Thursday, November 30, 2017

Sobre os Prazeres

Voltei pro Rio em 2012 depois de dez anos direto para a praia no Coqueirão e de imediato me descobri forasteira em minha própria terra. A praia havia parado na mesma faixa etária de quando fui embora, pós-adolescentes  dourados flertando e jogando altinho em meio à muita fumaça e água de coco. Sentada numa cadeira de praia enferrujada, entendi rapidamente que ia precisar de novos mundos justo dentro daquele mundo antes tão íntimo e de repente tão estrangeiro. Fiz da bicicleta prateada melhor amiga e saia todo dia pedalando pela cercania em busca de novos pertencimentos. Foi na Padaria Rio Lisboa que achei a primeira casa. Da cadeira de madeira regada à café preto e mil pãezinhos na chapa, admirava da juventude torneada à velhice bem cuidada do Leblon e escrevia crônicas imaginárias. Ali conheci as “Su(s)”, garçonetes legendarias que me cuidam feito filha e senti que tudo estava começando a fazer sentido. De bicicleta, corria do pontão do Leblon ao Leme toda manhã e assim fui descobrindo meus cantos, o Fellini e seu kilo milionário com gosto de comida caseira, as noites quentes no Sushimar do BG e seus garçons maravilhosos que não só cuidam de mim como contam fofocas indiscretas e espionam o que me interessa sem eu jamais ter pedido, a Rose, colorista do Werner que atura minha loucura e replica as técnicas capilares que eu trouxe lá de fora com maestria e um sorriso doce. E assim descobri minha praia, meus cantos, novos amigos e novas comidas, mas a bicicleta prateada um dia foi roubada e botou aquele pertencimento todo à perder. Fiquei deprimida com a violência e invasão, jururu e amedrontada, havia desacostumado. Mas de quebra, um mês depois no aniversário, ganhei foi duas dos amigos tão queridos, o que encheu meu coração.

Sexta passada caí do meu xodó, pedalava rápido na ciclovia quando um gari distraído enfiou a vassoura na minha roda e eu voei alto até bater no meio-fio. Durante a queda, lembro de no início achar que ainda ia dar para pedalar até o Leme, mas na medida que ia sendo arrastada contra o asfalto pela inércia do movimento entendia que o buraco era mais embaixo, ou no caso mais fundo. Quando tudo parou, eu só chorava, assustada com o susto e com agonia do sangue. Não desmaiei, apesar da minha frescura para machucado, mas fiquei ali arrasada pensando que meus prazeres teriam que parar por tempo indeterminado. Hoje faz uma semana. Passei essas manhãs vazias pensando o quanto o lazer traz o prazer e a força que o que nos dá bem-estar tem na nossa vida. Hoje busquei a bicicleta reparada no mecânico e estou aqui na Rio Lisboa, com meu pão na chapa e café preto, lembrando que felicidade mora nas coisas pequenas e que não importa o lugar, sempre vou encontrar pertencimento. Eu moro no meu peito.