro, me abro, te dou a meu segredo e deixo rouxinol cantar poesias antigas de anseios caretas. Já te pedi em casamento. Outro dia falei em aliança. É que essa que uso comigo se expirou. Redespertei sonho de seguir caminho juntos. Tinha trancado esse desejo num cofre. Distribuí panfletos sobre independência, autossuficiência e todo aquele papo que criei por cansaço mesmo, ou por achar que não cabia no modelo do que dura até o infinito, só no infinito enquanto dure. Balela. Programava o fim para fugir de conceitos herdados, dizia eu. No fundo me protegia do desejo profundo de acreditar no amor. Contigo eu acredito.