Era para eu ser recatada, mas desde pequena já adorava ver os piruzinhos dos meninos. Nos intervalos das brincadeiras, chamava escondido pro canto e pedia para colocar a mão. Não tinha pornografia no desejo, era mais curiosidade mesmo e uma coceirinha na piriquita que deixava tudo quente. Crescer cercada de menino me deixava agitada, os amiguinhos do seu tio-avô querendo brincar de carrinho e eu chamando para debaixo da cama. A mamãe sabia, o papai fingia que não via, mas volta e meia me pegava aprontando e descia surra de cinto. Eu não me importava. Não à toa fui gostar de palmada — virava a bunda e pedia mais pro meu namoradinho. Aí veio aquela história de noivado, eu aceitei já sabendo que no altar eu não subia. Deixei eles acreditarem que eu tinha me rendido, mas no fundo sonhava com o bordel. Queria ser vedete, rapariga, a vizinha devassa, queria ser amante. Eles ansiando moralidade e eu aspirando ser puta. Sempre fui fascinada pela profissão. Ser paga por sexo parecia um sonho. Foi no primeiro bêbado desdentado que eu entendi que não era bem assim. Mas não deixei de gostar. Aprendi a botar a cara de outro no rosto de um e transava com meu imaginário. Aí veio o seu avô e meus planos foram por água abaixo. Ele parecia aquele homem sério, todo pomposo, mas na cama ele me pegava pela rédea e eu relinchava que nem potra no cio. Quando percebi, já era tarde. Desejei ser esposa a contragosto das minhas taras de devassa. Ele não era bobo, sabia de onde eu vinha, me jogava pro alto e me rasgava no meio — nosso quarto era regado de erotismo. Logo veio a sua mãe e, quando vi, estava fazendo empadão na cozinha de ladrilhos verdes que seu avô construiu com as próprias mãos. Logo eu, que me considerava libertária, acabei refém da minha própria caretice. Não posso reclamar. Fui feliz de outro jeito.