Thursday, June 03, 2010

Carta para Marla

Marla,

Descobri seu blog ontem e pirei. Em meio de dia esquisito, cabeça nublada com possibilidade de chuvas escassas, te encontrei cibernética e mudei de cor. Abri suas páginas e mergulhei até segurar as pedrinhas no fundo. Te li mais e mais e me joguei no abismo das suas intensidades. Eu aqui despatriada do meu português, despreparada enquanto transbordando palavras inglesas e espanholas ainda adolescentes que habitam meus desertos mais áridos, me esbarro contigo na esquina da vida e me desencontro para depois me reencontrar.

Fiquei ali abismada, cheia de sensações, em uma mistura de inveja-branca e ciúminho feliz por todas as palavras que você escreveu e não eu, das suas frases não terem de mim saído. Fiquei ali admirando e querendo te saber mais, te conhecer mais, te descobrir. Senti saudades dos meus amigos nesse Brasil, dessa falta de vergonha de falar, de sentir, de viver. Te li mais e pensei em como é que nossos mundos nunca se justapuseram, aí descobri que você só chegou no meu Rio (e o tenho como propriedade sem nenhuma falsa humildade) quando eu já havia me jogado no mar. Marzão de muitas línguas e eventuais mordidas da tal da solidão e esbarrando contigo reacendi esse dia de hoje esquisito, sombra de chama que já virava cinza.

Descobri essa mulher no outro lado do mundo que de imediato quis amizade. Te li uma história atrás da outra e fiquei faminta por minhas próprias palavras. Te abri e quis mais de mim, saindo de tristeza espreguiçada e de repente transbordando em inspiração.

E agora aqui de longe sem saber quem você é, fiquei achando que a gente é amigo dos mesmos amigos, dos mesmos encontros. Compartilhando aqui contigo o meu mundo de palavras tão pequeninhas esquecidas na caixinha de jóias que eu deixei no Brasil, e achando que é tudo besteira quando em face da sua habilidade, fico quietinha, tímida da minha escrita, achando que nada é bom o bastante.

Mas sobretudo, como é lindo encontrar alguém tão distante que mesmo sem presença, só com palavras, inspira tanto e des-cobre meu entusiasmo ainda que em silêncio. E por causa de você, eu quero ler mais, escrever mais, viver mais, eu quero ser mais.

Obrigada

Francisca Libertad


*O site da Marla
www.doidademarluquices.blogspot.com