Sunday, July 21, 2024

Micro Contos

CURSO ANDREA DEL FUEGO
(Exercícios de micro contos):

- As palavras bateram como um soco. Subiu na bicicleta e se esvaziou pelas pernas.


- Pros céus, pediu um abraço, um vira-lata ouviu e se sentou ao seu lado.

 

1º exercício - FOTO Monte Vênus em erupção:


• Abriu o zíper, rasgou a pele. A fissura arregaçou cratera, fogo explodiu da boca.

 

• Uma lágrima quadrada ressecada em pedra rolou bochecha abaixo. Congelou estátua de medusa. No chão, seus cacos.

  

• Uma faísca que nem mar aberto apaga.

 

2º exercício - FOTO casal assistindo a casa pegar fogo.

 

• Não sobrou nada do antes, já eram outros. 

 

• Se contemplo o fogo, ela foge, se corro, ela fica. E se formos juntos?

 

• Só deu tempo de assistir o fogo apagar o resto da gente.

 

3º exercício – VIDEO: homem andando debaixo de chuva pela noite de uma cidade vazia

 

• O céu sapateava pingo no teto do meu guarda-chuva. Por todo lado cimento. Eu alagado em meus pensamentos. 

 

 A cidade grande ecoa o vazio. Um trem racha a noite ao meio. Eu transbordo abismos enquanto desvio das minhas poças.

 

4º exercício - FOTO em preto e branco: idosos de um vilarejo se aglomeram curiosos para assistir algo que acontece fora do quadro 

 

• A curiosidade matou o gato.

 

 Um grito. O estampido seco do tiro ensurdeceu a tarde. A festa parou. Entre o medo e a curiosidade, escolheram o espalhafato.

 

• Não queriam saber tanto. Só o bastante.

 

5º exercício FOTO mulher colada num espelho olhando pro próprio reflexo

 

• Eu me olho e ecoo, coo, ou, oh.

 

• De perto só vejo o fundo.

 

Rotina

Tenho passado meus dias em silêncio comigo –– eu, o computador, a mesa de madeira e todo céu que entorna a varanda. Ando na compulsão do transe da escrita. Nem sempre consigo me exercitar nas manhãs. Ultimamente minha relação mais íntima é com as palavras, passo horas e horas submersa nelas. Só paro quando a barriga grita, algumas horas passadas do limite da fome. Meu apetite maior é pela trama que agora afino com olhos de lince e coração de leão. A história tem o mar como pano de fundo. Venho nadando no desenrolar dos arcos. Reservo a noite pros encontros, mas volta e meia desmarco porque a cabeça chega frita no fim de tarde. Ainda assim, preciso dos amigos, dos amores, das distrações porque a costura das palavras escritas é densa. Viajo pelas tantas galáxias que residem em minha mente –– me emociono, às vezes caio em prantos, rio muito também, solto gargalhada. Descubro trajetos longos, sem atalhos, até o centro do meu buraco negro. Desvendo segredos que nem eu sabia que tinha. Estou tomada pelo entrelace da memória com a ficção, jornada intensa por terras férteis. Nos intervalos, uso a música para me esvaziar um pouco, para me jogar em outras melodias. Danço pela sala até restabelecer o fôlego para o próximo mergulho. O primeiro livro tem cento e noventa páginas, esse tá com duzentas e sessenta e quatro, mas só no fim vou saber o tamanho. Se revisar o primeiro foi um sufoco pelo conteúdo violento da trama, revisar o segundo envolve mais prazer do que o esperado, ainda assim me reviro do avesso e termino cada dia diferente de quem eu era quando despertei. Escrever é esculpir pedra bruta, revisar é polir as arestas. 

Friday, July 05, 2024

O Futuro à Zeus Pertence

Não precisa ser para sempre. Precisa ser só hoje muito. Amanhã, mera consequência.