Tuesday, May 21, 2024

Amparo

Te escrevo mais essa carta extensa, explícita demais. Sem beirar qualquer capacidade de concisão, te peço paciência com a minha forma de me expressar. Te escrevo para te dizer que sei que você se dispõe a nosso favor. Vejo o quanto você se desdobra para caber na gente. Não menosprezo o valor desses pequenos grandes atos tão difíceis para você. Seria injusto dizer que você não se move em nossa direção. Ainda assim, te peço um, dois, alguns abraços. Te prometo que eles caem melhor do que soam. É aquela história do pai que dá uma bicicleta no aniversário, mas não consegue dar um afago –– cada coisa tem um valor distinto. E a bicicleta não era um pedido torto disfarçado do intuito de me entreter te entretendo, não era um interesse mal expressado, era só mais uma busca de te apresentar um repertório novo de felicidade. É porque gosto de te ver surpreso com o barato que é brincar, que nem na manhã em que você ficou mais tempo na cama antes do café e disse estar começando a entender essa história de curtir as coisas. E, às vezes, quando estou triste, irritada, nervosa –– assim como massagear teu pé é um bom caminho para acalentar seu coração congelado –– um abraço tende a ser o atalho mais rápido para o meu amparo. Se um dia eu evitar te olhar nos olhos, me dá a mão e me puxa (com delicadeza) para o seu peito; cola seu corpo no meu que minha vibração vira do avesso e eu volto a curtir a vida adoidado. Então é isso, eu aprecio profundamente seus saltos, suas doações, seus atos de amor, amo toda vez que te vejo vindo, mesmo assim te peço para me convidar a pousar nesse peito sólido para que eu possa descansar um pouquinho essa suposta força que todo mundo vê e que acabam esquecendo da proporção direta com a minha necessidade de ser abraçada também. Me ampara daí, que eu te amparo daqui e a gente vai andando juntos, de mãos dadas, como der.