Onze e
quarenta e oito e os minutos não cessavam, se arrastavam em segundos, sessenta
deles, compassados. Onze e quarenta e nove e mais um baseado, calcinha desfiada renda
rosa choque, buraco pequeno escapando da encruzilhada da costura, e a
medalha de ouro no peito.
Onze e
cinquenta e uma moeda corria entre seus dedos com destreza, circundava o
entorno e parava no fim.
Ele nunca parava no fim, parava muito antes, nem chegava ao meio. Ele de calça na cama, meia colorida listrada, copo de água gelada no
chão.
Ele acende um cigarro, e ressabiado, vai para janela.
Ele acende um cigarro, e ressabiado, vai para janela.
Onze e
cinquenta e um e baseado apertado. Ela olha pro céu nublado e procura estrela.
Ela vai para janela.
Ele sopra fumaça.
Ela acende.
Ele olha
pro lado.
Ela para
frente.
Ele a vê,
perfil prata de lua.
Ela lambe o
indicador e o polegar e circunda o beck com saliva.
Ele olha
com cuidado, quer ver os dois olhos virados para ele.
Ela olha
pro lado. Leva um susto, mas não esconde o baseado.
Ela ri.
Ele ri.
Eles se
olham por mil segundos em um só.
Eles ficam parados.
Ela olha
para frente rindo, olha para ele rápido, faz oi com a cabeça e mergulha de
volta no quarto.
Ele espera
três, cinco, dez segundos. Ele amassa a bituca com força no cinzeiro de vidro,
bebe o copo inteiro d’água e volta para cama.
Ela no
quarto ainda taquicardiaca.
Ele sozinho
na cama ainda em seu prateado.
Ela dormiu
mal.
Ele dormiu
bem. Homem tende.
De manhã ela
pulou da cama e olhou pela janela, se debruçou para ver por dentro, mas cortina
fechada não deixava rastro.
Foi no
domingo, ela entrou e virou pro espelho – quem será que tava ali hoje, se preparou
– foi quando a grade do elevador já em movimento voltou atrás e deixou a
porta abrir de novo.
Ele entrou
e levou susto.
Nela subiu
foi frio na espinha, gota de suor escorreu da mão.
Os dois se
olharam.
Sorriram.
Abaixaram a cabeça.
Se olharam.
Sorriram.
Abaixaram a cabeça.
Os dois sorriram olhando para baixo sem levantar a cabeça, e a grade se abriu de supetão, era o terceiro andar, uma porta dois destinos.
Duas
portas.
Cada um para sua.
Ela na frente.
Ele ao lado.
Naquele instante
antes da chave virar, os dois se olharam e o ar sumiu.
Ela entrou e fechou a porta.
Deixa para
lá.