Friday, April 26, 2013

Playground


Zelo, zelo, zelo, veio na mensagem aquele dia, ele parou frente à tela cibernética e assustado, correu parado, lhe faltou palavra, resposta, ar, se deparou com o que não tinha nem tido nem tinha para dar. Zelo, que zelo, tá maluca? Eu lá fui zelado para zelar? Mas era ainda cedo e não sabia, cabia tanto mais em seu peito, resistia, o mundão tinha lhe ensinado que era cada um por si, olho por olho e dente por dente, andara montanhas e desertos sem mão para dar.  Cresceu desperdiçado do afeto, foi treinado assim, fecha esse peito, menino, aguenta pancada, não adianta chorar. No seu play brincava sozinho, dentre saltos de capoeira e ímpetos musicais, olhava com seus olhos pequeninos mundo para lá de vasto, milhões de caminhos sem placa, sem indicação, pisava passo pós passo sem saber onde ia dar. E assim o mundo foi lhe adotando, professores, mentores, mães, irmãs – nenhum pai – foi indo por onde ia, como podia, mochila nas costas, universo em seu plexo solar. Acordou uma manhã homem grande, mão áspera de tambor e terra,  olhar que penetra mas não se entrega, sorriso vestígio do infantil - janela para aquele menino que ainda se resguardava lá dentro. Era assim, inteiro e travado, um passo para frente dois para trás, desconfiado, não entrava em jogo se não fosse para ganhar. Acreditava que já havia perdido tudo o que podia, mexe aqui não, não posso bobear. Enquanto eu de longe olhava, achando que se esquecesse tudo que havia desaprendido e descobrisse o tal do zelar, se depararia com o mais fino de si, lindeza pura, brisa em seu mar.