Thursday, March 13, 2014

Deixa

Há cinco semanas eu não ligo o rádio do carro, sigo em riste, mão no volante, olhos vidrados no trânsito, seu rosto clicando em flashes na minha frente, eu ainda sonhando – sou muito mais pensar em você. Sei cada detalhe dos seus detalhes, quantos fios tem o teu cabelo, quantos cílios moram nos teus olhos, quantos pelos vivem na sua sobrancelha. Sei cada imperfeição dos seus dentes, cada riacho que corre nas mil linhas da tua boca, e cada sua montanha, onda, penhasco – e não sei nem nada ainda, nem comecei.

Eu sei bem também das nossas diferenças desde daquela segunda tarde, não só o que você me contou, que já bateu, já doeu, já não doeu, e se dissolveu na relevância do que realmente importa, mas sei também do que mora além das palavras, no nosso silêncio, as coisas que não precisam ser ditas para serem notadas. Sei do mundo que te escolheu e do que você escolheu para si, desse abismo entre nossas ambições. Você diz para não pensarmos sobre isso enquanto põe o tema sobre a mesa de jantar, você diz para vivermos no presente enquanto quem questiona o nosso longo prazo são essas sinapses dentro da sua cabeça grande, você diz que não quer viver a mesma história enquanto ensaia a mesma discussão antiga com uma mulher nova, as vezes parece que você fica se convencendo que é de menos para nós dois, e sem perceber, deu para tentar me convencer. Para vai. Por Favor. Para tudo. Eu sei de tudo isso, claro que sei, sei de tudo tanto e nada tanto importa.

Eu te escolho além das nossas escolhas, escolho por que você me faz feliz, porque você me acolhe, e me faz ser mais terna, mais calma, é tão doce isso tudo que me faz querer compartilhar meu dia a dia contigo, minha vida, até minha comida! E bem na mentalidade do drogado “só por hoje”, deixa o futuro pros adivinhos e me faz feliz só essa manhã, só essa tarde, só essa noite e a gente vai assim, dia após dia, escolhendo um ao outro para o resto dos dias. O resto é resto.