Saturday, April 06, 2024

SALTO

É da ordem do salto, das coisas que vão além. Me deparo contigo e me redescubro. No teu olhar me re-conheço. Não é trivial. Não sabia mais se ainda viveria isso, não sei se já vivi. Não vivi, não desse jeito. Havia perdido a esperança no futuro, me convencido do só por hoje, aceitado o destino e parado de me alinhar com o que guardo em segredo. Me convenci do discurso que criei para me defender. Era só discurso. É porque é difícil sonhar. Talvez o descrédito do que não poderia mais ser tenha erguido muralhas – minha expectativa era o erro. Me induzi o quanto pude a um afastamento do que reservo de mais íntimo. Te reduzi aos meus preconceitos. Cheguei armada e venho tendo que me encarar através da gente, isso me assusta. Hoje você disse que havia esquecido de como sonhar, que acreditar era difícil demais. Eu fiquei confusa. Senti que tinha me jogado justo por ter sentido em você seu desejo de amor, de já estar me amando, para só depois me dar conta que mesmo supostamente “casados” você hesita a se entregar – ainda precisa conversar consigo se é possível regar a ideia de futuro. Havia me contado do conforto da sua solidão e o desconforto da felicidade, mas por tudo que somos juntos, mesmo em tão pouco tempo, achei que você já tinha entrado. Sei que não é tão fácil assim, seu medo é maior. Se a minha máscara é força, o seu recurso é a placidez. Eu titubeio. Achava que seu peito já tinha dado um passo largo e mergulhado na gente, mas ver temor em seus olhos me assustou. Fiquei com receio de ter deixado o sonho escapar da boca e virar desejo antes de você ter certeza de poder sonhar junto. Não quero sonhar sozinha.