Thursday, April 16, 2009

Ultra-Passado

Miguel. Road, Salgado. Doce, muito doce. Memória que não apaga nem depois de dezesseis anos passados. Passado que volta e meia escorrega no presente e voa embora de novo sem notícias de retorno. Menino que viveu em segredo até aquela noite que eu o vi atrás da minha porta, queimado, pretinho, olho brilhando, cachinhos cheios de idéias fumegantes dentro de cabeça brilhante. Miguel que foi meu primeiro grande amor. Amor contra corrente que esperou o tempo certo, esperou, persistiu, insistiu, mas que acabou por ser a hora errada. Nunca foi a nossa hora. Miguel de tantos encontros desencontrados, de tantas estórias. Haja história. Miguel que cresceu, casou, deu cria. Miguel que virou homem do outro lado do mundo em que eu vim a virar mulher. E eu daqui, saindo de um namoro e já quase que caindo em outro, guardando o coração sem querer o dar desavisado, eu depois das minhas tantas viagens e estórias ainda tenho você guardado em alguma gaveta em mim. E no meio de dia apertado me deparo com sua foto, filha no colo e me choco com como memória pode ter cheiro, gosto, textura. Te olho aí, cheio de presente e vejo como o passado é antigo. Ultrapassado. Te olho de longe e fico feliz pelo teu caminho. Contemplo sua vida e sorrio imaginando seu momento. Te deixo ir embora da cabeça sem antes deixar de te escrever esse pequeno tributo a sua importância em mim. Não sei se o tempo vai levar, se a vida vai desenrolar, degringolar, mas a verdade é que de tempo e tempo me deparo contigo e nunca é vazio. Sento aqui na minha mesa ao som de Novos Baianos e a menina dança, deixa a menina dançar.