Wednesday, October 14, 2020

Sus

Movida pela proximidade, mas sobretudo pelas saudades das Sus, resolvi tomar um segundo café da manhã na Rio Lisboa. Já cheguei sendo bullinada, zoaram minha magreza, falaram que eu tava que nem Bruna Marquezine, beirando a anorexia e que os carboidratos processados da padaria estavam me fazendo tanta falta quanto a presença delas. Tentei me defender, sem sucesso, “desce mais uma tapioca com ovo”, mas me fizeram dar voltinha, apertaram meus detalhes, perguntaram o peso, que aliás continua o mesmo, “magra de ruim, essa diaba.” Sueny sempre bem informada pelo tal do “Fofocalizando” que agora virou “Triturando”, contou sobre o mundo flex dos galãs de novela, comentou a possível volta da Xuxa para Globo, os últimos detalhes de uma separação pública do mundo sertanejo enquanto Suzana ouvia se fazendo de desinteressada, com a usual cara de deboche, não sem deixar de complementar as fofocas com o que sabia – menos que Sueny sempre, crítica ferrenha dos pormenores do entretenimento. Sueny gosta de novelas turcas do You Tube dubladas em espanhol, descobriu que por lá eles comem legumes com chá no café da manhã e homem não toca em mulher, ao contrário da libertinagem do reality da TV de Cristo que até beijo gay envolveu. Suzana é mais descrente do glamour, com seu senso crítico afinado, prefere debochar da burguesia passante enquanto Marlene gargalha lá do caixa, falando toda cocota que tá na flor de idade, Sueny não perdoa e a chama de Dona redonda, todas gargalham. As duas apertaram minha bunda, eu as delas, gritaram “sai, capeta!” pra coroa tentando se engraçar com piadinha, sentaram junto pro café e ali em uma breve parada no antigo quintal, janela aberta para cozinha luso carioca onde tantos encontros furtivos eu costumava ter pré-quarentena, tantas conversas sem pressa ao balanço da fumaça do café preto. Saudades da vida normal.