Tuesday, July 04, 2023

Sequóia

  Se deu ali no primeiro grave da tua voz, mesmo tom da armadura que protege suas mãos, tão denso quanto terno, tão doce quanto sólido. Fui conhecendo a música de sua história em mensagens de áudio, adentrando sem pressa as curvas da sua trajetória sem nem ainda ter experimentado seu olhar batendo no meu. Quis tocar sua textura com os olhos e ver se fazia tanto sentido ao vivo quanto em som. Você ali, do outro lado da rua, dois metros de humano acenando por trás das mesas de um bar. Te observei de soslaio já na cadeira ao meu lado tomada pela química silenciosa da proximidade estrangeira de nossos corpos. Veio seu riso, sua gira, sua brisa e fui te curtindo mais ainda do que a espessura de seu som. Depois me liquefiz em seus lábios e senti entre as pernas o melado do desejo, sem anseio de nada mais além do transborde do que pode, sem importar o amanhã, o depois. Quis te importar pro meu adentro e ver onde dava. Já desnuda com seu peso sobre o meu, te olhei olho largo e vi em seu rosto duas janelas castanho-caramelo, cruzei o portal da superfície e me deparei do outro lado com mergulho profundo por terras distantes. Me derramei sob as linhas dos tantos anéis do tempo desenhados nos cortes do seu tronco e encarei de frente a opulência do seu porte, sentinela de pradarias, descampados, florestas encantadas. Te abracei árvore rija de raízes finas, trama esparramada em teias que não precisa de solo firme para se expandir pelo espaço. Senti a vastidão do seu peito aberto voar alto, desgarrado em saltos de asas largas mundo à dentro. Passei meus dedos finos sobre suas cicatrizes, mil podas de galhos secos que expandem cerne de semente nua. Você cru e inteiro ali na minha cama. Pisei contigo em barro, afundamos os pés em lama fresca, dançamos na chuva, deslizamos sem pressa no escorrega erótico de um parque de diversão de adulto, nos descarrilhamos, lambuzei meu todo em brinquedo novo. Me deixei maravilhar pela luz que atravessa sua fronda sem medo de uma sombra sequer – sei me carregar sem alarde pelo âmago dos abismos com a coragem de quem sempre atravessa. Te observo de fora e vejo imensidão.