Vejo o para sempre no teu olhar. Achei que tinha deixado na primeira infância, na mochila de sonhos que pesou nas minhas costas quando fui esquecida na escola. Foi mais tarde, na faculdade, no primeiro casamento, nos tantos desencontros que foram esvaziando o torpor juvenil do final feliz. Mas em teus braços reviro adolescente, descubro novos jeitos de amar. Esparramada em seu corpo, desvendo taras intricadas, brincadeiras eróticas, recito pornografias que entornamos juntos. Temos inventado rituais de cópula. Nariz, dente, umbigo, orelha, a curva do joelho, tudo vibra, tudo pulsa, eu jorro, me abro toda, te dou a bunda e deixo rouxinol cantar poesias antigas de anseios caretas. Já te pedi em casamento. Outro dia falei em aliança. É que essa que eu uso ficou com gosto de expirada. Redespertei sonho esquecido, aquela história de formar família e seguir caminho juntos. Tinha escondido esse desejo num cofre. Distribuí panfletos sobre independência, autossuficiência e todo aquele papo que criei por cansaço mesmo, ou por achar que não cabia no modelo do que dura até o infinito, só no infinito enquanto dure. Balela. Programava o fim para fugir dos conceitos herdados, dizia eu. No fundo me protegia do anseio profundo de acreditar no amor. Contigo eu acredito.