Saturday, April 13, 2024

Mata Virgem

Se relacionar é a arte de se desprender de si e se reencontrar através do outro. Dá trabalho botar o coração na roda e baixar a guarda. É que o outro é diferente da gente e só isso já assusta. Quanto mais instaurado em si, pior – não dá para entrar na roda e querer se manter o mesmo, a coisa te gira e revira num bailar de frequências distintas onde nada é constância. Se relacionar demanda a quebra de um bando de certezas e muita autocrítica para se convocar a crescer junto. Se focar no que afasta, e tudo pode ser motivo, se perde. Já se entregando para o que aproxima, pro que eleva e transforma, a tendência é a transcendência. É desconfortante mesmo confortando. Mas quem quer ser sempre igual? Quem não quer amor? Dizem que o mundo é dos fortes, talvez seja mesmo dos que se permitem ser frágeis. Amar é um ato de coragem: há de se expor e se dispor a se desvendar. Se deixar vir à tona. E assim como tudo é luz e sombra, o obscuro tá incluído no pacote, não tem como correr dos revezes – os traumas, o medo, os modos emergem medindo a coragem. Há de se baixar as cercas, abrir a porteira e seguir o chamado; deixar o outro entrar na gente e entrar no outro, dispostos a se embrenhar em mata virgem sem mapa com destino certo. É sempre novo. É sempre diferente. Dá um medo danado. Tá com medo, vai com medo mesmo.