Saturday, September 09, 2006

HUmanos

E se toda dor acabar por doer igual, e se toda lágrima tiver o mesmo gosto, e por mais diversas que sejam as razões, todo sofrimento em sua raiz for irmamente semelhante?

E se ao menos no desespero formos todos iguais, e a dor é os que nos une?

E se for assim, pensando bem, qualquer sentimento é simplesmente o mesmo, independente de quem sente, seja dor seja felicidade. Eu te amo e outras estórias.

Todo ser humano é então igual em sua raiz.

Ontem sentindo um desespero ensurdecedor, e uma dor que parecia não ter saída, dúvida imensa de que algo jamais poderia se consolidar, sentindo esse medo que beira a desistência, e deixando todas as certezas derreterem em borbulhas rasas; ontem achando que não haviam mais opções, e mesmo lutando contra esses dois buracos em meu rosto que insistiam em virar rio; ontem, quando me deixei convencer que a minha auto misericórdia era então mais forte do que tudo que sempre soube (e sei) sobre mim, e que sentir pena de mim mesmo era por hora a única opção, ontem me entendi mais humana.

E pela primeira vez não houve mais a arrogância de me achar especial, melhor, pior, diferente. Ontem esqueci tudo que acreditava saber e descobri que somos iguais. Iguais não no âmbito das vontades e personalidades, e sim iguais no âmago das sensações, no desespero do sentir.

E pela primeira vez olhei para um mendigo no olho e perguntei o que ele sentia, óbvio que ele balbuciou que eu era louca e se eu não tinha um trocado não, não entendeu coitado que ali eu o tinha como irmão de espécie, pronta para ouvir e me identificar a fundo com suas dores e delícias.

Ontem desisti, segui em frente e fingi que nunca descobri que não tem qualidade que nos difere no sentir, fingi que não sei que somos todos humanos.