Monday, April 22, 2013

A Menina Dança


Olho no olho, meu rosto afundado no teu, seu cheiro dentro do meu, mergulho em segredo do fundo mais fundo, me agarro com garras, nó de marinheiro, me empunho em areia movediça, afundo, há fundo, ah fundo... cavo com mãos, dedos, unhas e dentes, arranho teu profundo, descubro onde começa tua raiz, te rego, me entrego à seiva de árvore tua, cascalho de madeira dura, madura, compensada em desejos descompensados, repassados em presente que queria mais ter passado, mais ter te beijado e mergulhado em cada pinta do teu rosto, à gosto, novembro que te quero ver nu, braços em entrelaços e corpo aberto pro meu abraço, minhas mãos, meus seios, meu anseio de tudo que esconde por trás desse sorriso que rasga momento em fragmento de memória viva, que nem água-viva queimando em silêncio, sem pressa, sem receio e me deixa ali, ardendo sozinha, corpo que vibra, que pulsa, num impulso de me jogar em saltos mortais no desfiladeiro do teu escuro, daquilo que você guarda para si e compartilha só com espelho, reflexo do que cabe em teu plexo mas que se esconde aos olhos mornos, só compartilha metade do que tá dentro daí, deixa cair, joga para cá, se põe na minha mira, deixa tudo para lá. Esquece do método, reflexo, formato, modo ou modal do que já foi, faz tudo novo, sem de novo, de outro jeito, sem trejeito nem subterfugio, sem refúgio, põe na minha roda que a menina dança, vem comigo dançar.