Sunday, October 18, 2020

Aguenta

Tudo enorme. A cara, o cheiro, o jeito de mover a mão, a mão. Tudo grande. O que passa no peito, o que invade a mente de um bando de sonho gigante. Calma, calma. Aguenta. Mas segura o salto. Tateia. Constrói pedrinha por pedrinha, ara o solo. Já vi tudo isso. Já senti isso antes. Já mergulhei de cabeça, cai de boca e me afoguei tantas vezes no desencanto do desejo esvaecido. Já fui embora vezes demais, já enjoei, impliquei, me cansei de tudo. E ao mesmo tempo insisti tanto para viver isso, busquei tanto isso e exatamente isso, já orei por esse modo de encontro, briguei, insisti, tentei mostrar o valor que tem, quando o valor chega, me assusta. Resisto como vi resistirem à esse meu jeito entregue e me vejo de fora para dentro. Me assusto com o que sempre quis ao olhar para o que quero se dando por inteiro, num ato covarde de não aguentar o bom. Vira o disco e faz diferente. Muda. Olho para o todo e cada detalhe, e tudo ressona. Tudo em você tem a ver, tudo bate, tudo é. E ainda assim busco defeitos, procuro os buracos, persigo rachaduras. Calma. Respira. Aguenta