Friday, March 22, 2024

Mar Azul

Who are you? Já ali, anos atrás, em uma manhã perdida no tempo, ficou uma impressão. Um marco sútil da sintonia do encontro. Sentado à mesa (busco na mente e acho que vestia uma camisa marrom), te assisti presente, ainda assim com um resto de chuva no olhar. Não lembro tanto das palavras trocadas, nem se quer do ano em que foi, mas lembro do seu jeito curioso, do modo como sua mão se movia, dos dedos brutos, do olhar doce, de sua maneira íntegra de ser e estar. Te vi terno, como se sua poesia irrompesse pelas frestas. Havia algo triste em você – pousou no meu peito o sussurro do mundo abaixo da sua superfície azul. Não cabia me aprofundar. Eu era uma das partes da sua matéria. Não havia clima ou flerte algum, mas no esbarrar dos corpos que atravessam nossos trilhos existe algo que se harmoniza só com alguns, a gente não escolhe. Naquele breve momento, não escolhi, e sobrou essa sensação quase pueril de alguém além do qualquer. 

 

Não sabia que tinha te guardado num lugar esquecido de uma esquina do Leblon assentada na memória. Muitos anos passaram até seu nome voltar em interrogação. Te li em palavras digitalizadas e lembrei de um sorriso seu em meio à nossa troca. Naquele dia não gargalhamos, não nos perguntamos nada senão o formal. Cada um tinha sua história. Agora, anos depois, sua escrita trouxe seu sorriso de volta. Não te conheço. Não sei nada além dessa impressão, o que também não quer dizer muito. Mas deu vontade de tentar descobrir. 

 

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.”